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Especialista explica a influência do papa na reaproximação entre EUA e Cuba

Autora de "O internacionalismo Vaticano e a nova ordem mundial", a professora Anna Carletti falou com o Correio sobre o acordo histórico

Silvio Queiroz
postado em 19/12/2014 08:35
A Santa Sé acumula uma vasta experiência histórica de arbitragem e mediação de conflitos, mas não ocupava um papel tão central como pivô do diálogo entre dois países desde que João Paulo II intercedeu para evitar uma guerra entre Argentina e Chile na crise do Canal de Beagle, no início dos anos 1980. ;Essas mediações ; ainda mais quando têm sucesso, como essa última ; têm o efeito colateral de relançar a Santa Sé no plano internacional;, avalia Anna Carletti, professora de relações internacionais da Universidade do Pampa e colaboradora do Programa de Pós-Graduação de Estudos Estratégicos Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autora de O internacionalismo vaticano e a nova ordem mundial, ela falou ao Correio sobre o peso exercido pelo papa Francisco na reaproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba.

Professora Anna CarlettiQual foi o interesse do Vaticano em mediar os contatos diplomáticos entre EUA e Cuba?

Um dos meios de atuação internacional da diplomacia vaticana é a arbitragem ou medição de conflitos entre Estados. Ao longo da história, foram registradas 14 intervenções importantes, a primeira durante a guerra franco-prussiana, em 1870. Uma mediação que ganhou destaque internacional foi na disputa chileno-argentina sobre o canal de Beagle, de 1978 a 1984. A mediação operada nas difíceis relações entre EUA e Cuba se insere e se explica na esteira de uma tradição e grande experiência acumulada pela Santa Sé na mediação e na tentativa de resolução de conflitos. O atual secretário de Estado, o cardeal Parolin evidenciou mais de uma vez que os objetivos da diplomacia vaticana são justamente construir pontes, apoiar as negociações e o diálogo como meio para resolução de conflitos. Fez questão de reiterar que não existem outros interesses ou estratégias por parte do papa. Eu acrescentaria que, mesmo a Santa Sé afirmando não ter outros interesses, essas mediações ; ainda mais quando têm sucesso, como essa última ; têm o efeito colateral de relançar a Santa Sé no plano internacional e revitalizar aquela autoridade moral própria e única, que nos últimos anos foi bastante ferida pelos escândalos de pedofilia, além dos financeiros.



[SAIBAMAIS]Havana tem aperfeiçoado as relações com o Vaticano desde a visita histórica do papa João Paulo II. Também a Santa Sé tem olhos na evolução futura de Cuba?
As relações diplomáticas com Cuba foram as únicas que permaneceram interruptas entre a Santa Sé e um país socialista. Temos hoje quatro países comunistas: a China, cujo tema das relações com a Santa Sé é ainda um tema não resolvido; o Vietnã, que ainda não tem relações formais, mas cujo estágio de negociações se encontra mais avançado do que o da China e da Coreia do Norte. Portanto, Cuba sempre esteve entre as prioridades do Vaticano. Pelas características peculiares do governo castrista e do contexto regional e internacional, foi possível manter essas relações. A abertura de João XXIII ao diálogo com os governos comunistas facilitou tais relações. Não obstante os problemas entre o governo castrista e a Igreja cubana, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, a Santa Sé fez de tudo para mitigar os desentendimentos e manter canais abertos para o diálogo.

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