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Oposição venezuelana tomará as ruas para não deixar revogatório morrer

"Encheremos as ruas de toda a Venezuela de forma pacífica. O referendo será em 2016", assegurou nesta segunda-feira Jesús Torrealba

Agência France-Presse
postado em 26/09/2016 19:19
Caracas, Venezuela - A oposição venezuelana convocou uma mobilização nacional em 12 de outubro para exigir que o referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro seja realizado em 2016, ainda que o poder eleitoral tenha adiado até 2017 - quando já não poderão haver eleições antecipadas.

[SAIBAMAIS]"Encheremos as ruas de toda a Venezuela de forma pacífica. O referendo será em 2016", assegurou nesta segunda-feira Jesús Torrealba, porta-voz da Mesa da Unidade Democrática (MUD), durante um ato no parque do leste de Caracas.



O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou na última quarta-feira que a oposição poderá recolher as quatro milhões de assinaturas requeridas para chamar o referendo em 26, 27 e 28 de outubro.

Se as conseguirem, afirmou o CNE, a consulta acontecerá entre fevereiro e março do ano que vem, o que garante ao chavismo permanecer no poder até a próxima eleição presidencial prevista para 2018.

"O referendo ocorrerá este ano, não há razões técnicas nem jurídicas para que não seja assim. Qualquer tentativa de bloqueá-lo será respondida nas ruas", disse Torrealba, no ato assistido por dirigentes opositores de todo o país, enquanto Maduro inaugurava o ano letivo na emissora de rádio e televisão.

Para a MUD, a consulta é urgente porque a crise econômica é cada vez pior. O país com as maiores reservas petroleiras do mundo enfrenta uma severa escassez de alimentos e remédios, além de uma inflação galopante calculada pelo FMI em 720% para este ano.

Chavismo promete contramanifestação

O dirigente chavista Jorge Rodríguez prometeu reagir com contramanifestações: "vamos para as ruas outra vez, vamos nos mobilizar estado por estado, município por município".

Rodríguez, porta-voz do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), qualificou o referendo revogatório como uma "desculpa" dos líderes da oposição para "tratar de que o povo os siga em uma aventura violenta".

Ainda que as pesquisas mostrem que oito em cada 10 venezuelanos querem a mudança de governo, Maduro aposta em resolver nos próximos meses o desabastecimento, com a ajuda dos militares, reverter sua impopularidade de 75% e completar seu mandato em janeiro de 2019.

Um revogatório "adiantado"

Mais cedo, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello, assegurou que a oposição busca convocar uma paralisação nacional para pressionar a saída de Maduro do poder, mas afirmou que a tentativa irá "fracassar".

Ao anunciar o cronograma do processo, o CNE declarou que instalará 5.392 máquinas de registro de digitais, que estarão abertas sete horas por dia, a fim de garantir o mínimo de 20% de assinaturas em cada um dos 24 estados.

A oposição, que pedia 19.000 máquinas para o total de 19 milhões de eleitores, rejeita que seja exigido cumprir com 20% em cada estado, e não como resultado da somatória nacional. O CNE não esclareceu como irá proceder.

"Se o governo desacata a Constituição, a vontade soberana, é nosso dever nos mobilizar e obrigá-los a aceitar nas ruas", assegurou Torrealba.

Cabello considerou que a MUD terminará aceitando as condições do CNE. "Não vão conseguir as assinaturas e vão às ruas pedir a desobediência", afirmou.

Mas o deputado Freddy Guevara pediu para "superarem com acréscimo" os 20% e simbolicamente os 7,5 milhões de votos que são requeridos por lei para revogar Maduro. "Que o governo entenda que já está sendo revogado", assegurou.

Para o analista Luis Vicente León, a MUD aceita a contragosto as condições do CNE porque seu objetivo é converter o recolhimento das assinaturas em um "revogatório adiantado".

Diego Moya-Ocampos, da consultora IHS Markit Country Risk, com sede em Londres, adverte que "se o referendo for bloqueado aumentará o risco de protestos desestabilizadores".

Rachaduras expostas

O anúncio do CNE deixou expostas as fissuras na oposição, historicamente dividida. Enquanto alguns defendem seguir adiante, apesar das condições do organismo, outros pedem a desobediência civil e a tomada das ruas.

"O governo fez isso para nos dividir. Se equivocaram, conseguimos uma posição única", assegurou Torrealba.

León considerou que qualquer que fosse a resposta da MUD, as rachaduras já ficaram patentes, "o que obriga a oposição a começar com ;um pé só;".

A MUD traçou seu roteiro após o encerramento do encontro de seus dirigentes no fim de semana e as consultas com sindicalistas, empresários e estudantes em busca de uma participação massiva nos protestos.

Para Moya-Ocampos, a MUD está diante de "uma prova crucial" em que deverá demonstrar sua capacidade de mobilização, pois desde a manifestação de 1 de setembro - segundo a oposição de um milhão de pessoas - não consegue reunir mais do que algumas centenas de pessoas nas ruas.

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