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Exército russo inicia novas manobras na fronteira com a Ucrânia

Segundo ministro da Defesa, as manobras servem como resposta à operação militar de Kiev

Agência France-Presse
postado em 24/04/2014 11:30
Sloviansk - O Exército russo iniciou novas manobras na fronteira com a Ucrânia, em resposta à operação militar iniciada pelas autoridades de Kiev contra os separatistas pró-Rússia no leste do país, em uma nova e perigosa escalada da crise na ex-república soviética.

"Nós nos vemos obrigados a reagir a esta situação", declarou o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, citado pelas agências russas. "Unidades dos distritos militares do sul e do oeste iniciaram exercícios", acrescentou. "A aviação sobrevoa (...) as imediações da fronteira", disse.

[SAIBAMAIS]O ministro expressou sua grande preocupação com o ataque das tropas ucranianas contra os separatistas em Slaviansk, reduto dos insurgentes separatistas no leste do país, que deixou "até cinco mortos" entre os insurgentes, segundo Kiev, e um soldado ucraniano ferido.

"Foi autorizado o uso de armas contra os civis de seu próprio país. Se não pararmos esta máquina militar hoje, isso deixará muitos mortos e feridos", disse Shoigu.



Já a Ucrânia afirmou que não voltará atrás diante da "ameaça terrorista" no leste do país, declarou o presidente interino, Olexander Turchynov, acusando Moscou de "apoiar abertamente os terroristas".

"Exigimos que a Rússia pare de intervir nos assuntos internos, que deixe a chantagem e as ameaças e retire suas tropas da fronteira leste da Ucrânia", acrescentou Turchynov, depois de ter acusado Moscou de "apoiar abertamente os assassinos e terroristas" na Ucrânia.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo para que sejam "evitadas a qualquer preço as ações militares", temendo "que a situação escape ao controle com consequências imprevisíveis".

Putin classifica de crime ataque contra separatistas

Logo depois do anúncio do avanço das tropas ucranianas no leste, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a ofensiva é um "crime" que terá consequências.

"Se o atual regime de Kiev começou realmente a usar o exército contra a população no país, é um crime muito grave contra seu próprio povo", disse Putin, anunciando "consequências para as pessoas que tomam essas decisões, em particular para as relações intergovernamentais".

"Se as autoridades atuais de Kiev fizeram isto, então trata-se simplesmente de uma junta, de uma espécie de grupo criminoso", afirmou o presidente russo.

No local dos incidentes, jornalistas da AFP ouviram tiros em um posto de controle dos rebeldes na entrada norte da cidade e observaram vários blindados passando diante do posto em chamas, um deles com a bandeira ucraniana.

Durante a tarde os blindados não podiam mais ser vistos na cidade.

O líder separatista de Slaviansk, cidade de 100.000 habitantes, Viacheslav Ponomarev, ordenou que os civis deixassem o município.

Slaviansk está há vários dias totalmente sob controle dos rebeldes pró-Rússia. Homens armados com fuzis, vestindo uniformes sem insígnias e encapuzados ocupam vários prédios públicos. Ponomarev solicitou no domingo a intervenção da Rússia para proteger a população.

Nesta mesma região, o jornalista americano Simon Ostrovsky, detido desde a noite de segunda-feira nas mãos de separatistas pró-russos, foi libertado nesta quinta.

"Estou bem", declarou por telefone o jornalista, que trabalha para o site americano Vice News, enquanto se dirigia a Donetsk (leste da Ucrânia) acompanhado por outros jornalistas.

Kiev anunciou ainda a libertação de Mariupol, uma cidade portuária de 500.000 habitantes no sudeste do país, em uma operação que deixou cinco feridos. Mais ao norte, um soldado ficou ferido durante um ataque separatista contra uma base militar de Artemivsk.

Tensão crescente

A tensão não para de aumentar. Moscou, que ameaçou com uma intervenção militar caso seus interesses legítimos sejam ameaçados na Ucrânia, acusou nesta quinta-feira os ocidentais de utilizarem essa ex-república soviética como um "peão no jogo geopolítico".

De Tóquio, o presidente americano, Barack Obama, responsabilizou a Rússia pelo fracasso do compromisso internacional assinado há uma semana em Genebra, que deveria reduzir as tensões entre as duas partes.

"Até agora, não os vimos respeitar nem o espírito, nem a letra do acordo de Genebra", lamentou Obama em uma coletiva de imprensa na capital japonesa, primeira etapa de um giro pela Ásia.

"Por outro lado, continuamos vendo homens mal-intencionados, armados, que se apoderam de edifícios, atacando pessoas que não concordam com eles, desestabilizando a região. E não vemos a Rússia se afastando ou desestimulando", acrescentou.

Se a Rússia continuar ignorando o acordo de Genebra, "haverá consequências e novas sanções", ameaçou.

Já a Rússia acusou Estados Unidos e União Europeia pelo que considera uma tentativa de provocar uma revolução em Kiev, em referência à destituição em fevereiro pelo Parlamento ucraniano do presidente pró-russo Viktor Yanukovytch, após três meses de violentos protestos.

"Na Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia tentaram realizar uma nova ;revolução colorida;, uma operação de mudança de regime contrária à Constituição", disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) informou nesta quinta-feira que decidirá no dia 30 de abril se aprovará ou não um vasto plano de ajuda à Ucrânia destinado a evitar a quebra deste país, afetado por crescentes tensões com seu vizinho russo.

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