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Guerra no Iraque ressurge como arma na disputa pré-eleitoral nos EUA

Recentemente, Washington se preparava para sua primeira eleição de meio de mandato desde 2000 que não teria o Iraque como tema de campanha política

Agência France-Presse
postado em 20/06/2014 18:17
Washington - O capítulo da guerra do Iraque parecia concluído para os ;policy-makers; americanos, mas ressurgiu com força nas últimas semanas e invadiu o debate pré-eleitoral nos Estados Unidos, com os republicanos criticando os democratas pela saída prematura das tropas nacionais desse país mergulhado no caos sectário. Até bem recentemente, Washington se preparava para sua primeira eleição de meio de mandato desde 2000 que não teria o Iraque como tema de campanha política. Mas o humor e o cenário mudaram com o avanço dos combatentes radicais sunitas. Eles já tomaram a maior cidade do norte do Iraque - Mossul -, obrigando milhares de pessoas a se deslocarem e deixando milhares de mortos.

Agora, os países ocidentais temem uma nova onda de violência. Com isso, o conflito que o presidente americano, o democrata Barack Obama, tinha dado por encerrado será, inevitavelmente, um tema forte nas eleições legislativas de novembro. Na esteira dos últimos acontecimentos no Iraque, os republicanos atacam Obama por ter desperdiçado os benefícios de uma guerra sangrenta quase ganha, quando determinou a retirada das tropas americanas, em 2011.

Para os republicanos, o retorno dos soldados abriu espaço para a expansão do extremismo. A guerra também pode afetar a corrida pela Casa Branca em 2016, que deve contar com a ex-secretária de Estado Hillary Clinton como herdeira do "legado de Obama". Obama "deixou os Estados Unidos mais fracos e deixará problemas substanciais para seu sucessor", denuncia o senador republicano Mitch McConnell.



McConnel é líder da ala moderada republicana, que derrotou os ultraconservadores do movimento Tea Party nas primárias de estados-chave americanos, em maio passado. São grandes as chances de que recuperem o controle total do Congresso em novembro. O senador republicano Marco Rubio, ligado ao Tea Party, também está apelando para o tema do Iraque para usá-lo como exemplo dos fracassos do governo Obama. Em entrevista ao canal de linha editorial conservadora Fox News, Rubio criticou a "incompetência" e as "políticas" adotadas pelo governo atual.

[SAIBAMAIS]Para o presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, "o fato de o governo não ter conseguido fechar um Acordo sobre o Status das Forças (Sofa, na sigla em inglês) no Iraque tem consequências graves para esse país e para os interesses americanos na região".

Guerras sem fim

A reação democrata não demorou. "Os que atacam o presidente por trazer nossos soldados para casa estão totalmente equivocados e fora de contato com o povo americano. Depois de uma década de guerra, acho que o povo americano aguentou demais", rebateu o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid. Especialistas consultados pela AFP lembram que, sob uma perspectiva histórica, as grandes guerras sempre se misturaram com a política americana.

"As grandes guerras - e a do Iraque é uma delas - têm uma maneira de perdurar", afirmou o professor de História Julian Zelizer, da Universidade de Princeton. "O Vietnã se arrastou por muitas presidências e teve efeitos sobre diferentes presidentes. Com o Iraque, acontece o mesmo", explicou. Para gerações inteiras de líderes, a lição do Vietnã foi ser cauteloso quanto a não estender excessivamente uma intervenção militar. Isso durou até os atentados do 11 de setembro, nos Estados Unidos, em 2001.

;Emoções intensas;

Na quinta-feira, o presidente Obama declarou que, se for necessário, está disposto a empreender ações contra um "alvo militar concreto" no Iraque para conter o avanço dos "jihadistas". "O Iraque provocou debates vigorosos e emoções intensas no passado, e estamos vendo alguns desses debates ressurgirem", comentou o presidente, ao anunciar que Washington já aumentou sua capacidade de inteligência no país e está preparado para enviar 300 assessores militares para analisar como treinar e equipar as forças iraquianas.

Ex-oficiais e especialistas neoconservadores e republicanos, no purgatório após o desastroso período do pós-guerra no Iraque, aproveitam o momento e reemergem para acusar Obama de ter perdido uma guerra que, para eles, foi ganha pelo então presidente George W. Bush - apesar das diferentes percepções de que a guerra de 2003 foi um erro.

"Obama nos disse várias vezes que estava ;terminando; as guerras no Iraque e no Afeganistão, como se sua vontade fosse fazer isso acontecer. Sua retórica agora se contradiz com a realidade", alfinetou o vice-presidente da era W. Bush, Dick Cheney, em artigo de opinião publicado em "The Wall Street Journal".

O retorno do Iraque ao centro da política americana expõe o presidente às críticas referentes a uma série de tropeços em política externa, que vão da Síria à Ucrânia. O efeito colateral já se traduz em queda nas pesquisas. De acordo com uma pesquisa Wall Street Journal/NBC divulgada esta semana, a aprovação da política externa do presidente caiu para 41%.

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