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Israel proíbe entrada de palestinos na Cidade Velha de Jerusalém

É a primeira vez que as autoridades tomam esta medida, segundo a porta-voz da polícia, Luba Samri.

Agência France-Presse
postado em 04/10/2015 14:49
É a primeira vez que as autoridades tomam esta medida, segundo a porta-voz da polícia, Luba Samri.
Israel decidiu neste domingo fechar a Cidade Velha de Jerusalém aos palestinos, após ataques que mataram dois israelenses na véspera.

A parte antiga de Jerusalém, que é muito frequentada, tinha neste domingo um aspecto de cidade entrincheirada, com as lojas fechadas, as ruas quase vazias e as portas guardadas por centenas de policiais.

É a primeira vez que as autoridades tomam esta medida, segundo a porta-voz da polícia, Luba Samri. Durante 48 horas apenas os israelenses, os residentes da Cidade Velha, turistas, empresários e estudantes pdoerão entrar.

Segundo Samri, esta medida impedira que a imensa maioria dos palestinos de Jerusalém Leste, que vivem fora da Cidade Velha, possa entrar nesta parte da cidade. Os árabes israelenses poderão entrar na região, afirmou.

O acesso à Esplanada das Mesquitas foi proibido aos homens com menos de 50 anos, uma medida utilizada habitualmente em momentos de tensão. Não haverá restrição de acesso para as mulheres, completou Samri.

Segundo um balanço da Meia Lua Vermelha palestina, ao menos 77 palestinos ficaram feridos por disparos israelenses nas últimas 24 horas, 18 por balas verdadeiras e 59 por balas de borracha. Além disso, 139 foram tiveram atendimento médico por terem inalado gases lacrimogêneos e outros seis por terem recebido golpes de soldados ou colonos israelenses.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu neste domingo sobre uma perigosa escalada em Jerusalém e Cisjordânia, condenou as medidas mais enérgicas após os ataques do sábado e pediu calma.

"Recordando o recente ataque mortal contra outra família israelense na Cisjordânia ocupada, e à luz da onda de extremismo e violência que assola a região, o secretário-geral está profundamente preocupado de que estes últimos incidentes marquem um perigoso avanço até uma escalada", informou um comunicado.


Dever nacional e religioso

Na realidade, até as 09H30, nenhum palestino - homem ou mulher - podia entrar na Cidade Velha, e só poderiam fazê-lo quem tinha um passaporte estrangeiro ou uma carteira de identidade israelense.

Cerca de 50 mulheres muçulmanas e um grupo de homens protestavam diante das portas dos Leões, a única que permanece aberta. Depois manifestaram-se pelas ruas da parte antiga, antes de a polícia fechar a passagem.

"É meu dever nacional e religioso defender Al Aqsa", a mesquita que encontra-se na esplanada explicou Um Mohamed, um árabe israelense.

O governo palestino criticou a decisão de Israel em um comunicado no qual denunciou "a política de escalada das autoridades de ocupação israelenses" em "Jerusalém e na Cisjordânia ocupada".

Na madrugada do domingo, o exército israelense realizou uma operação no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, para tentar deter em sua casa um líder do Hamas, Qais al Saadi, informaram funcionários palestinos.

Dois palestinos ficaram feridos por disparos durante a intervenção, informaram fontes de segurança e médicas. Segundo elas, o exército deteve três palestinos, mas não conseguiu prender Al Saadi.

A operação militar e o fechamento da Cidade Velha ocorreram depois de dois ataques palestinos contra israelenses na noite do sábado.


Enfrentamentos cotidianos

Um palestino de 19 anos, Mohanad Chafik Halabi - supostamente membro da Jihad Islâmica -, matou dois israelenses e feriu uma mulher e uma criança com faca e arma de fogo na Cidade Velha, antes de ser abatido pela polícia.

Horas depois, outro palestino feriu gravemente a facadas uma pessoa na parte oeste da cidade antes de ser abatido pelas forças de ordem.

Estes ataques ocorrem em um contexto de choques diários na Cidade Velha, onde encontra-se o lugar que cristaliza as tensões, a Esplanada das Mesquitas, e dois dias depois da morte por disparos de um casal de colonos no norte da Cisjordânia ocupada.

Desde meados de setembro, estouraram inúmeros enfrentamentos entre palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas, terceiro lugar sagrado do Islã e também o mais sagrado para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.

As regras que regem a esplanada permitem que os judeus entrem no local, mas os proíbe de rezar ali. Os muçulmanos temem, contudo, que o governo israelense tenha a intenção de modificar o "status quo".

Devido às festas judaicas de Yom Kipur e de Sucot, que terminam na segunda-feira, e dada a importância da festa muçulmana do Aid al Adha, a polícia mobilizou nas últimas semanas cerca de mil homens suplementares para fazer frente ao fluxo de fiéis judeus na Cidade Velha.

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