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Especialista sírio em antiguidades diz que EI não destruirá alma de Palmira

Ao Correio, ele admitiu que a cidade milenar está sob risco de extinção

Rodrigo Craveiro
postado em 05/09/2015 08:00

Ao Correio, ele admitiu que a cidade milenar está sob risco de extinção

Diretor do Departamento-Geral de Antiguidades e Museus da Síria (DGAM), Maamoun Abdulkarim admitiu ao Correio que a cidade milenar de Palmira está sob risco de extinção. De acordo com ele, depois de destruir a estátua do Leão de Alat e de explodir os templos de Bel e de Baalshamin, o Estado Islâmico derrubou seis torres funerárias no sítio arqueológico, consideradas verdadeiros tesouros. Veja a entrevista com a principal autoridade síria na preservação de monumentos históricos.

Qual o simbolismo e a importância das torres funerárias de Palmira?
De acordo com o que vimos em imagens do satélite ASOR, parece haver seis torres funerárias destruídas: Elahbel, Atenatan, Kithot, Iamliku e outras duas sem nome. Essas torres destacam os rituais fúnebres adotados na Palmira multicultural do século 1, onde a tolerância dominava a cidade, algo que o Estado Islâmico mais detesta.

Ao Correio, ele admitiu que a cidade milenar está sob risco de extinçãoDe que modo o senhor vê o nível de destruição das ruínas de Palmira?
O templo de Bel é um ícone único da arquitetura, sendo o maior (220x205m, com paredes de 14m de altura) e o mais conhecido templo da história antiga do Oriente Próximo. Hoje, com a contínua destruição da cidade, creio que toda Palmira está sob perigo, especialmente pelo fato de que os terroristas do Estado Islâmico têm mostrado uma brutalidade ignorante em relação à história e à arqueologia no norte do Iraque e na Síria. Isso me faz muito pessimista sobre o futuro de Palmira.

O que o senhor espera que o mundo possa fazer para proteger os monumentos?
As perdas atuais em Palmira já são grandes, mas ainda temos muitas partes a proteger, como o restante do templo de Bel, o anfiteatro, o Tetrápilo, os banhos, a Ágora. A alma da cidade, nos livros de história, o Estado Islâmico nunca pode destruir. A comunidade internacional é chamada a trabalhar com união e logo para salvar a cidade. Algo semelhante ao que ocorreu em Kobane (fronteira com a Turquia), onde as forças de coalizão ajudaram a aviação da coalizão a salva a cidade. Nós apelamos por isso quando o Estado Islâmico começou a atacar Palmira, meses atrás.

O senhor ainda conta com funcionários em Palmira ou todos tiveram de abandonar a cidade?
Há cerca de 50 membros, funcionários locais do DGAM, que ficaram em Palmira. Como você sabe, o Estado Islâmico tem um governo e leis próprias. Nossa equipe nada pode fazer na presença de terroristas brutais do Estado Islâmico. Por outro lado, nós ainda recebemos informações sobre o estado das ruínas. Uma das fontes de informação são as iniciativas internacionais de instituições científicas que coletam imagens de satélite e/ou têm informantes dentro da cidade.

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