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Com o "não" da Escócia, União Europeia volta a respirar aliviada

O resultado do referendo escocês afasta, efetivamente, a incerteza institucional que uma vitória do "sim" provocava

Agência France-Presse
postado em 19/09/2014 12:11
Com o ;não; à independência na Escócia, a União Europeia (UE) respira aliviada, pelo menos até as próximas consultas deste tipo, como a que a Catalunha deseja organizar e, em especial, a que David Cameron prometeu sobre a permanência do Reino Unido no bloco europeu. "Confesso: o resultado me alivia", reagiu o presidente do Parlamento europeu, Martin Schulz.

O resultado do referendo escocês "é bom para uma Europa unida, aberta e forte", declarou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. "Há uma onda de alívio nas chancelarias europeias, já que se temia um efeito dominó europeu", estimou Jérémy Dodeigne, pesquisador da Universidade Católica de Lovaina. O resultado do referendo escocês afasta, efetivamente, a incerteza institucional que uma vitória do "sim" provocava.

Os líderes europeus afirmavam que com uma independência a Escócia deixaria de ser membro da UE e precisaria apresentar um processo de admissão ao bloco, com a necessidade de que todos os Estados membros aprovassem sua incorporação, uma perspectiva incerta.

Esta eventualidade gerava uma situação inédita para o bloco, que não tem nada previsto em seus tratados para casos similares.

Mas o efeito dominó não está totalmente afastado, primeiro devido à Catalunha, que busca organizar uma consulta secessionista em 9 de novembro, e depois com o referendo prometido por David Cameron para 2017 sobre a permanência do Reino Unido na UE.

A determinação catalã

"O ;não; não vai desencorajar os catalães", estima Dodeigne. Nesta sexta-feira o Parlamento catalão deve aprovar uma lei que dará um amparo, que o governo regional espera que seja legal, para poder organizar a consulta de 9 de novembro, que Madri considera inconstitucional.

[SAIBAMAIS]O presidente do governo autônomo catalão, Artur Mas, disse nesta sexta-feira que o processo para a convocação de um referendo de autodeterminação na Catalunha prossegue e está mais forte, apesar do resultado do referendo escocês.

Os analistas apontam as diferenças entre o processo que levou à consulta na Escócia e a que o governo regional da Catalunha quer organizar.

O governo da Escócia negociou com Londres a organização da consulta, realizada legalmente. Na Espanha, Madri se opõe ao processo lançado pelo governo catalão.

"O fato de o debate na Escócia e no Reino Unido ter chegado a um nível de compromisso democrático que não havia sido experimentado em décadas só encorajará o movimento nacionalista catalão", afirmou Pablo Calderón Martínez, pesquisador do King;s College.

"Se a Escócia teve um referendo e seguiu adiante, por que a Catalunha não pode fazer o mesmo?", declarou Calderón Martínez.

O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, comemorou o resultado, mas o alívio de seu governo será de curta duração, considerou o pesquisador.

O Reino Unido e a UE

Embora os líderes das instituições europeias tenham saudado o resultado do referendo escocês, a mensagem que enviaram também foi na direção da próxima consulta que paira sobre o reino, a prometida por David Cameron para 2017 sobre a permanência do Reino Unido na UE.

"O Reino Unido é e será um membro importante da União Europeia, para o bem de todos os cidadãos e dos Estados membros", disse o presidente do Conselho, Herman Van Rompuy, em um comunicado.



Já Martin Schulz declarou que "na próxima vez em que me reunir com David Cameron direi que me soa bem ter um Reino Unido em uma Europa unida".

Segundo os analistas, o "não" escocês reduz o risco de uma saída do Reino Unido. "Acredito que reduz o risco de certa forma", estimou Simon Hix, professor de política comparada da London School of Economics.

"Nos próximos anos não dominará o debate neste governo sobre a Grã-Bretanha na Europa, mas sobre temas internos britânicos", disse em alusão à discussão política sobre as promessas de maior autonomia à Escócia, Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte.

Para Holger Schmieding, analista do banco Berenberg, o resultado "reduz o risco de uma saída" do Reino Unido da UE, embora esta possibilidade continue sendo séria.

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