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Mergulhadores retiram 19 corpos de balsa sul-coreana naufragada

Na manhã deste domingo, parentes dos mortos e desaparecidos retomaram uma passeata de protesto de Jindo até a sede da presidência em Seul

Agência France-Presse
postado em 20/04/2014 08:37
Jindo - Mergulhadores retiraram neste domingo 19 corpos da balsa sul-coreana que naufragou na quarta-feira com 476 pessoas a bordo, enquanto os familiares das vítimas, indignados com a lentidão das operações de resgate, agrediram policiais. O balanço oficial da tragédia agora é de 58 mortos, 244 desaparecidos, a maioria adolescentes, e 174 pessoas que foram resgatadas.

Equipes de emergência continuam trabalhando na área onde ocorreu a tragédia

Pouco antes da meia-noite (hora local), os três primeiros corpos foram resgatados, marcando o início do difícil processo para recuperar os restos mortais das supostas centenas de pessoas que ficaram presas quando a balsa "Sewol" de 6.825 toneladas adernou e naufragou. Os três corpos estavam com coletes salva-vidas e dois eram de homens, segundo a Guarda Costeira.

Outros corpos foram recuperados nas horas seguintes e as equipes de emergência continuam trabalhando na área da tragédia. A balsa naufragou na quarta-feira na altura da costa meridional coreana. Os corpos foram colocados em barracas instaladas na ilha de Jindo, onde parentes dos passageiros da balsa acampam em um ginásio desde o naufrágio, para a tentativa de identificação. Neste domingo era possível ouvir o choro de parentes das vítimas e de alguns policiais que vigiam o local.

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No momento do acidente, o comandante confirmou que não estava à frente da embarcação. No timão estava um integrante da tripulação, conhecido como "Jo", de 55 anos, sob as ordens da terceira oficial, uma jovem que nunca havia navegado pela região difícil.

Marcha de protesto até Seul

Na manhã de domingo, quase 200 pessoas, parentes dos mortos e desaparecidos, retomaram uma passeata de protesto de Jindo até a sede da presidência em Seul, uma distância de 420 km. Quando foram impedidos de cruzar a ponte que leva à terra firme e foram obrigados a retornar, os manifestantes iniciaram uma briga com a polícia.

O capitão Lee Joon-seok e dois membros da tripulação foram detidos no sábado e terão que responder por acusações de negligência e falhas na segurança dos passageiros, uma violação do código marítimo.

O homem de 69 anos tem sido muito criticado por ter abandonado a embarcação que naufragou na quarta-feira na costa meridional da Coreia do Sul, enquanto centenas de pessoas, em sua maioria adolescentes em viagem escolar, permaneciam presas a bordo.

Das 476 pessoas a bordo, mais de 350 eram estudantes da mesma escola de nível médio na cidade de Ansan (ao sul de Seul). Os parentes assistiram um vídeo com imagens gravadas pelos mergulhadores. Boa parte dos 500 mergulhadores no local da catástrofe são voluntários civis.

O capitão e dois tripulantes foram levados para a delegacia de Jindo, a ilha vizinha ao local da tragédia. Lee Joon-seok tentou explicar os motivos de sua decisão de adiar a saída dos passageiros depois que a embarcação ficou imobilizada. As 476 pessoas que estavam a bordo receberam ordem para que permanecessem em seus assentos por mais de 40 minutos, segundo sobreviventes.

Quando a balsa começou a afundar, era muito tarde, já que os passageiros não conseguiam avançar pelos corredores inclinados, ao mesmo tempo que a água dominava a embarcação. "Naquele momento (durante os 40 minutos posteriores ao choque), os barcos de emergência não haviam chegado. Também não havia pesqueiros ou quaisquer outros barcos que pudessem nos ajudar", declarou o capitão com a cabeça abaixada e coberta por um capuz. "As correntes eram fortes e a água estava muito fria. Pensei que os passageiros seriam arrastados e teriam dificuldades se a retirada acontecesse em desordem, sem coletes salva-vidas", disse. "E teria acontecido o mesmo com coletes", acrescentou.

Não foram encontrados sobreviventes desde a manhã de quarta-feira. Os 174 sobreviventes foram resgatados poucas horas depois do naufrágio, no mar ou quando pulavam da balsa que ainda afundava.

Analistas consideram que muitos passageiros poderiam ter sido salvos se tivessem caminhado para os pontos de concentração e retirada, antes que a embarcação fosse dominada pela água.

Em uma última ligação telefônica para a irmã mais velha, Kim Dong-Hyup, um aluno de 16 anos, prometeu que sairia com vida da balsa. Após vários dias, a família acredita que Kim continua vivo. "Sempre foi um garoto voluntarioso. Estou convencido de que se salvará de um jeito ou outro", disse à AFP o pai, Kim Chang-Gu, de 46 anos.

A embarcação transportava 476 pessoas, incluindo 352 estudantes do colégio Danwon de Ansan, uma localidade ao sul de Seul, que estavam em uma viagem escolar. O vice-diretor da escola, que havia sobrevivido à catástrofe, foi encontrado enforcado na sexta-feira, em um aparente suicídio. "Sobreviver é muito difícil... Eu assumo toda a responsabilidade", escreveu em uma carta encontrada em sua carteira, segundo a imprensa local.

Os pais acusam as autoridades e os serviços de emergência de incompetência e indiferença. Alguns pais e mães aceitaram ceder mostras de saliva para facilitar a identificação dos corpos, mas muitos se negavam a aceitar a medida, com a esperança de que os filhos tenham conseguido sobreviver.

A causa do acidente ainda não foi determinada. As informações da Marinha indicam que a balsa girou bruscamente antes de enviar um sinal de socorro. O choque pode ter desequilibrado a carga - 150 automóveis - e inclinado a embarcação.

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