Mundo

Parlamento francês debate reconhecimento da Palestina

A resolução simbólica ressalta "a continuidade ilegal da colonização nos territórios palestinos"

Agência France-Presse
postado em 28/11/2014 15:01
Depois dos colegas espanhóis e britânicos, é a vez de os deputados franceses votarem uma resolução simbólica para pedir ao governo que reconheça o Estado da Palestina, em um contexto de frustração internacional diante do fracasso do processo de paz no Oriente Médio.

Com a iniciativa dos deputados de maioria socialista, a Assembleia Nacional (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil) se pronunciará sobre uma resolução que "convida o governo francês a reconhecer o Estado da Palestina no sentido de obter uma solução definitiva para o conflito". A votação está prevista para terça-feira, 2 de dezembro.

Aos deputados franceses, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, pediu a resolução do conflito entre Israel e Palestina no prazo de dois anos. "Nas Nações Unidas, trabalhamos com nossos parceiros para tentar adotar uma resolução do Conselho de Segurança a fim de retomar e concluir as negociações. O prazo de dois anos é o mais mencionado e a França concorda com ele", disse.

Suas declarações acontecem em um momento em que os palestinos se dispõem a pedir à ONU o fim da ocupação israelense em 2016. Fabius disse que a França se prepara para ser anfitriã de uma conferência internacional sobre este conflito, embora não tenha precisado quando ela acontecerá nem quais seriam os participantes.

O tema é particularmente sensível na França, país que tem as comunidades judia e muçulmana mais importantes da Europa. Isso se reflete na Assembleia Nacional, que está dividida em relação ao texto, embora ele deva ser aprovado na terça-feira.

Espera-se que os parlamentares de esquerda, maioria na Assembleia, votem pela resolução, com a exceção de alguns, mais próximos de Israel, que criticam o gesto. Po outro lado, se espera que a oposição de direita, que acha que o Parlamento não deve ser meter nos assuntos do Executivo, vote contrariamente, embora também apresente suas exceções.

A resolução constata "o fracasso das tentativas de reativação do processo de paz" entre israelenses e palestinos desde 1991, e ressalta "a continuidade ilegal da colonização nos territórios palestinos".

O texto afirma a "urgente necessidade de desembocar em uma solução definitiva do conflito que permita o estabelecimento de um Estado democrático e soberano da Palestina, em paz e em segurança ao lado de Israel, com base nas fronteiras de 1967, com Jerusalém como capital dos dois Estados".

Beco sem saída
Esta resolução é debatida em um momento em que a situação degringola no Oriente Médio. Os atos de violência se multiplicaram nas últimas semanas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia ocupada. Alguns observadores advertem que há riscos de uma terceira intifada palestina.

As negociações entre israelenses e palestinos fracassaram em abril apesar dos nove meses de sucessivas viagens e esforços do secretário de Estado norte-americano John Kerry, e parece estar descartada toda perspectiva de recomeço. "É um beco sem saída, e nada é mais perigoso que o imobilismo e o status quo atual", declarou a AFP à deputada socialista Elisabeth Guigou, que defende o projeto de resolução.



Depois da decisão da Suécia de reconhecer a Palestina, e das sucessivas resoluções parlamentares britânica e espanhola, Israel, que denuncia essas iniciativas "unilaterais", acompanhará de perto o debate francês. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o reconhecimento francês seria um "erro grave". E o embaixador israelense em Paris, Yossi Gal, disse que a iniciativa pode "exacerbar a situação".

A resolução do parlamento não significa, contudo, que a França reconhecerá oficialmente a Palestina. "Ela não vincula o governo", lembrou na semana passada o ministro Fabius, que afirmou reiteradas vezes que o reconhecimento pode ser útil para a solução do conflito e não apenas simbólico. As autoridades francesas ressaltam que Paris quer atuar de forma concertada no plano internacional.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação