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Farc pedem perdão por massacre em igreja na Colômbia em 2002

Em meio a um combate entre membros das Farcs e paramilitares colombianos, a guerrilha disparou um projétil artesanal que atingiu a igreja por engano

Agência France-Presse
postado em 18/12/2014 17:23
Havana- A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pediu perdão, nesta quinta-feira (18/12), aos habitantes da comunidade de Bojayá, no noroeste da Colômbia, pelo massacre em uma igreja que "nunca deveria ter acontecido" e que deixou 79 mortos, em 2002.

"Oxalá nos perdoem" - declarou o comandante Pablo Catatumbo, em uma entrevista coletiva em Havana, depois do encontro a portas fechadas de um grupo de cerca de dez habitantes de Bojayá com a delegação de paz da guerrilha, no hotel Palco, oeste da capital cubana. A reunião durou pelo menos uma hora e meia.

"Reiteramos nosso profundo pesar pelo ocorrido. Isso nunca deveria ter acontecido", acrescentou Pablo Catatumbo, na presença de delegados da ONU, de representantes dos países fiadores (Cuba e Noruega) e dos acompanhantes do processo (Venezuela e Chile).

Também esteve presente o embaixador da Colômbia, Gustavo Bell, na ausência dos negociadores do governo. Na quarta-feira (18/12), eles voltaram a Bogotá para encerrar o 31; ciclo de práticas de paz com a guerrilha.

Em 2 de maio de 2002, em meio a um combate entre membros das Farc e paramilitares colombianos em Bojayá, a guerrilha disparou um projetil artesanal. Por erro, o artefato caiu na igreja, onde os moradores haviam se refugiado. Dos 79 civis mortos, 48 eram menores de idade, segundo relatos de habitantes locais.

Homenagem aos mortos


Embora as conversas no Hotel Palco tenham sido a portas fechadas, testemunhas relataram à AFP que foi um momento emotivo e solene. "Foi muito emotivo. Estenderam no chão uma tela com as fotos das 79 vítimas, e três padres católicos, que viajaram junto com a delegação de Bojayá, oficiaram um ato em sua memória", contou uma das fontes consultadas pela AFP.

Já o chefe da equipe negociadora das Farc, comandante Iván Márquez, disse à AFP que a cerimônia "foi muito bonita, emocionante e solene". "Em nossa memória, está gravado de forma impossível de apagar a dor que esse massacre produziu", reagiu Leyner Palacios, em nome da comunidade.

"Mas o perdão pode ser concedido apenas por cada vítima, por cada sobrevivente. Por isso, nós levaremos às nossas comunidades essa declaração do pedido de perdão que as Farc fizeram hoje", acrescentou. "Ouvir de todos os atores que eles pedem perdão às vítimas é um passo muito necessário para poder iniciar uma reconciliação no país", defendeu.

Os habitantes de Bojayá culpam a guerrilha, os paramilitares e o governo pelo massacre. Este último é responsabilizado por não ter atendido ao alerta dado pelos habitantes antes do combate. "As Farc devem mostrar atos concretos que manifestem seu arrependimento, de tal maneira que a sinceridade manifesta se traduza em ações concretas", disse Palacios.



Entre os pontos, Palacios citou o "compromisso de não cometer mais agressões contra a população civil" e que Bojayá e toda a costa do Pacífico colombiano seja declarada zona de paz. As Farc concordaram com o pedido feito pela comunidade de Bojayá de realizar outro ato de reconciliação no local da tragédia, em meados de 2015.

A guerrilha declarou ainda que, diante da dor de todas as vítimas da guerra, "anunciamos a decisão de declarar um cessar-fogo unilateral, indefinido e vigiado das hostilidades". O último grupo dessas vítimas foi recebido terça-feira, em Havana.

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