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França: assassinos do padre juraram lealdade ao Estado Islâmico

Vídeo divulgado pela agência Amaq mostra dois jovens ao lado de uma bandeira do grupo, um deles recitando em árabe o tradicional sermão de fidelidade ao "emir dos crentes" Abu Bakr al-Baghdadi

Agência France-Presse
postado em 27/07/2016 21:33

O grupo Estado Islâmico (EI) divulgou, nesta quarta-feira à noite (27/7), o vídeo de uma declaração de lealdade dos dois assassinos de um padre em uma igreja na França, enquanto autoridades religiosas e políticas do país defendiam a unidade diante do risco de fraturas.

Divulgado pela agência Amaq, o órgão de propaganda do EI, o vídeo mostra dois jovens ao lado de uma bandeira do EI, um deles recitando em árabe, com um forte sotaque, o tradicional sermão de fidelidade ao "emir dos crentes" Abu Bakr al-Baghdadi.

Ontem, dois extremistas degolaram o padre Jacques Hamel, de 86, e feriram gravemente uma pessoa na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, na Normandia. No mesmo dia, o EI reivindicou a responsabilidade pelo ataque, afirmando que foi realizado por dois de seus "soldados", segundo a agência Amaq.

Nesta quarta-feira, o presidente francês, François Hollande, políticos da maioria e da oposição, entre eles o ex-presidente Nicolas Sarkozy, assim como representantes de todas as religiões, assistiram a uma missa em memória ao padre Jacques Hamel, na Catedral Notre-Dame-de-Paris.

Longe das polêmicas políticas deflagradas após o atentado de 14 de Julho sobre as condições de segurança em Nice e das vaias que recepcionaram o primeiro-ministro Manuel Valls quando ele compareceu para participar de uma homenagem aos 84 mortos, a cerimônia em Notre-Dame teve um tom de gravidade e de recolhimento.

Antes de deixaram o templo, o presidente Hollande e o arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, foram aplaudidos.

"É preciso que a gente afirme nossa fé. Nós podemos ir à missa. Há muitos cristãos no mundo que não têm essa chance", comentou Mathilde, de 36, que compareceu para "mostrar que não temos medo" e para "ficarmos juntos".

O assassinato do padre foi o primeiro cometido em um lugar de culto católico na Europa. Várias homenagens e cerimônias estão previstas até o fim da semana em Saint-Etienne-du-Rouvray, no subúrbio de Rouen.

Na cidade, rosas brancas, bichos de pelúcia e velas se acumulavam nesta quarta na entrada da prefeitura, assim como inúmeras mensagens.

Hoje, lideranças religiosas foram recebidas juntas por François Hollande.

Para o arcebispo Vingt-Trois, os fiéis da França "não devem se deixar levar pelo jogo político" do EI, que "quer colocar uns contra os outros os filhos de uma mesma família".

A caminho das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), em Cracóvia, o papa Francisco fez um apelo pela paz. "Se o mundo está em guerra, trata-se uma guerra de interesses, de dinheiro, de recursos, não de religiões".

Problemas de comportamento

A investigação sobre o ataque contra a igreja já levou à identificação de um dos assassinos, Adel Kermiche, um francês de 19 anos.

Oriundo de uma família de origem argelina e com problemas de comportamento, ele usava uma pulseira eletrônica desde março, depois de passar meses preso por ter tentado ir à Síria, duas vezes, em 2015.

A identificação de seu cúmplice, abatido pela Polícia, ainda não foi formalmente estabelecida. Os investigadores suspeitam se tratar de Abdel Malik P., de 19 anos.

Diante das demandas da direita pelo endurecimento da legislação antiterrorista, o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, rejeitou a ideia de detenção de pessoas fichadas por radicalização: "é inconstitucional" e "totalmente ineficaz".

Acusado pela direita de ter mentido sobre o dispositivo de segurança mobilizado para a noite de 14 de Julho, quando um tunisiano atropelou a multidão, o ministro conseguiu se apoiar em um relatório da "Polícia das Polícias", segundo o qual esse dispositivo não estava subdimensionado.

Os apelos por "coesão" da sociedade lançados pelo Executivo são dificultados pela forte impopularidade de Hollande, enquanto as posições de ambos os lados se endurecem com a proximidade da eleição de 2017.

"O verdadeiro risco é a radicalização de uma parte da opinião católica, da qual uma parte não negligenciável já vota na Frente Nacional", o partido de extrema-direita, avalia o historiador francês Odon Vallet, especialista em Religião.

Atingida três vezes em 18 meses por atentados extremistas sem precedentes - 17 mortos, em janeiro de 2015; 130, em 13 de novembro; 84, em 14 de julho) -, a França permanece sob uma "ameaça muito elevada", repetiu Hollande na terça-feira.

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