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Testemunhas e brasileiros relatam medo e horror em atentado no Canadá

País sofre o segundo atentado em dois dias, e autoridades isolam prédios no centro de Ottawa. Atiradores dispararam contra soldado e invadiram parlamento, forçando a fuga de premiê.

postado em 23/10/2014 06:10
Policiais armados correm em avenida diante do prédio do parlamento, que ficou fechado durante várias horas: testemunhas relataram horror
Ao menos dois tiroteios coordenados levaram pânico, ontem, à população de Ottawa, capital do Canadá. De acordo com testemunhas, depois de disparar contra o soldado Nathan Cirillo, 24 anos, em frente ao Memorial de Guerra Nacional, um homem de ascendência argelina identificado como Michael Abdul Zehaf-Bibeau ; armado com um fuzil e com o rosto coberto por um cachecol ; invadiu o prédio do parlamento. Nathan morreu no hospital. Cerca de 20 tiros foram ouvidos na sede do Legislativo, onde três pessoas ficaram feridas.

O primeiro-ministro, Stephen Harper, teve de ser retirado às pressas do local, sob escolta. Ele cancelou a agenda, que previa um encontro com a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, classificou o ataque de ;desprezível; e conversou por telefone com o presidente norte-americano, Barack Obama. Um dos atiradores foi morto pelo sargento em armas Kevin Vickers (veja a foto), segurança do parlamento. As autoridades não descartavam o envolvimento de mais duas pessoas. O atentado repercutiu nos Estados Unidos, e a embaixada do Canadá em Washington foi fechada (leia na página 17).

Apesar do atentado, Harper ressaltou, após conversas com parlamentares, a importância de manter o governo em funcionamento. O premiê estava reunido com legisladores no momento em que o atirador abriu fogo. ;Embora tenha afirmado que os fatos estavam sendo averiguados, o primeiro-ministro condenou este ataque desprezível;, afirmou um comunicado oficial do gabinete. Em entrevista à tevê CNN, um jornalista que estava no Memorial de Guerra Nacional no momento do ataque relatou cenas de terror. ;Eu estava trancando a minha bicicleta quando ouvi quatro tiros;, disse Peter Henderson. ;Vi um dos soldados caído no chão.; A área em torno do parlamento foi isolada, e os prédios vizinhos, esvaziados. O presidente da França, François Hollande, expressou ;solidariedade total; de seu país ao Canadá.

O que seria um dia de trabalho transformou-se em pesadelo para Marilyne Lareau, 28 anos. Funcionária do escritório do líder do New Democractic Party (NDP) no parlamento, ela contou ao Correio que percebeu algo errado ao sair do banheiro. ;Ouvi dois estrondos, muito intensos. Uma mulher veio correndo pelo corredor, gritando ;Atirador! Atirador!’;, relata. Lareau entrou em um escritório e trancou as portas. Por três horas, ficou escondida sob uma mesa, segurando um abridor de envelopes como arma. ;Eu só pensava em sobreviver. Ouvimos barulhos que pareciam tiros ou o som de alguém tentando quebrar as portas;, lembra. Às 17h50 de ontem, enquanto falava à reportagem, Marilyne estava acompanhada de dois colegas e de quatro soldados. ;A polícia e a segurança fizeram um trabalho muito bom. Eles enviaram e-mails nos aconselhando a ficar no escritório e a manter distância das janelas.; Ouça o relato de Lareau:

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Karl Bélanger, 39 anos, secretário do líder da oposição, disse ao Correio que escutou um barulho alto por volta das 9h50 (11h50 em Brasília). ;Em um primeiro momento, nossa equipe pensou que se tratava de outra explosão nas reformas do Bloco Oeste. Os seguranças desceram correndo as escadarias e nos pediram para ficar dentro dos escritórios.;

Brasileiros
Em entrevista ao Correio, o potiguar Caio Jean, 18 anos, aluno da Universidade de Ottawa, se disse impressionado com o sistema de alerta da instituição de ensino. ;Eu estava em aula na hora que aconteceu;, relatou. ;Antes de ficarmos sabendo de qualquer coisa por outras fontes, todos os alunos já haviam recebido um e-mail no qual a administração anunciava o fechamento do parlamento e pedia para que ficássemos longe de portas e janelas, apagássemos as luzes e trancássemos as entradas;, completou. Ainda de acordo com Caio, a medida tinha sido testada pelas autoridades dois dias atrás. ;Aparentemente, funcionou muito bem;, concluiu o estudante de engenharia mecânica.

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O brasiliense Giuliano Reis mudou-se para a capital canadense em 2007, onde trabalha como professor da Universidade de Ottawa. ;A ordem do governo era para fechar as cortinas, apagar as luzes e ficar quieto. Só depois do alerta, ficamos sabendo da real gravidade do incidente;, lamentou. ;Ao meio-dia, decidi deixar o prédio onde trabalho, mas um colega me falou que tinha cinco atiradores à solta e voltei imediatamente;, acrescentou.

O designer Daniel Bianchi, 34 anos, mudou-se para o Canadá em 2007. ;Eu me recordo de um ataque a tiros na Universidade McGill, em Montreal, e outro em Vancouver, anos atrás;, lembrou ao Correio. Daniel trabalha em um local próximo ao parlamento. ;A ordem é esperar. No entanto, vejo que as coisas estão relativamente tranquilas e há pessoas nas ruas;, disse. ;Apenas a região onde o ataque ocorreu está bloqueada. Na ponte ao lado, a polícia para os carros para vistoria.;

Colaboraram Rodrigo Craveiro e Leonardo Meireles

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