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Papa e patriarca da Igreja Ortodoxa Russa terão encontro histórico hoje

Será o primeiro diálogo entre as duas Igrejas, separadas desde 1054. Especialistas reforçam simbolismo do evento, elogiam reaproximação, mas descartam reunificação

Rodrigo Craveiro
postado em 12/02/2016 06:23

Será o primeiro diálogo entre as duas Igrejas, separadas desde 1054. Especialistas reforçam simbolismo do evento, elogiam reaproximação, mas descartam reunificação

A simples escolha do local da reunião entre Francisco e Kirill carrega o forte simbolismo da aproximação. Segundo Metropolitan Hilarion Alfeyef, chefe do Departamento de Relações Externas da Igreja Ortodoxa Russa, Cuba foi eleita pelo fato de a Europa ;estar ligada a uma dura história de divisões e conflitos entre cristãos;. Por meio de um comunicado conjunto assinado ontem, católicos e ortodoxos sublinharam a importância do evento. ;Esse encontro... É o primeiro desse tipo na história, e marcará um importante marco nas relações entre as duas Igrejas;, afirma o texto. ;A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou esperam que ele seja também sinal de esperança para todos os homens de boa vontade.;

O italiano Marco Eugenio Tossatti, vaticanista e jornalista especializado em temas religiosos do diário La Stampa (em Turim), vê a reunião de hoje como um ;gesto muito importante; das duas igrejas. ;É significativo porque, todas as vezes em que a possibilidade de um encontro era debatida, a Igreja Ortodoxa Russa sempre condicionava isso à resolução de problemas, especialmente a situação da Igreja Ortodoxa Grega na Ucrânia e da Igreja Greco-Católica ; ligada ao Vaticano e perseguida pelo ditador Josef Stalin (1922-1953);, explicou ao Correio.

Por meio de um comunicado conjunto assinado ontem, católicos e ortodoxos sublinharam a importância do evento

Ele sublinha que o fato de o encontro ocorrer sem condições prévias é sinal de que a Igreja Grego-Católica é aceita pela Ortodoxa Russa. ;Não creio que vamos testemunhar grandes discursos amanhã (hoje). No entanto, um encontro entre o patriarca e o papa, depois de mil anos, por si só é algo histórico;, disse Tosatti.



Por telefone, desde a capital russa, Alexander Baunov ; especialista do Carnegie Moscow Center e editor-chefe do site Carnegie.ru ; afirmou considerar o evento como ;histórico para o cristianismo na Europa e no mundo;. ;Essa reunião foi adiada em várias ocasiões. As duas igrejas começaram a dialogar alguns séculos atrás. Os patriarcas de Constantinopla e da Grécia chegaram a se encontrar com o papa, durante a década de 1960;, lembrou.

Especialistas duvidam, no entanto, de uma comunhão total das igrejas russa e romana

[SAIBAMAIS]De acordo com Baunov, o papa João Paulo II tentou restabelecer a ponte entre as igrejas de Roma e de Moscou, mas as autoridades do Kremlin rejeitaram uma reunião com Karol Wojtyla, ao expor vários obstáculos. À época, a Igreja Ortodoxa Russa acusou os católicos de se engajarem numa política expansionista. ;Desde os anos 1990, a Rússia tem demonstrado temor ante o aumento de fiéis e a presença da Igreja Ortodoxa Grega no oeste da Ucrânia. Por isso, o presidente Vladimir Putin estimulou o encontro em Havana.; Enquanto a Igreja Católica conta com 1,2 bilhão de fiéis, a Igreja Ortodoxa Russa mantém cerca de 130 milhões de seguidores.

;É claro que a reunificação das igrejas não faz parte da agenda;, frisou Baunov, ao explicar que qualquer união real ou reconciliação canônica provocaria cisma dentro da Igreja Ortodoxa Russa. O analista russo reconhece que, apesar de as igrejas do Ocidente cultivarem postura amigável em relação aos ortodoxos, os russos tratam os católicos com bastante cautela e uma certa suspeita. Para Baunov, Putin respalda a reaproximação histórica por entender que a Rússia tem contribuído com a tradicional identidade cristã. ;Os povos cristãos do Oriente Médio enfrentam uma tragédia. Putin e o papa Francisco tentam salvá-los. Trata-se de uma política de relações-públicas de Moscou: proteger os cristãos, assim como o Império Russo ante a ameaça islâmica, durante os séculos 18 e 19.;

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