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Desigualdade e crime organizado são motores da corrupção na América Latina

A Venezuela continua sendo um dos países onde a corrupção é mais vista, seguida por Paraguai, Honduras ou Guatemala

Agência France-Presse
postado em 03/12/2013 12:55
Berlim - A desigualdade, o crime organizado e o desgaste das instituições são os motores da corrupção na América Latina, segundo Alejandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional, que publica nesta terça-feira seu índice anual sobre corrupção. "Os grandes temas da agenda latino-americana são a segurança cidadã e o controle do crime organizado, mas também a desigualdade", explica à AFP este especialista, que vê na "democracia de todos os dias" a melhor receita para lutar contra a corrupção.

O índice 2013 desta organização não governamental, elaborado com pesquisas de opinião a agentes econômicos sobre sua percepção da corrupção em 177 países do mundo, apresenta um panorama estável na América Latina, sem grandes mudanças nos últimos 12 meses. A Venezuela continua sendo um dos países onde a corrupção é mais vista (posição número 160 de 177), seguida por Paraguai (150), Honduras (140) ou Guatemala (123). No outro extremo o Uruguai (19) é, junto com o Chile (22), um dos países latino-americanos com melhor nota.

[SAIBAMAIS]"O que mais chama a atenção é a tendência dos países da América Central de cair no índice. Nossa leitura é que os países que estão mais expostos à violência e ao crime organizado são mais vulneráveis", explica Salas, um pesquisador mexicano. "Quando as máfias estão fazendo negócios ilegais nestes países, têm incentivos muito grandes para enfraquecer as instituições. Para cruzar mercadoria ilegal de um lado para o outro é preciso subornar policiais, militares, capacidade para controlar alfândegas e portos e é muito grande a tentação de financiar os políticos", afirma.



No caso da Venezuela, "há um desgaste forte das instituições, mas o motivo é diferente", segundo Salas, que o atribui ao "controle tão forte que o executivo tem, neste caso o presidente, sobre outros poderes do Estado", como a justiça ou as autoridades eleitorais.

Avanços e retrocessos no Brasil

O Brasil, um dos gigantes econômicos e políticos da região, permanece estável na lista (72; posição), apesar dos recentes casos de corrupção política. "Embora só tenha caído um ponto, o Brasil não deve estar feliz com sua pontuação. Não é suficiente ter poderio econômico se não pode dar o exemplo com um bom governo", explica o pesquisador mexicano.

Apesar das novas leis sobre o acesso à informação pública e de outra que pune penalmente as empresas por corrupção - e não apenas os indivíduos, como ocorria até agora - "há a sensação de uma prática de corrupção muito estendida", explica o pesquisador, que pede ao Brasil que comece a aplicar esta "grande infraestrutura" legal contra a corrupção. Apesar deste panorama, Salas acredita que a América Latina seguirá avançando em sua luta contra este flagelo.

"A região demonstrou muita estabilidade: há crescimento econômico, há eleições de maneira regular, há mudanças de partidos nos governos. A economia e a democracia eleitoral caminham bem", afirma, e aposta pela "democracia de todos os dias" para enfrentar a corrupção. "A democracia não termina no dia das eleições, pelo contrário, no dia das eleições deveria começar. Temos que vigiar para que nossos governantes se portem bem, que as políticas públicas não sejam capturadas por pequenos grupos de interesse, etc. Esta democracia de todos os dias está faltando na América Latina", conclui.

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