Mundo

Protótipo de remédio contra Ebola é capaz de curar vírus em animais

Normalmente, drogas experimentais são primeiro testadas em animais e, então, progressivamente em grupos maiores de humanos para garantir que são seguras e eficazes

Agência France-Presse
postado em 29/08/2014 22:00
Paris - O protótipo de um medicamento, administrado em caráter de urgência a um punhado de pacientes infectados com Ebola, venceu um obstáculo importante, demonstrando ser capaz de curar, em laboratório, macacos que tinham a doença, anunciaram cientistas nesta sexta-feira (29/8).

Normalmente, drogas experimentais são primeiro testadas em animais e, então, progressivamente em grupos maiores de humanos para garantir que são seguras e eficazes. Mas, em uma mudança excepcional, o novo medicamento, denominado ZMapp, que não foi submetido a estes testes, foi levado às pressas para as pessoas infectadas pelo vírus letal no oeste da África.

Em artigo publicado na edição online da revista científica britânica Nature, pesquisadores da Agência de Saúde Pública do Canadá informaram que 18 macacos resos, infectados com altas doses do vírus Ebola, recuperaram-se completamente após receberem o ZMapp, mesmo quando a medicação foi administrada cinco dias após a infecção.

Leia mais notícias em Mundo

A droga reverteu sintomas perigosos, como hemorragia, urticária e altos níveis de enzimas no fígado. Três macacos de um grupo de "controle" que tinham sido infectados, mas não tratados, morreram em oito dias. Os 21 animais foram infectados com a chamada cepa Kikwit do Ebola, vírus que recebeu este nome devido ao local na República Democrática do Congo onde a febre hemorrágica foi descoberta, em 1976.

Mas testes de laboratório indicam que ele também inibe a cepa da Guiné, causadora da epidemia atual, afirmaram os cientistas.

Um primeiro passo positivo

Especialistas independentes comemoraram o resultado, considerado um primeiro passo encorajador no longo processo de avaliação. Eles afirmaram, no entanto, que não está claro se o ZMapp funcionou em humanos, uma vez que dois pacientes que tomaram a medicação morreram e outros dois se recuperaram.

"A disponibilidade estendida e o uso do ZMapp vai exigir testagem e licenciamento de segurança para humanos, em conjunto com a escalada do processo de manufatura", alertou David Evans, professor de virologia da Universidade de Warwick, na Grã-Bretanha.

Coquetel de três anticorpos, criado para aderir ao vírus Ebola e inibir sua reprodução, o ZMapp é desenvolvido pela Mapp Biopharmaceutical S.A., em San Diego, Califórnia, parcialmente em associação com o Exército americano. Até agora, receberam o ZMapp sete profissionais na linha de frente do combate à doença.

Destes, dois médicos americanos se recuperaram, um médico liberiano e um sacerdote espanhol faleceram, e um médico e uma enfermeira, ambos liberianos, além de uma enfermeira britânica, que foi levada de avião de Serra Leoa para a Grã-Bretanha, ainda estão em tratamento.

A Organização Mundial da Saúde deu luz verde em 12 de agosto ao uso da medicação, alegando ser ético usá-lo no contexto desta perigosa epidemia.

Estoques do ZMapp, um derivado de folhas de tabaco de difícil produção em larga escala, estão se esgotando, informou a companhia em 12 de agosto.

A outra principal droga experimental para tratar a doença é o TKM-Ebola, desenvolvido pela Tekmira Pharmaceuticals, de Vancouver, Canadá, em um contrato de US$ 140 milhões com o Pentágono.

A medicação está atualmente em teste com humanos de fase 1, o primeiro passo do processo de testes, que tem três fases. Nesta etapa, a droga é avaliada em pessoas saudáveis, não infectadas pelo vírus, para ver se é segura. As fases posteriores visam a verificar tanto sua segurança, quanto sua eficácia.

Mais de 1.500 pessoas morreram em Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa desde que a doença surgiu, no oeste da África, em dezembro passado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação