Mundo

Escócia saberá em pouco tempo se voltará a ser independente após 300 anos

A participação deve atingir um nível recorde, chegando a cerca de 80% dos 4,3 milhões de eleitores que se registraram para votar - de uma população de 5,3 milhões

Agência France-Presse
postado em 18/09/2014 20:28
Edimburgo - A Escócia saberá em pouco tempo se voltará a ser independente ou se vai permanecer no Reino Unido depois de votar nesta quinta-feira em um referendo acompanhado com receio nas capitais europeias e com esperança por regiões onde há fortes movimentos separatistas. Os centros de votação fecharam suas portas às 21h00 GMT (18h00 de Brasília) e dentro de oito horas no máximo, de acordo com previsões das autoridades eleitorais, o desfecho será revelado. Estas podem ser as últimas horas da Escócia no Reino Unido depois de 300 anos.

[SAIBAMAIS]A participação deve atingir um nível recorde, chegando a cerca de 80% dos 4,3 milhões de eleitores que se registraram para votar - de uma população de 5,3 milhões. De acordo com a última pesquisa, feita pela Ipsos Mori e divulgada nesta quinta-feira pelo jornal britânico Evening Standard, o "não" tem uma vantagem de seis pontos (53%-47%).

"Votei ;não; porque a Escócia será mais forte dentro do Reino Unido e porque o petróleo do Mar do Norte não é suficiente para garantir a prosperidade em caso de independência", explicou em Glasgow James Hawkin, de 64 anos. "Voto ;sim;, quero ser livre da Inglaterra", disse Mart, um morador de rua do centro de Glasgow que viu sua renda aumentar durante a animada campanha. Os partidários das duas campanhas distribuíam adesivos e tentavam influenciar no resultado.

No centro de Edimburgo havia inúmeras bandeiras catalãs e bascas, duas regiões espanholas que tentam realizar referendos de independência. "Não seria honesto contigo se te dissesse que ;não;", respondeu Jordi Bellana, um catalão de 31 anos que vive em Edimburgo e votou "sim", quando perguntado se seu voto seria condicionado pelo o que acontece em seu país. Foram autorizados a votar todos os residentes legais na Escócia -britânicos ou não- com idades acima de 16 anos, mas não os escoceses que vivem no exterior. Os eleitores tinham que responder à pergunta "A Escócia deve se tornar um país independente?"

"Agora estamos nas mãos dos escoceses, e não existe um lugar mais seguro", disse à AFP o líder independentista e chefe de governo Alex Salmond, após depositar seu voto em Striche (leste). Uma das celebridades que mais tinha mantido mistério, o tenista Andy Murray, manifestou finalmente seu apoio ao "sim".

"Grande dia para a Escócia hoje! A negatividade da campanha do ;não; nos últimos dias mudou totalmente minha visão, ansioso para ver o resultado. Vamos", escreveu em sua conta no Twitter. Os resultados definitivos serão divulgados a partir das 05h00 GMT de sexta-feira (02h00 de Brasília).

Os separatistas do mundo rezam por um ;sim;...

Escócia, Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte integram o "Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte", nome oficial do Estado com capital em Londres. A Grã-Bretanha é a parte mais importante desse Estado, a ilha que reúne Escócia, Inglaterra e Gales, e com história, até a união de 1707, foi dominada pelas batalhas e pelas idas e vindas dos Exércitos de um reino ao outro.

Daquele estado pré-Reino Unido sobrevive a animosidade visceral à Inglaterra, o reino dominante. O triunfo da independência avivaria reivindicações semelhantes em regiões europeias como Catalunha, Flandres, País Basco e o Vêneto. "Votem sim, por vocês mas também por nós", pediu aos escoceses em Edimburgo Daniel Turp, do Partido Quebequense do Canadá.

Leia mais notícias em Mundo

Em uma entrevista coletiva à imprensa com líderes de movimentos separatistas europeus, Turp disse que a vitória do "sim" abrirá caminho para outros referendos parecidos. A província canadense de língua francesa já realizou dois, em 1980 e 1995, que tiveram a vitória do "não". "Estamos convencidos de que haverá um terceiro, e que Quebec será livre no final. Mas, de qualquer maneira, se você perde um referendo, tem outro depois", disse.

... os mercados apostam no ;não;

A vitória do "sim" marcaria o início de negociações complexas entre os governos britânico e escocês para separar ambas as economias e sistemas políticos, profundamente interrelacionados depois de três séculos de história compartilhada. O Partido Nacional Escocês (SNP) fixou a data de 24 de março de 2016 - 309; aniversário das Atas de União entre Inglaterra e Escócia - para concluir o processo e declarar uma secessão que reduziria o território do Reino Unido em um terço.

A Escócia seria o primeiro Estado independente criado na Europa desde a violenta desintegração da Iugoslávia (1991-1999), mas se asemelharia mais à divisão pacífica, em 1993, da Tchecoslováquia em dois países, a República Tcheca e a Eslováquia. A divisão de bens em caso de divórcio pode ser difícil. As questões mais espinhosas são a libra esterlina, os submarinos nucleares Trident da base naval de Faslane, perto de Glasgow, e o petróleo.

Mas os mercados anteciparam a vitória do "não": a libra esterlina chegou ao seu nível mais alto em relação ao euro em dois anos e as bolsas europeias fecharam no azul.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação