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Morte de jornalista reaviva debate sobre se Estados devem pagar resgate

Após meses de incerteza, os pais de James Foley receberam por e-mail um pedido de resgate de 100 milhões de dólares

Agência France-Presse
postado em 21/08/2014 16:07
Paris - A morte na Síria do jornalista americano James Foley revela o dilema dos governos ocidentais: não pagar resgate por reféns e arriscar suas vidas, ou pagar e, com isso, financiar os sequestradores e incentivar novas ações criminosas. Estados Unidos e Grã-Bretanha decidiram rejeitar qualquer negociação envolvendo dinheiro, enquanto outros países europeus, incluindo a França, negam oficialmente a prática, mas recorrem a esse meio algumas vezes.

Após meses de incerteza, os pais de James Foley receberam por e-mail um pedido de resgate de 100 milhões de dólares, segundo uma fonte ligada aos esforços para libertá-lo que pediu para não ser identificada. A administração americana foi categórica: não há possibilidade de pagar o resgate.

Em 13 de agosto, de acordo com a mesma fonte, a família do jornalista recebeu uma última mensagem em que os extremistas do Estado Islâmico (EI) anunciavam que, em represália aos bombardeios americanos contras as suas posições no Iraque, James Foley seria executado. Menos de uma semana depois, o vídeo de sua decapitação foi postado na internet.

"Os Estados Unidos poderiam negociar em outras questões, como visto recentemente no Afeganistão, onde libertaram prisioneiros de Guantánamo em troca de um de seus soldados, mas assim como os ingleses e israelenses, sua política em termos de pagamento de resgate é firme: não se paga", declarou à AFP Alain Chouet, ex-chefe do serviço de inteligência do DGSE, o serviço secreto externo francês.

"De qualquer forma, os reféns representam um verdadeiro dilema", acrescentou. "Por um lado, você tem que defender os seus cidadãos com todos os meios. Por outro, a experiência mostra que, quando não se paga, há menos sequestros. Nós, os países que pagamos, somos às vezes considerados pelos movimentos terroristas como vacas leiteiras, pois nos sujeitamos a entregar-lhes uma renda, e muito facilmente".

Durante uma conferência em Londres em 2012, David Cohen, subsecretário do Tesouro americano encarregado do terrorismo, estimou em 120 milhões de dólares o montante dos resgates pagos a organizações terroristas entre 2004 e 2012.

;Círculo vicioso;

"O pagamento de resgate leva a novos sequestros e novos sequestros levam a novos resgates que fortalecem as organizações terroristas", declarou. "É preciso romper este círculo vicioso (...) Sabemos que os sequestradores distinguem entre os Estados que pagam e os que rejeitam", acrescentou. "Nós sabemos, por exemplo, que em 2011 a Al-Qaeda no Magreb Islâmico tinha como alvo os europeus e não os americanos, porque eles achavam que alguns governos europeus pagariam", acrescentou.

Refém do Talibã no Afeganistão por mais de sete meses em 2009 antes de fugir, o jornalista americano David Rohde pediu em um artigo publicado na revista semanal The Atlantic que as potências ocidentais adotem políticas coincidentes e sejam mais transparentes a este respeito. "A execução de Foley é o sinal mais claro de que as diferentes respostas aos sequestros por parte dos governos americano e europeus salvam os reféns europeus e condenam os americanos", declarou ele em um artigo intitulado "Como os Estados Unidos e a Europa abandonaram James Foley".



"Os reféns e suas famílias sabem bem o que acontece, mas o público ignora". Para mostrar que tem atuado contra os sequestradores, o governo americano revelou na quarta-feira que um ataque para tentar libertar os reféns americanos, incluindo James Foley, havia fracassado porque suas forças especiais não sabiam exatamente o local em que estavam.

Procurado pela AFP logo após o assassinato de James Foley, o jornalista francês Nicolas Henin, libertado depois de ter vivido o mesmo calvário que o americano, disse que "os reféns de países famosos por não negociarem sabem que o seu caso é mais complicado." Outro ex-refém francês, que pediu para não ser identificado, afirma que os reféns americanos "vivem de forma diferente. Para eles o medo é muito mais forte. Sabem que, ao contrário de nós, o seu governo não negocia".

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