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Colômbia inicia contagem regressiva para tornar realidade paz com as Farc

O quarto processo de paz com as Farc depois de tentativas frustradas em 1984, 1991 e 1999 prevê compromissos para solucionar o problema agrário e enfrentar o do narcotráfico, fonte de financiamento da violência

Agência France-Presse
postado em 25/08/2016 15:23

Bogotá, Colômbia - A Colômbia inicia nesta quinta-feira a contagem regressiva para o plebiscito com o qual busca tornar realidade o acordo alcançado com a guerrilha das Farc com o objetivo de deixar para trás mais de meio século de guerra interna.

[SAIBAMAIS]Antes da votação programada para 2 de outubro que decidirá o futuro do acordo, o presidente Juan Manuel Santos e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), Timoleón Jiménez (Timochenko), vão assinar a paz em um local e data a serem definidos, anunciou o governo colombiano em Havana, onde acontecem há quatro anos as difíceis negociações.

Santos, um político de centro-direita artífice das negociações realizadas em Cuba desde novembro de 2012, anunciou que nesta quinta-feira enviará ao Congresso o texto definitivo de 297 páginas do acordo final de seis pontos, e o publicará para que ninguém possa dizer que não o conhece.

"Fica nas mãos de vocês - de todos os colombianos - decidir com seu voto se apoiam este acordo histórico que coloca fim a este longo conflito entre filhos de uma mesma nação", disse o presidente ao anunciar ao país o início do fim "do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra".

Para ser aprovado, o acordo deve receber ao menos 4,4 milhões de votos a favor (13% do eleitorado) que não sejam superados pelos "não".

O acordo pactado com a maior guerrilha da Colômbia, surgida de uma revolta camponesa em 1964, permitirá superar em grande parte um confronto que envolveu grupos armados de esquerda, paramilitares de direita e forças estatais, com um saldo de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

;Fim da guerra fratricida;

Confiando em um resultado favorável nas urnas, o chefe negociador do governo, Humberto de la Calle, indicou nesta quinta-feira que não "há espaço para renegociar" em caso de "não", o que evidencia a disposição de Santos de apostar tudo ao assinar o acordo sem conhecer o veredicto dos colombianos.

Esperançosos, muitos exibiam na Colômbia na quarta-feira bandeiras do país e agitavam balões brancos celebrando a notícia. "É um clamor popular, um grito nacional para que esta guerra fratricida acabe", disse à AFP José Cruz, um ativista de direitos humanos.

O quarto processo de paz com as Farc, depois de tentativas frustradas em 1984, 1991 e 1999, prevê compromissos para solucionar o problema agrário e enfrentar o do narcotráfico, fonte de financiamento da violência. Além disso, estabelece mecanismos de reparação às vítimas e de justiça, assim como de participação política dos futuros ex-combatentes.

Um cessar-fogo bilateral e definitivo e o desarmamento dos rebeldes em um prazo de seis meses contados desde sua concentração em 23 zonas e oito acampamentos na Colômbia estão contemplados no pacto de Havana, que concede à ONU e a observadores internacionais a supervisão do processo.

Para o analista Jorge Restrepo, este acordo não apenas termina com a política com armas, mas permite que a Colômbia se dedique "por fim" aos problemas de política pública pendentes e ataque "de maneira mais efetiva" problemas que exportou, em particular o das drogas.

"É uma oportunidade de virar a página", enfatizou o diretor do Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (Cerac), sobre o dilema de seguir buscando vingança pelo "imenso dano" que as Farc fizeram ao país ou de tomar o "caminho do perdão".

A Colômbia deve "perdoar" os crimes cometidos pelas Farc e a guerrilha deve cumprir o acordo, declarou por sua vez à AFP Roberto Saénz, irmão do líder guerrilheiro Alfonso Cano.

O acordo foi aplaudido pela comunidade internacional. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a alta representante da União Europeia, Federica Mogherini, o líder da OEA, Luis Almagro, o secretário da Unasul, Ernesto Samper, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a candidata democrata Hillary Clinton, todos elogiaram o avanço.

Além disso, o Chile manifestou a Bogotá sua disposição de integrar a comissão que verificará o cumprimento do acordo de paz, segundo informou o chanceler Heraldo Muñoz.

"A presidente (Michelle) Bachelet conversou por telefone com o presidente (Juan Manuel) Santos e reiterou a disponibilidade do Chile de fazer parte da comissão", informou Muñoz.

No mesmo sentido, a Espanha garantiu que acompanhará o processo para consolidar a paz na Colômbia, através da cooperação da União Europeia e com "pessoal militar espanhol e membros das forças e de segurança" para a equipe que trabalhará sob o comando da ONU, informou o ministério das Relações Exteriores




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