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Decodificação do genoma do vírus ebola pode ajudar a encontrar tratamento

Mulher alegava que podia curar a febre hemorrágica e atraiu vários doentes da vizinha Guiné

Agência France-Presse
postado em 28/08/2014 18:22
Washington - Cientistas que buscam deter a epidemia de Ebola no oeste da África difundiram nesta quinta-feira (28/8), em um relatório, a sequência do genoma de 99 mutações do vírus hemorrágico com a esperança de acelerar o diagnóstico e encontrar um tratamento para a doença. Em um sinal da urgência e do risco que o fenômeno encerra, cinco dos sessenta coautores de todo o mundo que ajudaram a coletar e analisar amostras do vírus morreram vítimas do Ebola, destaca o informe publicado na revista americana Science.

Mais de 1.552 pessoas morreram e outras 3.000 estão infectadas em Guiné, Serra Leoa, Libéria e Nigéria, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Como havia comentado, na semana passada, um jornalista à AFP, após uma investigação de vários dias em Serra Leoa, esta nova pesquisa mostra que a epidemia sem precedentes que sofre desde o começo do ano originou-se, muito provavelmente, durante o enterro de uma curandeira tradicional em Sokima, aldeia afastada perto da fronteira com a Guiné.

A mulher alegava que podia curar a febre hemorrágica e atraiu vários doentes da vizinha Guiné. Ela mesma acabou sendo infectada pelo vírus e morreu vítima da doença. Os participantes dos funerais se dispersaram pelas colinas da região fronteiriça, desencadeando uma reação em cadeia de mortes e enterros públicos que propiciaram novas contaminações.

Os resultados da investigação, publicados na Science, mostram que alguns dos primeiros pacientes de Serra Leoa tinham assistido aos funerais da curandeira. Além disso, permitir rastrear as origens da epidemia atual, estes trabalhos científicos também poderiam servir para encontrar tratamentos contra o vírus, cujo aparecimento remonta a 1976, segundo os pesquisadores.

"Estes trabalhos oferecem o ponto de partida para compreender como mutações virais específicas poderiam estar vinculadas à gravidade desta última epidemia", escreveram. Comparando os dados genéticos dos vírus atuais do Ebola, provenientes de 78 pacientes em um hospital de Serra Leoa, com vinte genomas de cepas virais de epidemias precedentes desta febre hemorrágica, determinaram que provavelmente existia um ancestral comum que remonta aos primeiros casos de infecção na África central em 1976.

Acelerar a nossa compreensão

Enquanto as epidemias precedentes, que foram muito limitadas, resultaram de múltiplos contatos com reservatórios virais na natureza, entre eles particularmente nos morcegos frugívoros, a epidemia atual provavelmente começou com uma única contaminação, seguida de múltiplos contágios entre humanos, explicam virologistas.

"Descobrimos mais de 300 mutações genéticas que poderiam distinguir esta epidemia das anteriores", diz Stephen Gire, cientista da Universidade de Harvard, coautor do estudo. "Ao compartilhar os resultados destes trabalhos com a comunidade científica, esperamos poder acelerar a nossa compreensão desta epidemia e contribuir com os esforços mundiais para controlá-la", acrescentou.

Por sua extensão, a atual epidemia não tem precedentes. Mas isso acontece também fato de se manifestar em várias regiões povoadas. As anteriores estavam localizadas em regiões isoladas e menos populosas da África central. A maior epidemia em 1976 afetou 318 pessoas, a maioria das quais morreu.



De viagem pela Libéria, o diretor dos Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, Tom Frieden afirmou na quarta-feira que "a situação é pior do que se temia". "A epidemia se espalha a cada dia e aumenta o risco de que se propague para outro país", declarou à emissora CNN. Frieden pediu uma rápida mobilização internacional.

Além disso, o primeiro teste clínico de uma vacina contra o Ebola, desenvolvida em conjunto pelo laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK) e os CDC, começarão no começo de setembro nos Estados Unidos para avaliar sua inocuidade e eficácia. Outro estudo clínico será iniciado no mês de setembro com voluntários em Reino Unido, Gâmbia e Mali. O objetivo é obter resultados antes do fim de 2014.

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