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Nicolás Maduro enfrenta escassez e inflação na Venezuela

A Venezuela tem uma inflação de 54%, que os analistas explicam, sobretudo, pela elevada emissão de moeda. Embora as exportações de petróleo tenham aportado 93 bilhões de dólares em 2012

Agência France-Presse
postado em 13/11/2013 20:57
As reduções compulsivas dos preços e os planos de limitar lucros comerciais na Venezuela preocupam analistas, que duvidam da eficácia das medidas do presidente Nicolás Maduro, que a três semanas de cruciais eleições municipais, se autodenominou "presidente justiceiro".

"O que vai acontecer é que a escassez vai se aprofundar porque, nas lojas, as mercadorias acabarão e (elas) terão problemas para repô-las porque são obrigadas a vender seus produtos a um preço abaixo da realidade", disse à AFP o economista José Guerra.

A Venezuela tem uma inflação de 54%, que os analistas explicam, sobretudo, pela elevada emissão de moeda. Embora as exportações de petróleo tenham aportado 93 bilhões de dólares em 2012, o país tinha escassez de divisas devido às crescentes importações de produtos básicos (alimentos inclusive).

Guerra também questiona as medidas para neutralizar a inflação, pois não estão atacando o setor dos alimentos, "o grande causador do alto índice" inflacionário, aponta. O índice de escassez foi de 22,4% em outubro.

Maduro define a situação atual como uma guerra econômica por parte dos Estados Unidos e da burguesia e critica quem denomina "os parasitas burgueses", a quem responsabiliza pelos preços injustificados em produtos comprados com dólares baratos distribuídos pelo governo.

O presidente também decidiu bloquear os sites que divulgam a cotação do "dólar negro", mais de oito vezes o valor do dólar oficial.



"Nova ordem econômica"

As medidas buscam instaurar uma "nova ordem econômica interna", afirma Maduro, cuja luta pelo controle dos preços inclui aparelhos eletrônicos, vestimentas, brinquedos e automóveis, entre outros setores, todos artigos de maior demanda na época anterior ao natal, que este ano coincide com as eleições municipais de 8 de dezembro.

A oposição, derrotada por 1,49 ponto percentual nas eleições presidenciais que se seguiram este ano à morte de Hugo Chávez, apresenta estas eleições como um plebiscito da gestão de Maduro.

Nesse âmbito, o presidente, que espera a aprovação pela Assembleia Nacional de uma solicitação de superpoderes para governar por decreto por um ano, prometeu ampliar os controles de preços a toda cadeia produtiva.

Víctor Maldonado, diretor executivo da Câmara de Comércio de Caracas, alertou que muitas das cadeias quebrarão.

Na Venezuela, o dólar é cotado oficialmente a 6,30 bolívares, mas muitos comerciantes e importadores argumentam que, diante da falta de divisas, devem pagar suas importações com dólares comprados no mercado negro, onde a cotação supera entre oito e nove vezes o valor oficial.

Se as lojas são "obrigadas a vender abaixo do custo atual e se, além disso, devem devolver o dinheiro de um suposto preço especulativo, será impossível para muitas delas poder se recuperar", disse Maldonado citado pelo jornal Últimas Notícias.

No entanto, o deputado governista da Assembleia Nacional, Andrés Eloy Méndez, negou que a regulação afete o mercado e afirmou que o governo "continuará protegendo o salário dos venezuelanos com medidas que lhes permitam adquirir bens e serviços a preços justos".

O valor dos votos

Para o analista Luis Vicente León, diretor da consultoria Datanálisis, as medidas adotadas pelo Executivo buscam contornar a necessidade de captar o voto chavista nas eleições municipais.

"Estamos no meio de uma campanha econômica do governo que está dirigida mais para captar votos que resolver os problemas reais", explicou León à AFP.

O especialista estima que o governo "ataca as consequências e não as causas" da crise econômica, que são a supervalorização do bolívar, o congelamento de preços em certos setores e a baixa produtividade das empresas expropriadas pelo chavismo.

"Se ficarmos no plano das causas, nos damos conta que há especuladores que se aproveitaram de uma taxa de câmbio supervalorizada e é difícil parar isso", acrescentou León.

Após os anúncios de quedas, centenas de pessoas se estaperam em algumas lojas, gerando saques isolados em várias partes do país. As autoridades detiveram 35 pessoas, segundo a promotoria.

Os analistas insistem há semanas que a Venezuela deverá desvalorizar o bolívar devido às pressões cambiais e a necessidade de manter o gigantesco aparato estatal criado pelo chavismo.

Contudo, o ministro das Finanças, Nelson Merentes, reiterou nesta quarta-feira que a taxa de câmbio oficial não será modificada, ao apresentar as premissas do orçamento 2014 ante à comissão de Finanças da Assembleia Nacional.

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