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Uma semana após morte de promotor, dúvidas cercam a Argentina

Enquanto isso, as dúvidas sobre o caso Nisman são lidas e escutadas em toda a imprensa, as redes sociais e nas ruas

Agência France-Presse
postado em 25/01/2015 14:54
Buenos Aires, Argentina - A Argentina continua atenta aos detalhes que cercam a morte do promotor Alberto Nisman que, quatro dias após denunciar a presidente Cristina Kirchner, foi encontrado morto por um tiro de uma arma emprestada no último domingo.

A promotora Viviana Fein, que investiga a morte do colega, detalhou que "o disparo foi [feito] a uma distância não maior que um centímetro" e que "a arma foi apoiada sobre a têmpora", disse neste sábado ao canal de noticias TN. Viviana reafirmou a hipótese inicial de suicídio, embora a investigação esteja sendo conduzida por "morte duvidosa".

Enquanto isso, as dúvidas sobre o caso Nisman são lidas e escutadas em toda a imprensa, nas redes sociais e nas ruas. Nisman foi encontrado morto na noite de domingo com um tiro na têmpora que não deixou restos de pólvora na mão, horas antes de comparecer ao Congresso para explicar uma denúncia contra Kirchner e seu chanceler, Héctor Timerman, por encobrir ex-funcionários iranianos indiciados por ter idealizado ou realizado o atentado contra a a associação judaica AMIA em Buenos Aires, em 1994.

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O atentado, que deixou 85 mortos e 300 feridos, ocorreu dois anos depois de outro, na embaixada de Israel (que matou 29 pessoas) e é considerado o maior ataque terrorista na história da Argentina. "Queremos que a morte de Nisman seja investigada com profundidade, já que seu desaparecimento leva um enorme conhecimento sobre o caso AMIA", disse à AFP Ariel Cohen, membro da direção da associação judaica.

Nisman, de 51 anos, era o promotor encarregado do caso desde 2004 e se reuniu com líderes da comunidade judaica na quinta-feira anterior a sua morte. "Estava agitado, não nos deu provas de sua denúncia, mas nada nos dizia que ele planejava sua morte", disse Julio Schlosser, presidente da DAIA, agremiação que reúne mais de 140 grupos judaicos.

Decifrando pistas
A morte de Nisman parece saída de um romance policial, sem testemunhas e rodeada de teorias. Entre elas, a de "suicídio induzido" parece a mais provável para governo, oposição e população - mas quem teria feito isso?

Na última sexta-feira as autoridades proibiram a saída do país de Diego Lagomarsino, um colaborador próximo ao promotor que lhe emprestou no último sábado a pistola calibre 22 que o matou. Lagomarsino pode ter sido a última pessoa que o viu com vida.
A edição deste domingo do jornal La Nación diz que Lagomarsino foi imputado pelo delito de concessão ilegítima de arma e será chamado a depor.

Policial da escolta do promotor, Rubén Benítez declarou que Nisman teria pedido ajuda a ele para comprar uma arma, revelou o mesmo jornal esta semana.

O jornalista Damián Pachter, do "Buenos Aires Herald", o primeiro a noticiar a morte do promotor, disse que deixou o país neste sábado após ter sido ameaçado - segundo o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea). Pachter, também colaborador do jornal Haaretz, de Israel, relatou a colegas que seus telefones estavam sendo grampeados.

A agência Télam revelou que o jornalista "viajou ao Uruguai com passagem de volta para 2 de fevereiro", e mostrou o bilhete comprado nesta sexta-feira na empresa Aerolíneas Argentinas. O Buenos Aires Herald disse que não tinha conhecimento de qualquer ameaça, mas confirmou que desde a sexta-feira Pachter não é visto no trabalho.

A denúncia não morreu
A denúncia de Nisman foi baseada em escutas telefônicas entre supostos espiões e pessoas próximas ao governo, e será feita em fevereiro. As provas foram guardadas por um juíz.

"A denúncia de Nisman evidentemente tinha outros telefones celulares, conheço seus escritos, e me atreveria a dizer que esta denúncia não tem a letra de Nisman", disse à AFP Walter Goobar, jornalista e investigador dos atentados em 1992 e 1994 em Buenos Aires. Goobar vincula a denúncia de Nisman com "a remoção da cúpula da Secretaria de Inteligência" argentina em dezembro passado.

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