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'Foi ele', admite defesa sobre acusado de atentados em Boston

Tsarnaev compareceu de blazer na sala de audiências lotada do tribunal presidido pelo juiz federal George o'Toole, onde foram revividas as sangrentas cenas registradas pelas explosões de bombas artesanais perto da linha de chegada da maratona

Agência France-Presse
postado em 04/03/2015 19:09
Boston - A defesa do único acusado pelos atentados contra a maratona de Boston, em 2013, admitiu que seu cliente cometeu os sangrentos ataques que deixaram três mortos e 264 feridos, na abertura do aguardado julgamento na cidade do nordeste dos Estados Unidos.

"Foi ele", reconheceu a advogada Judy Clark, ao lado de Djokhar Tsarnaev, um jovem muçulmano de origem chechena de 21 anos, que poderá ser condenado à pena capital caso seja considerado culpado do pior atentado cometido em solo americano desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Tsarnaev compareceu de blazer na sala de audiências lotada do tribunal presidido pelo juiz federal George o;Toole, onde foram revividas as sangrentas cenas registradas pelas explosões de bombas artesanais perto da linha de chegada da maratona.

O promotor federal William Weinreb afirmou que o alvo dos ataques "era matar tantas pessoas quanto fosse possível", lembrando que algumas "sangraram até morrer na calçada", após as explosões atribuídas a Djokhar e seu irmão, Tamerlan, que tinha 27 anos na época e foi morto pela polícia quatro dias depois dos fatos.

O jovem, de constituição magra e rosto de adolescente, tinha se declarado inocente das 30 acusações impostas contra ele, mas nas dramáticas alegações iniciais, sua advogada de defesa admitiu diante dos 12 jurados que o jovem estudante foi quem executou os ataques. "Não evitamos, nem vamos evitar de forma alguma as responsabilidades de Dzhokhar por seus atos", disse.

A advogada acrescentou, ainda, que a defesa estaria de acordo com muitas evidências apresentadas pela promotoria e pediu ao júri que mantenha seus corações e mentes abertos para a segunda parte do processo, centrado na sentença.

As três vítimas fatais foram um menino de oito anos, uma estudante chinesa de 22 e uma mulher de 29. Quinze feridos tiveram que sofrer amputações. Alguns deles deram testemunhos arrepiantes nesta quarta-feira.

Djokhar também foi acusado, juntamente com Tamerlan, de ter assassinado um policial durante a fuga, que terminou com a morte do irmão e sua prisão, escondido com ferimentos graves em um barco que estava no jardim de uma casa nos arredores de Boston, em 19 de abril.

"Um lado oculto"

Os irmãos Tsarnaev, acusados de ter planejado sozinhos os atentados, são um exemplo da ameaça representada pelos lobos solitários auto-radicalizados, tão temidos pelas autoridades americanas.

A defesa tenta apresentar Tamerlan como o líder, o principal conspirador, sem o qual nada teria ocorrido, embora nesta primeira parte do julgamento não possa se referir a ele.

Mas a promotoria assegurou nesta quarta-feira que Djokhar, que obteve a nacionalidade americana em 2012 e estudava na Universidade de Massaschusetts, em Dartmouth (perto de Boston), "tinha um lado que manteve oculto" e lia desde 2011 literatura terrorista.

Era considerado um jovem bem integrado. Desde a sua prisão, ele está praticamente isolado em uma prisão hospital a 70 km de Boston.

"O governo americano mata nossos civis inocentes (...). Nós, muçulmanos, somos um só corpo, quando prejudicam um de nós prejudicam todos. (...) Parem de matar nossos inocentes e pararemos", havia escrito para explicar seu ato dentro do barco onde foi encontrado pela polícia.

O júri, cuja seleção terminou na terça-feira, é composto por oito homens e dez mulheres, todos brancos.

Doze deles decidirão sobre a culpa de Tsarnaev, mas também, em um segundo momento, se o acusado será condenado à pena de morte ou à prisão perpétua, as únicas opções possíveis se for declarado culpado. Os outros seis são substitutos.

O estado de Massaschusetts aboliu a pena de morte em 1984. Mas, por se tratar de um ato terrorista com uso de uma arma de destruição em massa, o caso pertence à justiça federal.

A advogada de defesa Judy Clarke é uma das melhores especialistas em pena capital nos Estados Unidos. Conseguiu evitar que ela fosse aplicada contra vários acusados, entre eles o autor do atentado dos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996, Eric Rudolph, ou Ted Kaczynski, conhecido como "Unabomber", o matemático que enviou entre 1978 e 1995 quinze pacotes-bomba que deixaram 3 mortos e 23 feridos.

Todos se declararam culpados em troca de uma condenação à prisão perpétua. Estima-se que o julgamento dure até junho.

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