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Bebê palestino morre queimado em ataque de colonos israelenses

O movimento islamita Hamas, no poder na Faixa de Gaza, fez nesta sexta-feira uma convocação a um "dia da ira" contra as agressões israelenses

Agência France-Presse
postado em 31/07/2015 08:52

Familiares mostram retrato da criança, queimado durante incêndio: crueldade

Dumai, Indonésia -Um bebê palestino morreu queimado e seus pais e irmão estão em estado grave após colonos israelenses atearem fogo em sua casa na Cisjordânia ocupada, o que faz temer um novo ciclo de violência.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, denunciou um "ato de terrorismo" e ordenou que as forças de segurança "prendam os assassinos e os levem à justiça".

Esta classificação bastante incomum nestes casos e as condenações unânimes dos líderes israelenses, incluindo do premiê, não convenceram os palestinos, que responsabilizam o governo pela morte do bebê devido às "décadas de impunidade (...) ante o terrorismo dos colonos".

Em um gesto pouco comum, Netanyahu telefonou para o presidente palestino, Mahmud Abbas, e expressou que ambos precisam lutar juntos contra o terrorismo, não importa de onde ele vier.

"Todos em Israel estão comovidos por este ato terrorista condenável que atingiu a família Dawabcheh", afirmou Netanyahu, que visitou no hospital de Tel Aviv a família do menor morto.

Casa da família ficou completamente destruída

Abbas, por sua vez, anunciou que o Estado hebreu deverá responder por este novo "crime de guerra" perante o Tribunal Penal Internacional (TPI), enquanto milhares de manifestantes reclamavam "vingança" na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, onde um palestino foi morto e um outro foi ferido pela polícia israelense.

Segundo Achraf al-Qodra, chefe dos serviços de emergência palestinos, Mohammad Al-Masri, de 27 anos, não resistiu aos ferimentos após ser atingido por tiros em Beit Lahiya, enquanto o outro palestino não corre risco de vida.

Já um porta-voz do exército israelense indicou à AFP que "dois suspeitos se aproximaram da barreira de segurança" que separa Gaza de Israel e que um deles foi "visado nas pernas".

Segundo responsáveis de segurança israelenses e palestinos, na madrugada desta sexta-feira colonos lançaram coquetéis molotov contra duas casas de Duma, perto de Nablus, no norte da Cisjordânia, através das janelas, que estavam abertas devido às altas temperaturas.

Antes de fugir, picharam uma estrela de David nos muros e escreveram "o preço a pagar" e "vingança", dois dias após a demolição pelas forças israelenses de duas casas em obras em um assentamento próximo a Ramallah.

Centenas de palestinos começaram a protestar em Ramallah, na Cisjordânia, e em Gaza na saída das mesquitas. Milhares de pessoas marcharam pela aldeia de Duma durante o funeral do bebê Ali Dawabcheh, de um ano e meio. Uma bandeira palestina envolvia seu corpo.

O bebê foi queimado vivo. Sua mãe Eham, de 26 anos, seu pai Saad e seu irmão Ahmed, de quatro anos, ficaram feridos e foram transportados a um hospital israelense. Uma menina também sofreu lesões, segundo várias fontes, e foi internada.

A mãe, com queimaduras de terceiro grau em 90% de seu corpo, o pai, em 80% do corpo, e Ahmed, em 60%, correm risco de vida, segundo os médicos israelenses.

Deter e julgar os assassinos

Há anos, ativistas de extrema direita israelenses ou colonos cometem agressões ou atos de vandalismo em Israel e nos territórios palestinos. Seus alvos são os palestinos, os árabes israelenses, os locais de culto muçulmanos e cristãos e inclusive os soldados israelenses. A maioria de suas atrocidades ficaram impunes.

"É um ato terrorista em todos os sentidos", denunciou Netanyahu. Seu ministro da Defesa utilizou o termo "terroristas judeus" para se referir aos autores.

Mas Saeb Erakat, número dois da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), estimou que "não é possível dissociar este ataque bárbaro" de um "governo que representa uma coalizão para a colonização e o apartheid".

Já o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, prometeu uma resposta "proporcional à gravidade do crime" e disse que os fatos "fazem com que seja legítimo qualquer ataque contra os soldados de ocupação e os assentamentos".

Os Estados Unidos, por sua vez, condenaram o que consideraram um "brutal ato terrorista".

Um comunicado do departamento de Estado pede a Israel que "prenda os assassinos" e pediu que as duas partes "impeçam uma escalada de tensões por causa deste incidente trágico".

Citado por seu porta-voz, Ban Ki-moon, também criticou o governo israelense pela "incapacidade persistente em acabar com a impunidade" beneficiada pelos colonos que atacam palestinos.

A polícia em alerta


Yaariv Oppenheimer, dirigente da Paz Agora, uma ONG israelense contrária à colonização dos territórios palestinos, diz que este tipo de "agressões por parte dos colonos se converteram em uma verdadeira epidemia". Na rádio israelense, denunciou "a indulgência do governo com a violência antipalestina e os discursos de ódio".

As ONGs de defesa dos direitos humanos corroboram estes dados. Em maio, a organização israelense Yesh Din estimou que 85,3% das denúncias dos palestinos por ataques de colonos estavam arquivadas.

Prevendo manifestações, a polícia israelense se mobilizou em massa na cidade antiga de Jerusalém, sobretudo nos arredores da Esplanada das Mesquitas, cujo acesso está proibido aos homens com menos de 50 anos.

O enviado especial da ONU no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, afirmou estar indignado com este ataque, que a Jordânia condenou como "um crime abjeto que poderia ter sido evitado. A União Europeia pediu, por sua vez, "tolerância zero com a violência dos colonos".





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