Mundo

Primeiro-ministro grego insiste no 'não' às vésperas do referendo grego

A opção do "não" às condições dos credores (UE e FMI) para continuar financiando o país "significa continuar a negociação com melhores termos para o povo grego", acrescentou

Agência France-Presse
postado em 03/07/2015 18:08
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, pediu nesta sexta-feira (3/7) aos gregos que ignorem as "chantagens" e votem no referendo de domingo pelo "não", que está perdendo terreno para o "sim" às condições dos credores.

"O ;não; a um acordo inviável não é sinônimo de ruptura com a Europa", disse o primeiro-ministro em um discurso televisionado.

A opção do "não" às condições dos credores (UE e FMI) para continuar financiando o país "significa continuar a negociação com melhores termos para o povo grego", acrescentou.

Leia mais notícias em Mundo

"Por isso, peço-lhes que digam ;não; aos ultimatos, às chantagens, à campanha do medo", convocou Tsipras.

Nesta sexta-feira, o premiê grego se juntou à manifestação pelo "não" no referendo de domingo. Aproximadamente 25.000 pessoas compareceram ao ato na praça Syntagma, em frente ao Parlamento nacional.

"A Grécia envia uma mensagem de dignidade. Ninguém tem o direito de ameaçar com a divisão da Europa", disse Tsipras no palanque.

A cerca de cem metros, no estádio Panatenaico, onde foram celebrados os Jogos Olímpicos de 1896, os partidários do "sim" reuniram cerca de 22.000 pessoas.

"Este governo quer nos tirar da Europa. Estou pelo ;sim;, o que não significa que eu ache boas as medidas de austeridade dos credores", disse Yorgos, um jovem empresário. "Sair do euro será dez mil vezes pior do que aplicar um novo programa de reformas", argumentou.

O país vive seu quinto dia sob a vigência do controle de capitais, o que significa que os clientes dos bancos podem sacar apenas no máximo 60 euros por dia e por pessoa.

Em todo o lugar, veem-se filas de dezenas de pessoas esperando para sacar dinheiro e, nesta sexta-feira, os bancos afirmaram ter liquidez suficiente pelo menos até sua reabertura, prevista para a próxima terça-feira, 7 de julho.

Nesse panorama tenso, o "não", claramente majoritário desde que a consulta foi anunciada há apenas uma semana, perdeu espaço. Pela primeira vez, uma pesquisa publicada hoje dava uma pequena vantagem ao "sim".

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Alco entre 30 de junho e 1; de julho, após a instauração do controle de capitais, cerca de 44,8% dos gregos devem votar no "sim", contra os 43,4% que devem optar pelo "não".

Como a margem de erro da pesquisa é de mais ou menos 3,1%, o resultado ainda é incerto.

A sondagem mostra ainda que 74% dos gregos desejam permanecer na zona do euro, enquanto 15% desejam sair do bloco monetário, e 11% não têm opinião formada a respeito.

Também nesta sexta, conforme previsto, o Conselho de Estado recusou um recurso apresentado por dois particulares contra a celebração da consulta.

Pressão e debate sobre a dívida

Em moratória com o Fundo Monetário Internacional (FMI) desde a última terça, 30 de junho, o governo grego defende o "não" para as condições apresentadas.

Argumenta que, dessa forma, negociará um acordo melhor com seus sócios para garantir o financiamento dos próximos anos, além de construir uma economia viável menos endividada.

Em seu discurso, Tsipras pediu um perdão de 30% da dívida de seu país e um prazo de carência de 20 anos, para garantir "a viabilidade da dívida".

O primeiro-ministro insiste em uma das suas principais demandas, aproveitando um relatório publicado na quinta-feira pelo FMI, que também pede uma reestruturação da dívida grega, próxima a 180% do PIB, um nível insustentável.

O Fundo estimou que a Grécia terá necessidades financeiras de 50 bilhões de euros nos próximos três anos e pediu aos europeus que desembolsem 36 bilhões para aliviem a dívida do país, duplicando o vencimento das obrigações e o período de carência sobre os juros.

Entretanto, o Fundo continua se chocando com a oposição dos sócios europeus da zona do euro.

"De forma alguma podemos concluir que a reestruturação da dívida é necessária", afirmou o porta-voz do ministro da Economia alemão Wolfgang Sch;uble, Martin J;ger, em coletiva de imprensa.

"A análise do FMI sobre a dívida da Grécia está baseada em dados obsoletos", reagiu o presidente dos ministros da Economia da Eurozona, Jeroen Dijsselbloem.

Além do referendo, voltar a negociar com a Grécia "levará tempo", inclusive se o "sim" vencer, disse o próprio Sch;uble.

"E se os gregos votarem ;não;, a posição da Grécia será consideravelmente fraca", alertou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Implicações na Europa

Na Europa, o referendo grego terá muita influência no futuro de outros movimentos de esquerda, como o espanhol Podemos, que veem no Syriza uma arma contra as políticas de austeridade aplicadas desde 2010.

O "não" no referendo de domingo "significa uma rejeição às políticas de austeridade e também uma recusa a todos os governos que aplicam essas políticas nos demais países da Europa", disse Rommy Arce, conselheira do Ahora Madrid, plataforma cidadã integrada em parte pelos "indignados" e que governa a capital espanhola.

"Nosso futuro dependerá do que acontecer na Grécia", observou Jaime Pastor, membro do Podemos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação