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Mulheres negras enfrentam problemas semelhantes na América Latina

Elas estão entre as mais afetadas pela pobreza, marginalização e pelo racismo

postado em 25/07/2015 11:52
Estudos e especialistas apontam que as mulheres negras vivem em condições semelhantes na América Latina e no Caribe
Cerca de 200 milhões de pessoas que se identificam como afrodescendentes vivem na América Latina e no Caribe, o que corresponde a 30% da população dessas regiões, conforme estimativa da Associação Rede de Mulheres Afro-Latinas, Afro-Caribenhas e da Diáspora (Mujeres Afro). Apesar do número, os negros são os mais afetados pela pobreza, marginalização e pelo racismo, em especial as mulheres.

No Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, celebrado hoje (25/7), e no primeiro ano da Década Internacional dos Afrodescendentes, instituída pelas Nações Unidas, os problemas enfrentados pelas mulheres negras ganham visibilidade.

[SAIBAMAIS]Levantamentos de alguns países mostram essa situação. Em Porto Rico, por exemplo, estudo mostra que um homem branco com ensino superior tem 89% mais chances de entrar no mercado de trabalho. No caso das mulheres negras, o percentual é menor: 60%. No Uruguai, a taxa de desemprego chega a 7%, mas entre as mulheres negras sobe para 14,3%.

A situação das mulheres negras foi discutida entre os dias 26 e 28 de junho em Manágua, na Nicarágua, durante a 1; Cúpula de Lideranças Femininas Afrodescendentes das Américas.

O documento Plataforma Política, preparatório para a cúpula, aponta que ;se assume que a situação de marginalização e exclusão socioeconômica que vivem as populações afrodescendentes se deve mais à situação de classe do que ao próprio racismo, que sustenta a ideia de que se forem alcançados níveis socioeconômicos mais altos não se teria barreiras para a mobilidade social e, portanto, não seriam vítimas de racismo. Sobre esta base está instalada a ideologia da democracia racial que invisibiliza as diversas maneiras em que o racismo se expressa de forma subterrânea mas devastadora;.

;Nós, mulheres negras, pertencemos a uma mesma comunidade de destino. Foi possível evidenciar mais uma vez que racismo, sexismo, lesbofobia, fundamentalismos são os mesmos vetores que movem a dominação e a exclusão de milhões de mulheres negras no Continente;, disse Nilza Iraci, coordenadora de comunicação do Geledés ; Instituto da Mulher Negra, que participou da cúpula.

A coordenadora relatou que, durante a cúpula, foi possível perceber as semelhanças nas condições das mulheres negras. ;Um exemplo clássico é verificar as falas da palanquera, da Colômbia; das quilombolas, do Brasil; e das garífunas, na América Central. Juntas falam de problemas e vivências semelhantes, como se fosse uma comunidade única. Também pode ser verificado entre as jovens da região, falta de oportunidades, emprego e perspectivas; e em todas as mulheres que vêm sendo vitimizadas pelo avanço dos fundamentalismos religiosos que tentam legislar sobre seus corpos e sua sexualidade. Ou seja, esses fatores formam um caldo de cultura onde a mulher negra é a mais vitimizada;.

Brasil


Para a representante da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, o Brasil se destaca na América Latina por ter políticas públicas e instituições oficiais de combate às desigualdades, como a Secretaria de Política para as Mulheres (SPM) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

;Nós falamos muito em acelerar os processos para garantir que essas diferenças diminuam em um tempo rápido, porque são brechas históricas que têm que se fechar. Mas as políticas públicas, o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, o Pronatec, o Brasil sem Miséria têm sido políticas muito importantes que têm mudado a cara e a inserção das mulheres negras no Brasil de uma maneira muito importante;.

No entanto, a representante reconhece que as mulheres negras estão atrás nos indicadores sociais e econômicos do país. ;Por exemplo, em termos de pobreza, a população negra é mais vulnerável, sete em cada dez casas que recebem o Bolsa Família são chefiadas por negros, sendo que 37% das casas são chefiadas por mulheres. Temos entre mulheres brancas um desemprego de cerca de 9%, entre as mulheres negras ultrapassa 12%. Outra área que vale a pena ressaltar é o tema da renda. As mulheres negras recebem 42% do salário dos homens brancos. É muito chocante elas receberem menos da metade do salário dos homens brancos;.

Para Nilza Iraci, do Geledés, o maior avanço no país foi a organização dos movimentos sociais, já que ;os indicadores sociais têm demonstrado que, apesar da conquista de políticas públicas, elas não têm sido capazes de transformar a realidade e a vida de milhares de brasileiras;.

A Secretaria de Políticas para as Mulheres destaca que o governo federal tem implementado, na última década, diversas políticas voltadas à promoção da igualdade das mulheres negras, como o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, a aplicação da Lei Maria da Penha e o enfrentamento da exploração sexual e do tráfico de mulheres.

Para este ano, a secretaria deverá criar um grupo de trabalho para atender mães que perderam os filhos, vítimas de violência. Em novembro, será realizada a 1; Semana das Mulheres Negras no Mês da Consciência Negra e uma consulta nacional a quilombolas e afrodescendentes para a 4; Conferência Nacional de Política para Mulheres.

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