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França homenageia vítimas de ataque terrorista em meio a distúrbios

Aplausos ressoaram com força durante um minuto no estádio de Marselha, onde era disputada a partida entre França e Albânia

Agência France-Presse
postado em 15/06/2016 21:46

A França homenageou nesta quarta-feira um policial e sua companheira, assassinados por um homem que agiu em nome do grupo Estado Islâmico (EI), um ataque que semeia dúvidas sobre a eficácia da luta contra o extremismo islâmico em plena Eurocopa.

Aplausos ressoaram com força durante um minuto no estádio de Marselha, onde era disputada a partida entre França e Albânia. Anteriormente, foi respeitado um minuto de silêncio nas ;fan zones; e em atos oficiais de governo e pelas forças de segurança.

O presidente François Hollande fez um minuto de silêncio no Ministério do Interior em memória das duas vítimas, mortas em casa por Larossi Abballa, de 25 anos, que reivindicou o crime em nome do grupo Estado Islâmico (EI).

O momento de recolhimento e silêncio também foi observado em todas as delegacias do país e em Magnanville, cidade onde ocorreu a tragédia, a oeste de Paris.

Distante da unidade expressada após os ataques de 2015, este novo atentado provocou reações imediatas da oposição de direita, que criticou o governo e pediu a criação de centros de retenção para pessoas radicalizadas, ainda que não tenham sido condenadas.

A petição foi refutada pelo primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, que defendeu a ação das autoridades.

Ele negou qualquer "falta de discernimento" ou "negligência" dos serviços de inteligência e contra-terrorismo no acompanhamento de Abballa, já conhecido por seu passado radical islâmico e condenado em 2013 por envolvimento em uma rede extremista.

;Outros inocentes vão morrer;

O chefe de governo previu que a França, alvo privilegiado do EI, será atingida por novos ataques. "Outros inocentes perderão a vida. É muito difícil dizer (...) mas, infelizmente, esta é a realidade".

Sete meses após os ataques de 13 de novembro em Paris, o mais mortífero jamais cometido na França (130 mortos), o duplo assassinato de segunda-feira aconteceu um dia depois da carnificina em uma boate gay em Orlando, nos Estados Unidos, onde um homem que também disse agir em nome do EI como um "lobo solitário" - ou "soldado do califado" na terminologia jihadista - matou 49 pessoas no domingo.

O presidente americano, Barack Obama, e François Hollande "reafirmaram seu compromisso compartilhado para destruir o EI" na terça-feira durante uma conversa telefônica, de acordo com a Casa Branca.

O chefe de Estado francês afirmou que a vigilância contra a ameaça foi "elevada ao seu nível máximo" na França, onde o medo de ataques é alimentado pela Eurocopa 2016, que acontece até 10 de julho.

A segurança foi reforçada, sobretudo, em estádios e ;fan zones;. Os investigadores franceses tentam, agora, elucidar se Larossi Abballa teve cúmplices na preparação dos assassinatos.

Em um vídeo filmado na casa de suas vítimas e postado no Facebook, o autor do duplo assassinato de segunda-feira fez a reivindicação do crime por meio de uma mensagem assustadora. "A Eurocopa será um cemitério", proclamou, prometendo "mais surpresas" durante a competição.

Nesta mensagem vista pela AFP, ele também fala em "atacar policiais, jornalistas, agentes penitenciários e rappers.

O procurador de Paris, François Molins, confirmou ter sido encontrada na casa do assassino uma lista com nomes e profissões.

;Isso não pode mais durar;

O porta-voz oficial do EI, o sírio Abu Mohammed al-Adnani, exorta regularmente os seus seguidores a agir contra policiais e militares dos países da coalizão que luta contra a organização na Síria e no Iraque.

Em 22 de maio, ele conclamou seus partidários a cometer assassinatos durante o mês do Ramadã, que começou no início de junho.

Abballa matou a facadas o policial Jean-Baptiste Salvaing, de 42 anos, em frente à sua residência. Ele, então, rendeu e degolou a companheira do policial, a agente administrativa da delegacia vizinha de Mantes-la-Jolie Jessica Schneider, de 36 anos, antes de ser morto a tiros pela polícia.

O filho pequeno do casal, de três anos e meio, e sobre o qual o assassino disse no vídeo "não saber o que fazer", sobreviveu e foi hospitalizado em estado de choque.

Tal ataque, visando alvos individuais em sua própria casa, não tem precedentes na França. Os investigadores tentam agora determinar se o assassino contou com a ajuda de cúmplices.

Três homens de 27, 29 e 44 anos permaneciam sob custódia, dois dos quais foram condenados com Abballa em 2013 por participar de uma rede jihadista no Paquistão.

O nome do Abbala reapareceu no início de 2016 em uma investigação sobre uma rede que organizava viagens para a Síria.

Nascido no departamento de Yvelines, a oeste de Paris, ele foi condenado, então, por participar de uma célula que levava extremistas ao Paquistão.

O reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubaker, lamentou, entretanto, que extremistas possam circular "livremente na França". "Isso não pode continuar", disse ele.

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