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Prisões de ativistas provocam atrito entre Cuba e EUA após reconciliação

Vários ativistas seguem detidos desde terça-feira (30/12), na primeira onda repressiva após o acordo entre os dois países

Agência France-Presse
postado em 31/12/2014 10:13
As autoridades cubanas prenderam a artista Tania Bruguera e outros dissidentes para impedir uma performance pública em Havana, em uma onda de repressão que provocou nesta quarta-feira (31/12) o primeiro atrito entre Cuba e Estados Unidos após sua histórica reconciliação.

Bruguera, de 46 anos, e outros dissidentes foram presos ou colocados sob prisão domiciliar na terça-feira para impedir que desafiassem o governo na performance pública que a artista faria na Praça da Revolução de Havana, mas alguns já foram libertados, segundo o site opositor 14ymedio.

"Bruguera encontra-se presa na unidade policial de Acosta, no município de Diez de Octubre, em Havana", indicou o site, dirigido pela famosa blogueira opositora Yoani Sánchez, que esteve sob prisão domiciliar na terça-feira, mas que já foi libertada.

O marido de Sánchez e editor geral do 14ymedio, Reinaldo Escobar, que esteve detido por várias horas e que foi libertado na noite de terça-feira, afirma ter visto Tania vestindo "um uniforme cinza de presidiária" neste mesmo centro policial, indicou o site.

[SAIBAMAIS]Assim como Bruguera, outros ativistas seguem detidos desde terça-feira, na primeira onda repressiva após o acordo entre Cuba e Estados Unidos para restabelecer relações diplomáticas, anunciado em 17 de dezembro simultaneamente pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro. Nos últimos anos, era comum que os dissidentes presos fossem libertados horas depois sem acusações.

Os meios de comunicação oficiais cubanos, que descreveram a performance artística que Bruguera pretendia fazer como uma provocação política, não informaram sobre estas prisões, que levaram os Estados Unidos a declarar estar profundamente preocupados.

"Estamos profundamente preocupados com as últimas informações de detenções por parte das autoridades cubanas de membros pacíficos da sociedade civil e de ativistas", disse o departamento de Estado americano em um comunicado.

"Condenamos fortemente a perseguição contínua do governo cubano e a utilização reiterada da detenção arbitrária, às vezes com violência, para silenciar os críticos, perturbar as reuniões pacíficas e a liberdade (de) expressão, e intimidar cidadãos", acrescentou.

Agentes em apartamento de Bruguera
O dissidente Elizardo Sánchez havia denunciado na terça-feira à AFP que uma dezena de opositores haviam sido presos para impedir a performance na emblemática Praça, coração político de Cuba, onde Bruguera colocaria um palco e um microfone para que qualquer cubano dissesse o que quisesse durante um minuto.

Vinte opositores e muitos correspondentes estrangeiros se dirigiram à praça na terça-feira no horário indicado, às 15h00 locais (18h00 de Brasília), mas a artista não estava no local e não conseguia ser contactada, já que seu telefone celular estava fora de serviço e seu apartamento tomado por policiais à paisana que impediam o acesso, constataram jornalistas da AFP.



Bruguera - que se divide entre Cuba, Estados Unidos e França - havia promovido sua atividade através das redes sociais, à margem dos meios de comunicação da ilha, que estão sob controle estatal.

Segundo o 14ymedio, seguem detidos seu repórter Víctor Ariel González, os dissidentes Antonio Rodiles e Eliécer Ávila, o fotógrafo Claudio Fuentes e sua acompanhante, Eva Baquero.

Este site é o único meio de comunicação independente de Cuba, mas quase não é lido na ilha devido à pequena cobertura de internet e porque às vezes é bloqueado.

Provocação política e reality show
A artista havia convocado os cubanos a expressarem livremente suas ideias sobre o futuro da ilha, mas era pouco provável que esta atividade fosse tolerada pelo governo comunista.

A Praça é palco de grandes manifestações do governo e à frente dela encontram-se a casa de governo, o Comitê Central do Partido Comunista (único) e o poderoso Ministério das Forças Armadas Revolucionárias.

A performance havia sido rejeitada de antemão pela governista União de Escritores e Artistas de Cuba, que a classificou de provocação política, e pelo Conselho Nacional de Artes Plásticas, dependente do Ministério da Cultura, que afirmou que se tratava de um reality show, e não de uma obra de arte.

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