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Milhares de pessoas protestam em Paris contra casamento gay

Em um ato "pela família e pelas crianças", os manifestantes começaram a se reunir no início da tarde no centro de Paris

Agência France-Presse
postado em 02/02/2014 14:43

Em um ato

Paris - Milhares de opositores ao casamento gay ou à "teoria do gênero" protestavam neste domingo em Paris, em uma nova demonstração de força que revela o fortalecimento do conservadorismo na França.

Em um ato "pela família e pelas crianças", os manifestantes começaram a se reunir no início da tarde no centro de Paris. Os organizadores previam o comparecimento de dezenas de milhares de participantes. Em outras partes da França, principalmente em Lyon, manifestações também estavam sendo realizadas.

"Hollande, não queremos a sua lei", gritava a multidão, composta principalmente de católicos tradicionalistas, mas também de muçulmanos ultraconservadores. Os manifestantes exibiam uma faixa com o lema: "Família: educação, solidariedade, dignidade".

[SAIBAMAIS]Para Abdel e Said Ahmet, dois pais de família argelinos que dizem compartilhar os "valores comuns" com os manifestantes católicos, "é a família que deve ser responsável pela educação sexual, e não o governo".

Uma semana depois dos tumultos que marcaram a manifestação contra Hollande - que tiveram 19 policiais feridos e 226 pessoas detidas -, o ministro do Interior, Manuel Valls, advertiu que não toleraria atos de violência de manifestantes.

Logo no início da manifestação na capital francesa, a Polícia deteve doze militantes de um pequeno grupo de extrema direita no momento em que eles se preparavam para se juntar a uma passeata.

Após as mobilizações de novembro de 2012 contra o casamento homossexual, uma parcela mais conservadora da população francesa vê o casamento entre pessoas do mesmo sexo como uma ameaça à sociedade e teme a liberação da procriação medicamente assistida (PMA) para os casais de mulheres, a legalização das "barrigas de aluguel" e a pretensa "teoria do gênero".

O governo do presidente socialista François Hollande não prevê esses projetos, mas os assuntos geram um clima que alguns observadores consideram "repugnante" na França.

Cenário de um forte debate político, a França foi marcada pelo que muitos consideram um divisor de águas para a esquerda - a Revolução Francesa de 1789. Desde então, os ânimos no país se exaltam quando os esquerdistas chegam ao poder. Nos anos 1930, as ligas da extrema direita se mobilizaram para desestabilizar o governo de esquerda e a República. Em menor medida, a chegada do socialista François Mitterrand à Presidência, em 1981, causou revolta em meio ao eleitorado mais conservador.

Nas últimas semanas, uma "Marcha pela Vida" dos opositores ao aborto, em 19 de janeiro, e, depois, uma manifestação anti-Hollande, no dia 26 do mesmo mês, extrapolaram do quadro habitual de contestação política.

Durante essa manifestação, que terminou em confrontos com a Polícia, pequenos grupos de extrema direita questionaram a República e intensificaram uma ofensiva racista e antissemita. François Hollande pediu atenção diante "dos movimentos extremistas, racistas".

"Teoria do gênero"

Durante a semana, uma nova polêmica eclodiu com um rumor segundo o qual as escolas estariam incitando as crianças a rejeitar sua identidade sexual, e até mesmo a se masturbar. Esse rumor, que não tem fundamento mas que atrai principalmente os muçulmanos, retoma a argumentação de grupos de extrema direita de inspiração católica que acusam o governo de querer impor a "teoria do gênero", interpretada como a negação da diferença entre os sexos e a promoção da homossexualidade.

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Os organizadores da manifestação deste domingo pediram na sexta-feira a "retirada imediata" de uma experiência em curso em algumas escolas destinada a promover a igualdade entre meninas e meninos, e que visa, segundo eles, "a remodelar a atitude e a maneira de ser das crianças".

Antes da manifestação, Manuel Valls denunciou o surgimento de um "Tea Party à francesa" e pediu que a "direita republicana" se "desvencilhe claramente" desse movimento. O ministro do Interior mencionou "uma onda dos anti: anti-elites, anti-Estado, anti-impostos, anti-Parlamento, anti-jornalistas... Mas também e, principalmente, os antissemitas, os racistas, os homofóbicos... Todos simplesmente anti-republicanos".

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