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Direita populista e anti-imigração tem forte avanço na Suíça

Quase um terço do parlamento suíço será da União Democrática de Centro

postado em 19/10/2015 09:35
A UDC, partido de direita populista e anti-imigração suíço, saiu fortalecido neste domingo (18/10) das eleições legislativas, tornando-se a primeira força política da Confederação Helvética.

A União Democrática de Centro (UDC) obteve 65 cadeiras (54 em 2011) no Conselho Nacional, quase um terço da câmara baixa do Parlamento suíço, que conta com 200 membros. Desta forma, superou seu melhor resultado, em 2007, quando conseguiu 62 assentos (29,5% dos votos em 2015 contra 28,9% naquela ocasião).

[SAIBAMAIS]A desproporção entre os votos obtidos e a quantidade de deputados se explica por um complexo sistema de distribuição, no qual os eleitores podem marcar nomes nas chapas dos dois partidos e pela existência de alianças locais entre os partidos.

Na câmara atual, eleita em 2011, a UCD tinha 54 deputados. A participação na consulta deste domingo apenas superou os 48% dos eleitores habilitados a votar. "As pessoas votaram orientadas pelo medo", afirmou a candidata socialista Rebecca Ruiz, acrescentando que o tema dos refugiados e da imigração, que favoreceu a UDC, "infelizmente foi muito dominante na campanha".

O Partido Socialista (PS), o segundo do país, perderia duas cadeiras (46 na câmara atual), e outro partido, de direita, o Partido de Liberais Radicais (PLR), obteria mais três (contra os 30 atuais), segundo a RTS.

Esta guinada para a direita se deu em detrimento dos pequenos partidos de centro e das duas principais formações ecológicas, que perderiam no total 11 cadeiras.

Em algumas comunas da região do Jura bernês, "aumentamos em 4, 8 ou 10 pontos", comemorou Manfred Bühler, da UDC.

No cantão dos Grisões, a filha do carismático líder histórico da UDC, Christph Blocher, Magdalena Martullo Blocher, foi eleita em Lucerna, onde o partido populista se tornou a primeira força, desbancando os moderados do PDC (Partido Democrata Cristão).

Imigração controlada
A UDC usou como slogan "continuar livres".

Em fevereiro de 2014, o partido surpreendeu com o sucesso em seu referendo contra "a imigração em massa" para impor cotas aos cidadãos da União Europeia (UE), que cada vez são mais numerosos no mercado de trabalho suíço. Na ocasião, a UE ameaçou denunciar todos os acordos bilaterais com Berna, caso a Suíça suprimisse a livre circulação de trabalhadores. O governo tem até 2017 para encontrar uma solução para o problema.

O cartaz mais radical da campanha foi o da juventude da UDC no cantão de Vaud: uma caricatura de um jihadista usando um bracelete da UE, com um fundo da bandeira azul com as estrelas da comunidade, que se prepara para decapitar uma jovem loira, amordaçada e vestida com a insígnia suíça, com o chamado: "mantenham a cabeça sobre os ombros", "votem na chapa UDC".

Embora a Suíça tenha estado à margem da onda de migrantes que chegaram a Europa recentemente, uma pesquisa do instituto gfs.bern revelou que para 48% dos suíços as questões de asilo e imigração constituem a grande prioridade, distantes das relações com a UE.

"Nada de sobrecarregar as finanças públicas e o orçamento social abrindo de par em par as fronteiras, enquanto muitos jovens aqui ficam contra a parede", resumiu, durante a campanha, Roger Golay, eleito neste domingo como integrante do Movimento de Cidadãos Genebrinos, uma pequena formação política de direita populista que ele mesmo preside.

A UDC e o PLR, frequentemente opostos, terão que trabalhar juntos no futuro, segundo o vice-presidente da UDC, Luzi Stamm. Mais evasivo, Christian Lüscher, do PRL, respondeu: "faremos tudo o possível para preservar nossa economia e nossa prosperidade".



A UCD, que só tem um membro no governo colegiado suíço, diferentemente do PS ou do PLR, pediu um suplementar nas eleições governamentais de 9 de dezembro.

A especificidade da democracia suíça é o pluripartidismo, que permite a sete formações ter representação no Parlamento, e a cinco no governo integrado por sete membros.

A presidente da Frente Nacional, partido de extrema-direita francês, Marine Le Pen, escreveu no Twitter: "Em toda a Europa, os povos dizem não à submersão migratória".

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