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Cenário indefinido às vésperas das eleições legislativas britânicas

Pesquisas de boca de urna darão uma ideia precisa do desenlace pouco antes do fechamento dos locais de votação

Agência France-Presse
postado em 05/05/2015 10:09
Londres, Reino Unido - Os britânicos vão às urnas na quinta-feira para votar nas eleições legislativas mais disputadas de que se tem registro e que poderão mudar radicalmente o cenário político, com o aparecimento de vários partidos até agora periféricos.

Quarenta e cinco milhões de britânicos maiores de 18 anos estão aptos a votar na quinta-feira entre as 07H00 locais (03H00 de Brasília), quando as seções eleitorais vão abrir as portas, e as 22H00 locais (18H00 de Brasília).

As pesquisas de boca de urna darão uma ideia precisa do desenlace pouco antes do fechamento dos locais de votação, mas os resultados serão anunciados a conta-gotas durante a noite e só serão conhecidos avançada a madrugada.



Ombro a ombro até o último dia
Trabalhistas e conservadores continuam empatados nas pesquisas que antecipam o grande salto dos nacionalistas escoceses, que poderão ter as chaves do poder em Londres pela primeira vez na história, um fenômeno já visto na Espanha, onde os nacionalistas catalães e bascos garantiram a governabilidade em pelo menos duas legislaturas.

Nem o primeiro-ministro conservador, David Cameron, nem seu principal adversário, o trabalhista Ed Miliband, terão os 326 deputados suficientes para visitar a rainha e informá-la de que têm o apoio necessário para liderar um governo.

"São as eleições mais abertas que o Reino Unido viu em muito tempo e o resultado é incerto", declarou à AFP Tony Travers, analista político da London School of Economics.

A expectativa é de que duras negociações sejam realizadas para formar um governo com o apoio de todas estas forças, até agora marginalizadas, mas cujo apoio será chave, como o Partido Nacional Escocês (SNP), o Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP), os Verdes, os nacionalistas galeses de Plaid Cymru e os mais tradicionais liberais-democratas, que já formaram coalizão com os conservadores.

Mesmo que os trabalhistas elejam menos deputados, eles poderiam ficar em melhor posição para governar porque os nacionalistas escoceses de Nicola Sturgeon já anteciparam que farão o possível para que Cameron não se reeleja e os liberais-democratas de Nick Clegg não querem nem ouvir falar do referendo de saída da União Europeia, prometido pelo premiê.

Reviravolta no sistema partidário tradicional
É, definitivamente, "a maior mudança no sistema de partidos britânicos dos últimos 100 anos", sentenciou Philip Cowley, professor de política da Universidade de Nottingham.

A pesquisa sobre pesquisas de opinião da BBC - uma média de todas as consultas - dava, na sexta-feira, 34% de intenções de voto aos conservadores do premiê David Cameron e 33% aos trabalhistas de Miliband.

O terceiro partido nacional seria o anti-imigração e anti-europeu UKIP (14%), seguido dos liberais-democratas (8%) e dos Verdes (6%).

As pesquisas preveem, ainda, que os nacionalistas escoceses superarão os trabalhistas naquele que foi seu reduto durante décadas e levarão a imensa maioria de 59 deputados da região norte. Os analistas não esperam que ocorra uma reviravolta nos dias que restam da campanha. "O notável nestas eleições é como as pesquisas se mantiveram absolutamente fixas e inalteradas", disse Travers.

Um Miliband mais apresentável
Os dados macroeconômicos positivos do governo conservador-democrata-liberal (crescimento de 2,8% em 2014 e desemprego no mínimo histórico de 5,7%) não conseguiram fazer com que Cameron decolasse nas pesquisas.

Um dos fatores que explicam isto é uma melhor avaliação de seu adversário, Ed Miliband, aos olhos dos eleitores.

"Miliband teve um sério problema e claramente tem trabalhado muito para resolvê-lo", explicou Kate Jenkins, professora de governança na London School of Economics, que tem assessorado os governos britânico, brasileiro e mexicano.

Há apenas alguns meses atrás, "diria que era, inclusive, pouco eloquente e achava difícil se relacionar com as pessoas. Agora, está muito melhor, aperta mãos e olha nos olhos, seus discursos são muito melhores".

Cameron, por sua vez, teve que passar à ofensiva nos últimos dias a pedido de alguns pesos pesados do seu partido, que notaram uma ausência de paixão em sua campanha.

"Há 10 dias, parecia enfadonho", concordou Jenkins. Seus gestos se tornaram mais enérgicos e ele aparece sistematicamente sem o paletó, com a camisa arregaçada e os últimos botões abertos.

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