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Obama telefona para Putin e pede interrupção de bombardeios à oposição

Ativistas sírios criticam a ofensiva do Kremlin e descrevem cenário desolador na cidade de Aleppo

Rodrigo Craveiro
postado em 15/02/2016 06:05

Ativistas sírios criticam a ofensiva do Kremlin e descrevem cenário desolador na cidade de Aleppo


Cobiçada pelo regime de Bashar Al-Assad, a cidade símbolo da oposição também se tornou o centro das tensões entre os Estados Unidos e a Rússia. ;Todos os dias, mais de 10 aviões russos sobrevoam Aleppo em formação de esquadrilha;, contou ao Correio Mahmud Abdel-Rahman, 29 anos, um fotógrafo que decidiu não fugir ;para transmitir o verdadeiro retrato do que está sendo feito pelo regime e pela Rússia;. Enquanto as forças de Damasco intensificam a pressão sobre a capital comercial no norte da Síria, apoiadas por Moscou, a Casa Branca se mostra cada vez mais impaciente com a ofensiva do Kremlin. No sábado, o presidente Barack Obama telefonou para o colega russo, Vladimir Putin, e lhe pediu que interrompa os ataques. Segundo o americano, ;atualmente é importante que a Rússia tenha um papel construtivo, ao deter sua campanha área contra as forças da oposição moderada na Síria;. Os dois líderes acordaram na importância de se agilizar a ajuda humanitária às áreas sitiadas e implementar um cessar-fogo em todo o país.

Ante bombardeios turcos contra rebeldes curdos na província de Aleppo, Damasco apelou à Organização das Nações Unidas (ONU) para ;colocar um fim aos crimes do regime; de Ancara, segundo comunicado da agência de notícias estatal Sana. Enquanto a França também condenava a estratégia da Turquia e destacava a importância de manter foco no combate ao Estado Islâmico, o premiê turco, Ahmet Davutoglu, falou ao telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel, e descartou retroceder. ;Nossas forças de segurança responderam de maneira adequada e continuarão a fazê-lo;, declarou o primeiro-ministro. Abdel-Rahman não se incomoda com a presença turca em Aleppo. ;As coisas vão melhorar, pois a Turquia bombardeia as forças curdas, que apoiam Damasco e Moscou;, acredita.

De acordo com o fotógrafo transformado em ativista, os ataques russos ;são uma continuação da matança de civis e de militantes da oposição perpetrada por Al-Assad;. ;Os bombardeios têm se distanciado do Daash (acrônimo em árabe para Estado Islâmico). Os interesses de Moscou incluem a eliminação da oposição a Al-Assad e a preservação do Daash, como forma de justificar a intervenção na Síria;, desabafa Abdel-Rahman. Ele critica Obama por se apegar à retórica inútil e acredita que Putin jamais levará em conta a palavra do norte-americano. Em meio ao choque diplomático entre Washington e Moscou, os habitantes de Aleppo e do restante da Síria se desesperam. ;As pessoas já não sabem o que fazer. Algumas abandonaram a cidade. Outras decidiram permanecer porque não creem que seremos sitiados;, afirma.

Também morador de Aleppo, o ativista Abbas Sharifeh, 33 anos, não esconde a decepção com a comunidade internacional, apesar das reuniões em Genebra e em Munique para tentar pôr fim à guerra. ;O mundo está determinando o fracasso de nossa revolução na Síria;, desabafa. Por meio da internet, ele lamenta a inexistência da sensação de segurança em seu país natal. ;Temos milhões de imigrantes, cidades inteiras demolidas e cercadas. Algumas organizações humanitárias ajudam refugiados em acampamentos instalados dentro da Síria;, relata ao Correio.

Crítica republicana

Apesar de discordarem em vários pontos, os opositores de Obama começam a dar mostras de alinhamento em relação à Rússia. O senador republicano John McCain, chefe do Comitê de Serviços Armados do Senado, acusou Moscou de tratar a Síria como ;um exercício de fogo vivo; para o próprio exército e colocou em xeque as pretensões do líder russo. ;O senhor Putin não está interessado em ser o nosso parceiro. Ele quer escorar o regime de Al-Assad;, declarou, segundo a TV CNN.

Interesses em jogo

Quem são os principais atores envolvidos no conflito sírio e o que desejam

Rússia
Aliada incondicional de Al-Assad, começou a bombardear a Síria em 30 de setembro passado, sob a justificativa de combater o Estado Islâmico. No entanto, as potências ocidentais acusam Moscou de alvejar combatentes da oposição e de apressar a retomada de controle de Damasco sobre o país.

Estados Unidos
Em 23 de setembro de 2014, a aviação norte-americana lançou uma coalizão de 60 países contra o Estado Islâmico. Washington insiste que qualquer solução negociada para o conflito na Síria depende da remoção do presidente Bashar Al-Assad. Rússia e EUA estariam à beira de nova ;Guerra Fria;.

Turquia
País afetado pelo êxodo de refugiados sírios, decidiu se envolver militarmente, na Síria, contra o Estado Islâmico e contra os rebeldes separatistas curdos, a quem acusa de terroristas. A derrubada de um avião russo por um caça turco agravou as relações entre Ancara e Moscou.

Arábia Saudita
Inimigo ferrenho do regime de Bashar Al-Assad, o reino saudita enviou aviões para a Turquia e acena com uma intervenção terrestre na Síria, desde que liderada pelos Estados Unidos. Ontem, Riad inciou uma série de manobras militares com forças terrestres, aéreas e navais de 20 países.


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