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Esquerda francesa teme derrota em eleições regionais

A esquerda pode perder mais da metade dos 61 departamentos que governa, e tem se esforçado para mobilizar seu eleitorado e limitar o fracasso

Agência France-Presse
postado em 29/03/2015 10:35
Face a uma direita unida e uma extrema-direita bem estabelecida, o governista Partido Socialista espera uma derrota neste domingo nas eleições departamentais francesas - um mau presságio para as eleições presidenciais de 2017.

A participação será um fator-chave para o segundo turno das eleições locais. No primeiro, há uma semana, apenas metade dos 43 milhões de eleitores convocados compareceram às urnas.

Ao meio-dia (7h de Brasília), a participação era de 15,63% neste domingo, ainda menor do que no primeira turno na mesma hora (18,02 %).

A esquerda pode perder mais da metade dos 61 departamentos que governa, e tem se esforçado para mobilizar seu eleitorado e limitar o fracasso.

O presidente, François Hollande, se permitiu fazer uma piada sobre a participação enquanto votava em seu reduto, Thulle (centro): "os eleitores já saíram da cama?", perguntou Hollande a um fiscal de mesa.

O primeiro-ministro, Manuel Valls, multiplicou os comícios nas últimas semanas para mobilizar sua base e tentar conter a extrema-direita da Frente Nacional (FN).

Há uma semana, o partido de extrema-direita foi a segunda força mais votada (25%), atrás apenas do partido UMP do ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy e seus aliados centristas (28,75%), e à frente dos socialistas (21,5 % dos votos).

"Resistência, resistência, resistência frente à extrema-direita", clamou Manuel Valls em comício da noite de sexta-feira, considerando o FN "perigo mortal" que "pode ganhar a eleição presidencial".

Ao votar na cidade de Henin-Beaumont (norte), onde o FN controla a prefeitura, a líder do partido, Marine Le Pen, afirmou que espera "várias dezenas" de cargos nos conselhos gerais, que regem os departamentos.

- Momento delicado para Hollande -

Valls, muito comprometido durante a campanha, em princípio deve continuar no cargo, independentemente do resultado.

No entanto, uma remodelação ministerial pode ocorrer no início de abril, na qual os ecologistas voltariam ao governo - partido que no primeiro turno se recusou a apoiar um governo que consideram muito liberal em sua política econômica.

O momento é delicado para Hollande, impopular por uma situação econômica que continua estagnada, com o desemprego em níveis recordes e crescimento muito baixo.

Um assessor do presidente, preocupado, antecipa uma "amplificação" neste domingo do ;tapa; do primeiro turno.

"À frente de uma maioria muito fraca e fragmentada, falta margem de manobra para realizar novas reformas, e todos (no Eliseu) temem sua eliminação no primeiro turno (das eleições presidenciais)de 2017", afirma o assessor.

- Panorama político tripartite -

Com a implementação confirmada da extrema-direita na política francesa, caracterizada durante décadas por uma rivalidade entre esquerda e direita, o país entrou no tripartidarismo - fenômeno "longevo", segundo o cientista político Pierre Martin.

O eleitorado, "cada vez mais polarizado sobre imigração e insegurança e o sentimento de declínio econômico da França", acredita que "os partidos estabelecidos falharam e já não são confiáveis", disse o especialista, citado neste sábado pelo jornal Le Parisien.

Pela primeira vez, o FN tem a chance de ganhar em vários departamentos, especialmente no Vaucluse (sul), cuja capital, Avignon, é reduto de Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha de Marine Le Pen e uma das figuras mais promissoras do partido.

A extrema direita também tem opções no norte da França, nos departamentos de Aisne e Pas-de-Calais.

Ao longo da semana, Valls criticou a recusa de Sarkozy em apoiar os candidatos socialistas nos locais onde o segundo turno era disputado entre o PS e o FN.

O primeiro-ministro denunciou o que considera "um cheque em branco para a Frente Nacional".

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