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Ucrânia encerra campanha eleitoral ainda em meio a conflito armado

Mais de 824 mil pessoas precisaram deixar suas casas na Ucrânia devido o conflito, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados da ONU

Agência France-Presse
postado em 24/10/2014 12:13
A Ucrânia encerra nesta sexta-feira a campanha eleitoral para as legislativas antecipadas de domingo, com as quais os pró-ocidentais que conduziram o movimento de contestação da Praça Maidan esperam reforçar seu poder, em plena crisa com a Rússia no leste separatista pró-russo.

As eleições ocorrem num período extremamente difícil para esta ex-república soviética às portas da União Europeia e que perdeu em março a península da Crimeia, anexada pela Rússia, e que enfrenta uma insurreição armada pró-russa na região mineradora de Donbass, um conflito que já fez mais de 3.700 mortos desde meados de abril.

Mais de 824 mil pessoas precisaram deixar suas casas na Ucrânia devido o conflito, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados da ONU: 430 mil pessoas se deslocaram no interior do país; 387 mil fugiram para a Rússia; 6,6 mil pediram asilo na União Europeia.

"Não haverá conflito velado, porque o Donbass não pode sobreviver sem a Ucrânia", assegurou nesta quinta-feira em Odessa o presidente Petro Poroshenko, cujo partido é o favorito para as eleições parlamentares.

[SAIBAMAIS]No entanto, o processo de paz iniciado pelo presidente não foi suficiente para parar completamente os combates, e os separatistas, que controlam partes das regiões de Donetsk e Lugansk, se preparam para realizar as suas próprias eleições em 2 de novembro.

Um cessar-fogo foi alcançado no início de setembro entre Kiev e os rebeldes, com a participação da Rússia, mas intensos combates prosseguem em alguns redutos de resistência, provocando a morte de civis quase diariamente.

Nesta sexta-feira em Donetsk, disparos de artilharia eram ouvidos nos arredores do aeroporto, um dos pontos mais disputados nas últimas semanas. Em Kiev, um porta-voz militar, Andrii Lysenko, relatou oito soldados feridos em 24 horas no leste.

Reformas econômicas
O presidente Poroshenko, em sua conta no Twitter, pediu aos ucranianos que votem em massa para "concluir a formação do novo poder iniciado em junho", assumindo as funções do pró-russo Viktor Yanukovytch, refugiado na Rússia desde fevereiro.

O movimento do presidente lidera as pesquisas com mais de 30% das intenções de votos, seguido por outras formações pró-ocidentais. Ele espera alcançar com essas eleições "uma maioria constitucional" para permitir a realização de reformas vitais para este país muito corrupto e em profunda recessão, agravada pelo conflito armado.

Pela primeira vez na história da Ucrânia pós-soviética, o Parlamento deve ser dominado por pró-ocidentais em razão do aumento de sentimentos anti-russos, enquanto 5 milhões dos 36,5 milhões de eleitores não poderão votar, já que vivem na Crimeia e em áreas controladas pelos rebeldes em Donbass, tradicionalmente pró-Rússia.



Duas formações herdeiras do Partido das Regiões, do presidente deposto Viktor Yanukovytch, a Ucrânia Forte e Bloco de Oposição, poderiam alcançar os 5% necessários para entrar no Parlamento, mas os comunistas podem nem chegar a ser representados.

A nova Assembleia incluirá, em contrapartida, ativistas da sociedade civil envolvidos na contestação de Maidan, bem como voluntários que lutaram no leste e querem fazer ouvir "a voz do front" no Parlamento. Após as eleições, a primeira tarefa do chefe de Estado será construir uma coligação forte, capaz de adotar duras medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais da Ucrânia, o FMI e Bruxelas à frente.

O primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk alertou na quinta-feira que a Ucrânia deverá se concentrar para obter mais ajuda do FMI, que já investiu 17 bilhões no país. "Precisamos formar o mais cedo possível um novo governo e convidar uma missão do Fundo Monetário Internacional", ressaltou Yatsenyuk. "Precisamos de mais ajuda", disse ele.

Com a aproximação do inverno, Kiev, que está privada do gás russo desde junho, também deve urgentemente resolver esta disputa com Moscou, que poderia interromper o fornecimento para a Europa.

A Rússia, atingida por duras sanções ocidentais sem precedentes, também sofre as consequências do conflito sobre sua economia. O rublo caiu nesta sexta-feira a níveis recorde face as moedas europeia e americana, com o euro ultrapassando os 53 rublos.

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