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Catalães votam em eleição regional histórica

Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, deve escolher deputados e dizer se estes devem iniciar o processo de divórcio com a Espanha

Agência France-Presse
postado em 27/09/2015 10:57
Os catalães votam neste domingo (27/9) em uma eleição considerada "histórica", que poderia levar ao poder uma coalizão pró-separatista decidida a conduzir essa rica região da Espanha à independência em menos de dois anos.

No início da tarde, a taxa de participação estava em alta de 5,7 pontos em relação a votação precedente em 2012, sinal da importância acordada a esta eleição, segundo dados do governo regional. Mais de 35% dos eleitores já depositaram seu voto.

Os separatistas, representados pelo presidente regional Artus Mas, transformaram a votação em um plebiscito, prometendo dar início ao processo de independência em caso de vitória.

"Veremos quem vencerá (...) Mas a democracia já venceu na Catalunha", afirmou Mas, após votar. Citando manifestações em massa exigindo desde 2012 "o direito de decidir" como "nação", ele concluiu: "Finalmente, podemos ir às urnas", "este é um plebiscito, politicamente falando, sobre o futuro da Catalunha".

Já Mariano Rajoy, presidente conservador do governo espanhol, fez campanha até o último dia, listando as catástrofes que, segundo ele, vão acontecer aos catalães em caso de independência: a exclusão da União Europeia, forte aumento do desemprego, colapso das pensões.

Um ano após a Escócia, a Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, deve escolher seus deputados e dizer se estes devem iniciar o processo de divórcio com a Espanha.

Seus habitantes estão muito divididos, e poderiam optar pela prudência, dando suas vozes a uma multiplicidade de partidos do "não", como o Partido Popular no poder (PP, direita) Ciudadanos (centro-direita), socialistas, o antiliberal Podemos (esquerda radical).

"Estou emocionado e nervoso", disse Toni Valls, arquiteto de 28 anos. "Faz muito tempo que falamos das maneiras de resolver esta questão e, hoje, saberemos se somos maioria", declarou o jovem que é a favor da independência.

Já outros pareciam inquietos, como Mireia Galobart, de 70 anos. "Este não é o momento de nos separar", afirmou. "Isso poderá me atingir diretamente, se não houver aposentadorias. Precisamos permanecer na Espanha, mas com um governo mais autônomo", considerou.

O técnico FC Barcelona, Luis Enrique, ex-jogador do Real Madrid, escreveu em seu Twitter ter "exercido seu direito de voto", acrescentando "Viva a Catalunha" em catalão.

A Catalunha "não é a Escócia", ressaltou, por sua vez, o historiador Carlos Andres Gil: "Nós não estamos falando de um território secundário para o país, mas da região mais industrializada".

De fato, se a Catalunha deixar a Espanha, levará com ela um quinto do PIB do país, quarta maior economia da zona do euro, além de um quarto das suas exportações.

A possibilidade preocupa banqueiros e empresários. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, também defendem a unidade.

A população da região tem estreitas ligações com o resto do país: três quartos dos catalães têm um avô em outras partes da Espanha. Mas, graças à crise e às más relações com o poder central, o nacionalismo de muitos catalães, orgulhosos de sua cultura, transformou-se em separatismo.

Um sentimento alimentado pelas personalidades envolvidas: Mariano Rajoy de um lado e o líder do movimento, o presidente catalão Artur Mas, do outro.

O primeiro lutou para alterar o estatuto de autonomia reforçado que a Catalunha havia obtido em 2006 e retirou o seu título de "nação". Ele ganhou o caso em 2010, quando o Tribunal Constitucional decidiu que o título não tinha valor jurídico.

Já o segundo, capitalizou o sentimento de muitos catalães de sofrer "maus tratos" por Madri e a ira pela injusta distribuição da renda nacional de acordo com eles.

"É uma questão de dignidade e respeito por uma cultura diferente que eles nem sequer tentam compreender", resume o arquiteto Tony Valls.

Desde 2012, Artur Mas tem exigido repetidamente a realização de um referendo de autodeterminação, semelhantes aos realizados no Quebec ou Escócia, o que Madri rejeita categoricamente.

Após uma consulta simbólica em 9 de novembro de 2014, que recolheu 1,9 milhão de "sim" à independência, Mas finalmente decidiu avançar antecipar as eleições regionais previstas para o final de 2016.

Ele reuniu a maior parte do campo separatista - direita, esquerda republicana, associações - em uma única lista, "Juntos pelo Sim", e pediu aos eleitores para validar seu programa: a "liberdade" já em 2017.

No poder desde 2010, Mas garante estar pronto para avançar com uma maioria absoluta dos deputados (68 assentos de um total de 135), mesmo sem o voto da maioria.

Com os assentos da outra lista separatista, CUP (extrema esquerda), isso poderia acontecer, segundo as pesquisas.

Um cenário que faria a Espanha entrar em uma zona de turbulência, a três meses das eleições legislativas.

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