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Histórico medo da Rússia volta ao leste europeu e lembra ocupação soviética

Em uma carta aberta a Obama, mais de 150 personalidades bálticas o convocam a "garantir uma presença permanente de tropas aliadas" em seus países

Agência France-Presse
postado em 02/09/2014 10:58

Tallin - De Tallin a Varsóvia, as supostas ações da Rússia na Ucrânia avivam o velho medo dos países do leste da Europa ante Moscou e as lembranças da ocupação soviética, um sentimento palpável na véspera de uma visita de Barack Obama à Estônia. "Estou muito preocupada porque toda vez que as coisas podem piorar, elas pioram", afirma à AFP Sildna Helen, de 35 anos, organizadora de festivais de música em Tallin, onde o presidente americano faz na quarta-feira (3/9) escala antes de se dirigir a uma cúpula da Otan em Gales.

"Os líderes europeus se limitam a expressar sua preocupação" pela situação na Ucrânia, mas "nada mais", lamenta. "Não fazem o que deve ser feito para mudar a situação", explica. Em uma carta aberta a Obama publicada na segunda-feira, mais de 150 personalidades bálticas, entre elas o ex-líderes estoniano Arnold Rüütel e lituano Vytautas Landsbergis, o convocam a "garantir uma presença permanente de tropas aliadas" em seus países.



"O neoimperialismo manifestado pela Rússia nos leva a temer que sejamos alvos potenciais de seus sonhos expansionistas", afirmam. Em jogo estão "a segurança e a liberdade de toda a Europa", alegam os signatários. Nas ruas, a linguagem é mais simples. Para Janis Janson, um letão de 47 anos, o presidente russo Vladimir Putin é um canalha.

[SAIBAMAIS]"Se tiver êxito na Ucrânia, posso apostar que virá para cá. Evidentemente, estar na Otan é uma diferença, mas se não fosse por isso já estaria aqui", afirma. Os pequenos Estados bálticos recuperaram a independência após o desaparecimento da União Soviética em 1991, após quase cinco décadas de ocupação. Lituânia, Estônia e Letônia formam parte da União Europeia e da Otan desde 2004.

Minorias russófonas

Mas a angústia diante do enorme vizinho russo também é alimentada pela importante minoria russófona - geralmente favorável a Moscou - que representa um quarto da população na Estônia (1,3 milhão de habitantes) e na Letônia (dois milhões). No entanto, o comportamento da Rússia na Ucrânia não é apoiado por todos os russófonos. "Eu era partidária do presidente Vladimir Putin. No início pensava que teve razão em recuperar a Crimeia, mas agora não. A Ucrânia é um país amigo da Rússia. Vale a pena perder um amigo por um pedaço de terra?", se pergunta Anna Slavinskaya, de 52 anos.

Na Lituânia as pessoas se mobilizam para ajudar os ucranianos. Vitautas Budreika, um jovem empresário de 25 anos, coleta doações graças a uma campanha nas redes sociais. "Há seis anos estava convencido de que a Rússia não era uma ameaça. Mas desde os acontecimentos na Geórgia em 2008 e agora na Ucrânia, acredito que a Rússia é uma ameaça. Observo um grande medo", afirma.

A história se repete

A angústia é menos perceptível na Polônia, embora as analogias históricas estejam presentes em todas as mentes. "Recorrer à força armada contra seus vizinhos, impedi-los de escolher livremente sua política internacional, tudo isso lembra capítulos inquietantes da história europeia do século XX", declarou o presidente polonês, Bronislaw Komorowski. Uma aposentada polonesa, Barbara Rybeczko-Tarnowiecka, afirma: "Estou muito preocupada com o que ocorre entre Rússia e Ucrânia. A verdade é que evito as informações, porque me dão calafrios".

Para Sandra Kalniete, ex-ministra das Relações Exteriores de Letônia e ex-comissária europeia, "se não pararmos agora a Rússia, seguirá avançando amanhã e depois de amanhã". Segundo ela, a presença permanente das forças aliadas nos Estados bálticos e na Polônia é "da maior importância, não apenas para nossa segurança, mas também para a segurança europeia".

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