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Turquia muda de posição sobre luta contra EI depois da libertação de reféns

Segundo o presidente Recep Tayyip Erdogan, "os próximos passos serão muito diferentes"

Agência France-Presse
postado em 26/09/2014 11:58
Istambul- O presidente turco Recep Tayyip Erdogan anunciou nesta sexta-feira (26/09) que a posição de seu país sobre a luta contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) mudou depois da libertação de um grupo de reféns turcos, sugerindo que poderá unir-se à coalizão militar internacional.

Após participar da Assembleia Geral da ONU, Erdogan confirmou à imprensa a mudança da Turquia a este respeito após a libertação em 20 de setembro de 46 cidadãos turcos sequestrados pelo EI em junho. "Nossa posição agora mudou. Os próximos passos serão muito diferentes", afirmou Erdogan em sua chegada a Istambul, proveniente dos Estados Unidos. "Como vocês sabem, um projeto de mandato será apresentado ante o parlamento e será discutido em 2 de outubro. Quando for votado, serão tomadas as medidas necessárias. Este mandato autoriza a intervenção das forças armadas", acrescentou.

O governo islamita conservado rejeitou até a data ligar-se à coalizão liderada pelos Estados Unidos para lutar contra o EI, que começou esta semana a bombardear objetivos jihadistas em território sírio. Ancara tinha até mesmo excluído a abertura de sua base aérea de Incirlik (sul) e seu espaço aéreo para aviões com destino à Síria. Suspeito de armar os movimentos mais radicais, incluindo o EI, em guerra contra o regime do presidente sírio Bashar al-Assad, o governo turco justificou a sua abstenção pela necessidade de proteger a vida de seus 46 cidadãos sequestrados pelos jihadistas em Mossul (Iraque).

Os reféns foram libertados depois de seis dias de negociações que, de acordo com relatos da imprensa turca que as autoridades de Ancara não negaram, resultou na troca de cinquenta militantes jihadistas detidos na Turquia. Já na terça-feira, Erdogan iniciou tal mudança de postura saudando os primeiros ataques aéreos da coalizão na Síria e assegurando que o seu país estava pronto para "todas as formas de apoio, incluindo militar e política".

Combates em Ain al-Arab


Após muito tempo de hesitação, o chefe de Estado classificou o EI na categoria de "organizações terroristas" e denunciou as atrocidades cometidas pelo grupo como "contrárias ao Islã". "A nossa religião é uma religião de paz, de fraternidade e de unidade. Ela não permite o assassinato de pessoas inocentes", disse. "Isso (os abusos) é atribuído ao Islã e infelizmente joga uma sombra sobre a nossa religião".

"Não podemos nos dar ao luxo de dizer que as ações terroristas ao longo de nossa fronteira de 1.250 quilômetros com a Síria e o Iraque não nos diz respeito", acrescentou, em referência ao avanço das forças do EI perto da cidade síria de Ain al-Arab, a poucos quilômetros da fronteira com a Turquia.

O Estado-Maior das Forças Armadas da Turquia indicou em um comunicado que um morteiro disparado da zona havia atingido nesta sexta-feira uma parte desabitada do território turco, sem causar danos ou vítimas. Centenas de curdos turcos e sírios derrubaram nesta sexta-feira a barreira que separa os dois países perto de Mursitpinar (sul) com a intenção de se unir às forças curdas que combatem os jihadistas nos arredores de Ain al-Arab, de acordo com um fotógrafo AFP.



As forças de segurança turcas, que até então se opunham à entrada dos curdos não-sírios em território sírio, não intervieram neste momento. Há uma semana, os combates pelo controle da região causaram um êxodo em massa de sua população de maioria curda em direção a Turquia. O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu informou nesta sexta-feira que o número de deslocados superava os 160 mil.

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