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Filipinas elegem como presidente candidato que quer exterminar criminosos

Eleitores comemoram triunfo do ex-prefeito Rodrigo Duterte, e ativista dos direitos humanos não esconde preocupação

Rodrigo Craveiro
postado em 10/05/2016 06:00
Executar dezenas de milhares de criminosos. Uma das principais promessas de campanha do populista Rodrigo Duterte, 71 anos, parece ter seduzido o eleitorado e chocou ativistas de direitos humanos do mundo inteiro. Com 90% das urnas apuradas, o ex-prefeito da cidade de Davao, na ilha de Mindanao, tornou-se ontem o próximo presidente das Filipinas. Apelidado de ;Trump da Ásia; ; alusão ao magnata republicano Donald Trump ; e de ;O Punidor;, o sucessor de Benigno Aquino recebeu o triunfo com ;humildade;. ;É com humildade, extrema humildade, que aceito isso, o mandato do povo;, declarou. ;O que posso dizer é que farei o meu melhor, não apenas em minhas horas acordado, mas mesmo em meu sono.; Com 5,92 milhões de votos atrás, a senadora Grace Poe reconheceu a derrota, por volta de 0h15 de hoje (13h15 de ontem em Brasília). ;Rodrigo Duterte está claramente à frente da apuração e foi escolhido pela maioria de nossa população;, declarou. ;Nós travamos uma luta justa. Fizemos o nosso melhor.;

O político, que já ofendeu o papa (veja quadro), em um país onde 80% da população é de católicos, e causou polêmica ao beijar eleitoras na boca mostrou-se nada ortodoxo em relação ao combate à criminalidade. ;Esqueçam as leis sobre os direitos humanos. (;) Se for eleito presidente, farei exatamente o que fiz como prefeito. Vocês, traficantes, assaltantes e canalhas, seria melhor que fossem embora, porque vou matá-los;, gritou, durante o último comício. Duterte acredita que a redução da violência também vai impactar para diminuir a alta taxa de pobreza ; um em cada quatro filipinos vive em condições miseráveis.

Vice-diretor para a Ásia da organização não governamental Human Rights Watch (HRW), Phelim Kine explicou ao Correio que Duterte focou a campanha em uma plataforma que prometeu varrer as drogas, a corrupção e o crime por meio da violência extrajudicial. ;Ele jurou que, caso se tornasse presidente, executaria 100 mil criminosos e lançaria os corpos na Baía de Manila. Tais declarações, antes e durante a eleição, levantaram grave preocupação de que o governo vá resultar em grave regressão dos direitos humanos;, alertou. ;A vitória de Duterte o obrigará a ampliar a proteção aos direitos humanos a toda a população. Como presidente das Filipinas, a ele estará confiada a tarefa de salvaguardar e reforçar os direitos humanos universidades de todos os filipinos.;

Luz no túnel

Moradora de Davao, cidade da qual Duterte foi prefeito por duas décadas, a estudante de engenharia civil Haydee Peñaranda, 20 anos, comemorou o resultado. ;A vitória de Duterte é como uma luz no fim de um túnel aparentemente sem fim. Em um país onde criminosos nunca temem matar e onde as verbas do governo são mal usadas por autoridades, os filipinos precisam de alguém como ele para proteger o bem-estar de cidadãos comuns, em detrimento das elites. Alguns podem temê-lo; outros, odiá-lo; por trás dessa fachada, está um homem que ama profundamente o seu país;, disse ao Correio. Nem mesmo o tratamento prometido aos marginais assusta Haydee. ;Por toda a minha vida, estive em Davao, e eu posso dizer que nunca houve local mais seguro nas Filipinas. Eu preferiria deixar Duterte matar milhares de criminosos, para que estejamos seguros, a permitir que esses assassinos vaguem pelas ruas e executem inocentes.;

A violência assombrou o pleito de ontem. Dez pessoas morreram em ataques de atiradores contra seções eleitorais e emboscadas a veículos. Sete foram assassinadas pouco antes do amanhecer em Rosario, no subúrbio da capital, Manila. Em Guindulungan, uma localidade carente na província de Maguindanao, um homem foi executado dentro da cabine de votação.

No sábado passado, Aquino advertiu sobre o perigo de as Filipinas caminharem na contramão da democracia. ;Preciso da ajuda de vocês para deter o retorno do terror ao nosso país. Não posso fazer isto sozinho;, disse o líder, filho de Corazón Aquino, a política que derrubou o presidente Ferdinand Marcos (1965-1986) e impulsionou um movimento democrático.
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