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Rússia retira tropas da fronteira com Ucrânia a poucos dias das eleições

Mas os Estados Unidos e a Otan indicaram que não há "prova alguma" de que o Exército russo tenha iniciado a retirada das tropas

Agência France-Presse
postado em 19/05/2014 19:29

Presidente russo, Vladimir Putin, ordenou forças militares para regressar a suas bases permanentes após treinos em três regiões que fazem fronteira com a Ucrânia


Moscou
- A Rússia anunciou nesta segunda-feira (19/5) o retorno às bases das tropas que faziam manobras perto da fronteira com a Ucrânia, a menos de uma semana da eleição presidencial antecipada na ex-república soviética.

Mas os Estados Unidos e a Otan indicaram que não há "prova alguma" de que o Exército russo tenha iniciado a retirada das tropas.

O presidente russo, "Vladimir Putin, deu a ordem ao Ministério da Defesa para que mande as tropas de volta as suas guarnições [...] após a conclusão dos exercícios que exigiram seu deslocamento às regiões de Rostov, Belgorod e Briansk", vizinhas à Ucrânia, indicou o Kremlin.

Acusado pelo governo de Kiev de apoiar a rebelião armada no leste da Ucrânia, a Rússia mobilizou tropas - até 40.000 homens, segundo fontes ocidentais - sob o pretexto de manobras militares.

Na semana passada, Putin havia indicado que seus homens tinham recuado, mas os Estados Unidos afirmaram que não havia provas desse deslocamento.

"Esta é a terceira declaração de Putin, mas ainda não vimos uma retirada", lamentou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.

"Queremos ter provas concretas e claras dessas ações antes de emitirmos qualquer julgamento", declarou nesta segunda uma autoridade do governo americano, um dia antes da visita do vice-presidente Joe Biden à Romênia e ao Chipre.

Do lado russo, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, Valeri Guerasimov, expressou "sua forte preocupação diante do reforço da atividade militar da Otan na fronteira russa, que não contribui à segurança na Europa", em uma conversa telefone ao presidente do comitê militar da Aliança Atlântica, Knud Bartels.

Esse anúncio do Kremlin foi feito em um contexto de confrontos esporádicos entre insurgentes armados e soldados ucranianos nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia.

O Ministério ucraniano da Defesa anunciou a morte de um soldado em um ataque organizado por insurgentes perto de Slaviansk, um dos redutos da insurreição, cercado pelas tropas regulares.

O Exército também afirma ter matado um separatista e ferido sete na região de Donetsk.

Segundo a ONU, quase 130 pessoas - soldados, separatistas e civis - morreram em atos de violência desde o início da operação "antiterrorista" lançada por Kiev em 13 de abril para retomar o controle das cidades do leste.

Depois de visitar Donetsk, Ivan Simonovic, secretário-geral adjunto das Nações Unidas para o Direitos Humanos, disse que a região está "à beira do colapso", e alertou para uma onda de refugiados se a situação não melhorar.

De acordo com um registro estabelecido pela AFP com base em dados fornecidos pela Comissão Eleitoral, dois milhões de eleitores poderão ficar sem votar ou precisar enfrentar horas de estrada para participar da eleição presidencial de 25 de maio.

A eleição "vai acontecer"

"Em algumas localidades (do leste), será difícil organizar a eleição", reconheceu o primeiro-ministro interino, Arseni Yatseniuk, durante uma reunião com os governadores das regiões.

"Elas são poucas e isso não terá reflexo no desenrolar da votação. A eleição acontecerá e nós teremos um presidente legítimo", insistiu.

O ministro do Interior, Arsen Avakov, afirmou que "grupos especiais" ficarão encarregados de garantir a segurança da eleição no leste.

O mediador da OSCE para a Ucrânia, o diplomata alemão Wolfgang Ischinger, espera uma eleição "mais ou menos normal" no domingo, exceto em parte das regiões orientais.

"Estamos falando de uma ordem que seria inferior a 10%" das cidades, onde as eleições podem sofrer perturbações", disse Ischinger à rádio pública alemã Deutschlandfunk.

Os principais candidatos à presidência continuam suas campanhas, mas nenhum deles - com exceção da ex-premier Yulia Timoshenko - visitou Donetsk ou Lugansk

Kiev deve retirar suas tropas


Paralelamente à retirada dos soldados russos, a "Rússia pede o fim imediato da operação de repressão e da violência, assim como a retirada das tropas e a solução de todos os problemas existentes por meios exclusivamente pacíficos", segundo o comunicado do Kremlin, em uma referência à operação "antiterrorista" iniciada pelo Exército ucraniano em 13 de abril.

Além disso, "o presidente Vladimir Putin saúda os primeiros contatos entre Kiev e os defensores da federalização (da Ucrânia), que buscam estabelecer um diálogo direto do qual devem participar todas as partes envolvidas".

Após um primeiro encontro na quarta-feira passada em Kiev, sem qualquer avanço, os principais ministros do governo, incluindo dois ex-presidentes ucranianos, deputados e autoridades religiosas, se reuniram no sábado em Kharkiv.

Como da primeira vez, os insurgentes separatistas, chamados de "terroristas" por Kiev, não estavam representados e o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, rejeitou a ideia de federalismo.

A próxima "mesa redonda", inicialmente prevista para a cidade de Tcherkassy, deve acontecer na quarta-feira em Donetsk.

As condições de trabalho dos jornalistas na Ucrânia e na península da Crimeia, anexada em março à Rússia, são precárias.

Vários jornalistas denunciam detenções e agressões cometidas pelos serviços de segurança russos na Crimeia, enquanto Moscou acusa as autoridades ucranianas de terem sequestrado dois repórteres russos no leste da Ucrânia.

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