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Ausência de Chávez e crise na Venezuela levam Cuba a se aproximar dos EUA

Falecido em março de 2013, Chávez transformou a Venezuela no principal aliado político e parceiro comercial da ilha

Agência France-Presse
postado em 27/12/2014 12:08
As dificuldades políticas na Venezuela depois da morte do presidente Hugo Chávez, principal parceiro de Cuba, incentivaram o presidente Raúl Castro a buscar um entendimento com seu arquirrival Estados Unidos depois de meio século, avaliam especialistas.

"Aos olhos do governo cubano, o acordo com os Estados Unidos oferece mais oportunidades do que problemas para Cuba. Há riscos, mas Cuba acredita que tem muito o que ganhar", acrescentou.

Falecido em março de 2013, Chávez transformou a Venezuela no principal aliado político e parceiro comercial da ilha, ajudando Cuba a sair da crise econômica em que estava imersa desde o colapso da então União Soviética, em 1991.

Desde 1962, Cuba enfrenta o embargo econômico americano, que será flexibilizado mas não eliminado (o que requer aval do Congresso), como disse na quarta-feira o presidente Barack Obama, ao anunciar o histórico acordo para normalizar as relações com a ilha comunista.

"Havana tem muito a ganhar com o início do processo, especialmente nesse momento em que seu parceiro regional, a Venezuela, enfrenta uma grave instabilidade", escreveu em um relatório a empresa americana de análise Stratfor Glogal Intelligence.



"Cuba teme que a contração da economia venezuelana limite uma das fontes de financiamento da ilha e os envios de petróleo a baixo custo, enquanto tenta uma transição para um novo modelo econômico", acrescentou a Stratfor em seu boletim.

A Venezuela fornece petróleo a Cuba com facilidades de pagamento em 60% do que consome (US$ 2,759 bilhões, em 2011) e paga (US$ 5,4 bilhões, em 2011) pelos serviços de aproximadamente 40 mil profissionais, entre eles 30 mil médicos e paramédicos.

Quando a saúde de Chávez se deteriorou no final de 2012, muitos cubanos temeram o fantasma dos difíceis anos 1990, quando a economia da ilha ficou destroçada pelo fim da ajuda soviética. Teve início, então, o chamado "Período especial", durante o qual a vida cotidiana se tornou tortuosa, com apagões de até 16 horas por dia, ausência quase total de transporte e severa escassez de alimentos, roupas, calçados e artigos de higiene.

Embora o "Período especial" oficialmente nunca tenha terminado, a economia cubana começou a se recuperar de maneira gradual depois que Chávez chegou ao poder em 1999 e se tornou o maior parceiro da ilha.

A Venezuela enfrenta um complicado panorama econômico por causa da queda dos preços do petróleo, que esta semana caiu ao nível mais baixo dos últimos quatro anos e se situou pela primeira vez abaixo dos US$ 60.

Caracas obtém 96% de suas receitas do petróleo e a queda no preço da commodity acontece no momento em que a Venezuela se vê atingida por uma inflação anual de 63,4%, assim como pela escassez de muitos alimentos e de outros produtos, além de uma aguda seca de divisas.

"A situação da Venezuela é importante para o governo de Cuba, mas não apareceu em nossas conversas para a retomada das relações diplomáticas", disse nesta quinta-feira um funcionário de alto escalão do governo americano, em Washington.

Diversificação da economia

Normalizar os laços com Washington "é um esforço a mais do governo (cubano) para diversificar sua economia e reduzir a dependência da Venezuela", disse à AFP o economista cubano Pavel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.

Para Vidal, uma interrupção do comércio com Caracas provocaria uma "recessão" de quatro anos em Cuba.

"As instabilidades e tensões políticas do governo de Nicolás Maduro voltam a chamar atenção para a vulnerabilidade da economia cubana", escreveu Vidal em um artigo publicado recentemente.

O economista ressalta que, apesar da importância da ajuda venezuelana para a economia da ilha, as relações entre Cuba e URSS eram ainda mais intensas. "Em 1990, as relações comerciais com a URSS representavam cerca de 28,2% do PIB, enquanto as relações com a Venezuela são de 18,3% do PIB", afirmou.

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