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Mais de 40 crianças morrem em atentado em cidade curda na Síria

Esse é um dos maiores registros de mortes de crianças desde o início da guerra na Síria

Agência France-Presse
postado em 01/10/2014 17:01
Uma criança ferida está em meio aos escombros após o que ativistas dizem que foram quatro ataques aéreos por parte das forças leais ao presidente Bashar al-Assad da Síria em Douma
Os combatentes curdos, apoiados por ataques aéreos da coalizão internacional, defendiam com unhas e dentes nesta quarta-feira (1;/10) a cidade curda estratégica de Kobané, cercada por jihadistas, enquanto pelo menos 41 crianças sírias morreram nesta quarta-feira em um duplo atentado contra uma escola na cidade de Homs.

"As crianças mortas têm entre seis e nove anos", disse à AFP o governador da cidade localizada no centro do país, Talal al-Barazi.

Páginas pró-regime no Facebook exibiam imagens e vídeos da tragédia, com crianças uniformizadas feridas e em pânico, além de partes de corpos espalhadas pelo chão.

[SAIBAMAIS]Esse é um dos maiores registros de mortes de crianças desde o início da guerra na Síria, há mais de três anos, de acordo com a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). O tipo de ataque se assemelha aos do EI ou da Frente al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, também envolvida na guerra na Síria.

Na mesma cidade, outras sete pessoas -quatro civis e três integrantes das forças de segurança - morreram no ataque contra uma escola de Akrama, bairro de maioria alauíta, comunidade islâmica à qual pertence o presidente sírio Bashar al-Assad.

Nos arredores de Kobané, o grupo Estado Islâmico (EI) teria executado dez pessoas, incluindo um civil e três combatentes curdas, segundo o OSDH. Entre as vítimas, cinco teriam sido decapitadas - o civil, as mulheres e um outro combatente curdo.

Os Estados Unidos, que mantêm seus ataques aéreos no Iraque para ajudar as tropas federais e curdas a repelir os jihadistas, avisaram que não será "nem fácil, nem rápido" derrotar esse grupo extremista sunita que controla grandes áreas na Síria e no Iraque.



De acordo com o OSDH, os combates são intensos entre membros do EI e combatentes das Unidades de Proteção do Povo (YPG, a principal milícia curda síria), que defendem Kobané (nome curdo para Ain al-Arab em árabe), na fronteira com a Turquia.

"Há apenas três quilômetros separando os jihadistas" desta que é a terceira maior cidade curda na Síria. A tomada da região permitiria ao EI controlar uma longa faixa de território ao longo da fronteira com a Turquia, segundo o OSDH. "Embora em menor número e em armamento, os combatentes curdos se recusam a bater em retirada", declarou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. "Para eles, é uma questão de vida ou morte".

Os YPG receberam o apoio de caças da coalizão liderada pelos Estados Unidos, que realizaram pelo menos cinco ataques contra as posições do EI a leste de Kobané. Pelo menos oito jihadistas foram mortos. Apesar desses ataques, os jihadistas continuam a disparar foguetes contra a cidade, onde ainda há milhares de civis, segundo o OSDH, após a fuga para a Turquia de mais de 160 mil moradores de Kobané e de aldeias vizinhas tomadas pelos jihadistas.

Turquia decide sobre ajuda à coalizão


Os combates são travados entre os jihadistas e curdos que tentam controlar a situação do alto de uma colina do lado turco da fronteira. "A resistência continua, mas se Kobané cair, será uma catástrofe", diz o combatente curdo Anter Oz.

A Turquia, que reforçou a sua presença militar na fronteira de Mursitpinar, apresentou um projeto autorizando uma intervenção de suas forças armadas no Iraque e na Síria, junto com a coalizão liderada por Washington. O Parlamento turco debaterá a questão na quinta-feira. Mas o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu aos países ocidentais que encontrem uma solução de longo prazo para a crise, afirmando que lançar "toneladas de bombas" contra o EI é apenas uma solução temporária.

O avanço do grupo ultra-radical na Síria, cometendo diversas atrocidades, ofuscou a guerra entre os rebeldes e o regime sírio de Bashar al-Assad. O EI combate tanto os rebeldes quanto o Exército sírio.

Novos ataques no Iraque

Após o início de seus ataques na Síria em 23 de setembro, realizados em colaboração com vários países árabes, os Estados Unidos pediram paciência, dizendo que destruir o EI não é uma tarefa fácil.

Na terça-feira, eles anunciaram que haviam realizado 22 ataques contra o grupo EI na Síria e no Iraque, tendo como principais alvos as refinarias de petróleo controladas por jihadistas e tanques.

Os combatentes do EI não se locomovem mais em grandes grupos, mas se dispersam para evitar que sejam atingidos pelos ataques aéreos, de acordo com o Pentágono. Os ataques americanos contra posições dos jihadistas no Iraque começaram em 8 de agosto, e, por enquanto, apenas França e Grã-Bretanha participam.

No norte do Iraque, as forças curdas, apoiadas pelos caças da coalizão, assumiram quase completamente a cidade de Rabia, na fronteira com a Síria, depois de uma ofensiva lançada ontem contra os jihadistas, de acordo com autoridades locais. Outras operações estão em andamento para retomar as localidades de Zumar e Daqouq.

Além disso, combatentes de uma tribo sunita apoiados pelas forças iraquianas conseguiram repelir um ataque do Estado Islâmico à cidade de Duluiya, ao norte de Bagdá, segundo autoridades locais. Pelo menos 14 pessoas de ambos os lados morreram nos confrontos. A coalizão também atacou uma base do EI em Hawija, ao norte de Bagdá, de acordo com uma fonte da inteligência militar iraquiana.

A Grã-Bretanha, que realizou na terça-feira seus primeiros ataques no Iraque, efetuou outros nesta quarta-feira a oeste de Bagdá contra dois veículos do EI.

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