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Principal acusada em julgamento de neonazistas na Alemanha rompe o silêncio

"Hoje, não tenho nenhuma simpatia pela ideologia nacional-socialista", afirmou no tribunal de Munique Beate Zschäpe, de 41 anos

Agência France-Presse
postado em 29/09/2016 09:46
Munique, Alemanha - A principal acusada no julgamento de um grupo neonazista na Alemanha decidiu falar nesta quinta-feira (29/9), após três anos de silêncio, afirmando que não sente nenhuma simpatia pela ideologia nazista e condenando os assassinatos racistas dos quais está acusada.

"Hoje, não tenho nenhuma simpatia pela ideologia nacional-socialista", afirmou no tribunal de Munique Beate Zsch;pe, de 41 anos, que havia se recusado até agora a fazer qualquer declaração durante o processo, iniciado em maio de 2013. "Já não julgo as pessoas por suas opiniões ou suas origens, e sim em função de suas ações", disse.

"Condeno o que Uwe Mundlos e Uwe B;hnhardt fizeram com as vítimas", completou, em referência a dois companheiros do pequeno grupo neonazista a que pertencia, mas sem admitir participação nos crimes. Em dezembro do ano passado, Beate Zsch;pe, que pode ser condenada à prisão perpétua, negou, em um texto lido por seu advogado, ter participado em qualquer um dos nove assassinatos xenófobos, assim como o de uma policial, entre 2000 e 2007.

Mas admitiu sua responsabilidade "moral" por não ter conseguido influenciar os falecidos cúmplices para impedir os assassinatos. Zsch;pe, que viveu 14 anos na clandestinidade, se apresentou então como uma companheira passiva de Mundlos e B;hnhardtsus do grupo neonazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU).

Ela disse que os dois homens, que cometeram suicídio em novembro de 2011 quando estavam a ponto de serem descobertos pela polícia, planejaram e cometeram os crimes sozinhos. Ao lado de Beate Zsch;pe, no banco dos réus estão outros quatro neonazistas suspeitos de ajudar o trio com a logística.



Natural de Jena (leste), Zsch;pe passou à clandestinidade em 1998, quando o trio foi detectado pelo serviço de inteligência interno. Antes de 1998, "em um círculo de amigos daquela época, me identifiquei com aspectos da ideologia. Depois de seguir para a clandestinidade (a partir de 1998), temas como o medo e a invasão de estrangeiros se tornaram temas cada vez menos evidentes para mim", declarou no tribunal.

As oito vítimas assassinadas pelo grupo eram em sua maioria turcos ou de origem turca. O caso provocou uma forte comoção na sociedade alemã, pois o trio permaneceu ativo durante anos e atuou com total impunidade, aproveitando as falhas do serviço de inteligência interno.

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