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Europeus terão de aprender a viver com ameaça de atentados, dizem analistas

"Enfrentamos uma ameaça séria e a longo prazo, e este não será, sem dúvida, nem muito menos, o último ataque", avalia o especialista em questões de segurança Simon Palombi

Agência France-Presse
postado em 23/03/2016 16:45
Cometidos quatro meses depois dos de Paris, os atentados de Bruxelas obrigam os europeus a integrar essa ameaça em sua vida normal e, para isso, afirmam especialistas, a chave é encontrar um justo equilíbrio entre a hipervigilância e a negação. Enquanto a vida começava a voltar ao normal gradualmente, nesta quarta-feira, na capital belga, vários especialistas afirmam que a situação de segurança não vai melhorar em um futuro próximo.

"Enfrentamos uma ameaça séria e a longo prazo, e este não será, sem dúvida, nem muito menos, o último ataque", avalia o especialista em questões de segurança Simon Palombi, do "think tank" londrino Chatham House. Palombi considera que os "jihadistas" encontraram "fraquezas" nos sistemas europeus de Inteligência, "que não poderão ser corrigidos rapidamente, o que lhes permitirá atacar de novo". "As pessoas devem se preparar para isso", alertou.

[SAIBAMAIS]John Brewer, da Queen;s University de Belfast, ressalta que "na Irlanda do Norte, no Sri Lanka, no País Basco espanhol e em outros lados, as populações souberam enfrentar e continuar vivendo normalmente". "As explosões que aconteciam regularmente não impediam as pessoas na Irlanda do Norte de irem trabalhar, namorar, casar", disse Brewer à AFP. "Esses gestos da vida cotidiana lhes permitiram aguentar", acrescentou.

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De fato, "a população não tem opção. Tem de integrar a ameaça", afirma a psicóloga Carole Damiani, que dirige a associação Paris Aide aux Victimes. "Mas se deve encontrar um equilíbrio, evitando dois obstáculos: a hipervigilância e comportar-se como se não tivesse acontecido nada", completou.

Mudar de comportamento

Nessa situação, as redes sociais têm um duplo papel, alega John Brewer. "Por um lado, derrubaram a barreira que nos permitia nos mantermos à margem da extrema violência", explica, destacando que "frente aos atentados, estamos muito mais expostos ao trauma". "Mas, ao mesmo tempo, as redes sociais nos permitem compartilhar imediatamente nossa angústia e isso nos ajuda a enfrentá-la", acrescentou.

Psiquiatra especializado em estresse do Hospital Sainte-Anne de Paris, Patrick Légeron afirma que os atentados criam um efeito, "um sentimento muito forte de insegurança, de perigo invisível e não controlável". "Muita gente compreendeu que o problema é em massa e recorrente", mas "não se pode viver com uma ansiedade permanente", declarou o psicólogo e criminólogo francês Jean-Pierre Bouchard.

Isso significa que os europeus terão de se adaptar, mudando alguns de seus comportamentos - o que pode levar um certo tempo, segundo os especialistas. Alguns vão mudar de comportamento pouco a pouco. Outros tentarão evitar as áreas de risco", comentou Bouchard, lembrando que "não existe uma reação uniforme".

A reação depende do "grau de vulnerabilidade" de cada pessoa, mas também da distância que a separa do local dos atentados. Os moradores das grandes cidades se sentem globalmente mais vulneráveis do que os que vivem longe delas", afirmou. Além disso, com o tempo, "o grau de vigilância" tende a diminuir.

O ex-oficial das Forças Especiais francesas Michel Olivier ressalta que "não se vive como antes em um país em guerra" e que as reações têm de ser ao mesmo tempo individuais e coletivas. Ele aconselha as pessoas que precisam tomar o metrô, necessariamente, para irem trabalhar que "não se deixem transportar passivamente".

Olivier sugere, por exemplo, que fiquem no primeiro, ou no último, vagão do metrô para conseguirem sair mais facilmente, que evitem usar fones e vigiem seu entorno.

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