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Divisão no Conselho de Segurança obstrui trégua na Síria

Membros do Conselho de Segurança da ONU voltaram a expor suas divergências neste sábado

Agência France-Presse
postado em 08/10/2016 20:43
Os membros do Conselho de Segurança da ONU voltaram a expor suas divergências neste sábado (08/10), depois que a Rússia vetou um projeto de resolução da França para cessar os bombardeios na cidade síria de Aleppo, e os ocidentais rejeitaram uma contraproposta de Moscou.

A Rússia, principal aliada do governo sírio, vetou um rascunho apresentado pela França, que pedia a suspensão imediata dos ataques aéreos à segunda cidade síria, onde 250.000 moradores estão expostos há duas semanas a uma ofensiva das tropas de Bashar al Assad.

O texto francês teve o apoio de 11 dos 15 membros do Conselho de Segurança, o veto de Venezuela e Rússia e a abstenção de China e Angola. É a quinta vez que a Rússia utiliza seu direito de veto na ONU com relação ao conflito na Síria.

A proposta apresentada pela Rússia, que pedia simplesmente a suspensão das hostilidades, "entre outros lugares, em Aleppo", foi repudiada por 9 dos 15 membros do Conselho, e aprovada por Venezuela, Egito e China, enquanto Uruguai e Angola se abstiveram.
[SAIBAMAIS]
Os dois textos demonstram uma vez mais a fratura existente entre Moscou e os ocidentais sobre como solucionar o conflito. O embaixador britânico na ONU, Matthew Rycroft, falou do "veto solitário" e do "veto cínico" de parte da Rússia, que há duas semanas apoia uma ofensiva de grande envergadura do regime sírio na zona rebelde de Aleppo.

A cidade é o principal foco do conflito, que arrasa há mais de cinco anos a Síria, que deixou mais de 300.000 mortos, provocando a pior tragédia humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Neste sábado, as tropas governamentais continuavam ganhando terreno dos rebeldes por três eixos.

Os combates prosseguem em Aleppo
A parte leste da cidade, onde estão os rebeldes, foi arrasada por bombardeios muito intensos, que provocaram centenas de mortos e destruíram as infraestruturas civis.

"A batalha se desenvolve no centro, especialmente no bairro de Bustan al Basha, onde o exército está avançando, no sul, em Sheij Said, e na periferia norte, onde o regime tomou o bairro de Uwayja", explicou à AFP o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

A ONG informou que desde o início da ofensiva de Damasco e Moscou, em 22 de setembro, morreram 290 pessoas, a maior parte civis, inclusive 57 menores de idade. Enquanto isso, nos bairros controlados pelo governo morreram 50 civis, inclusive nove crianças.

Durante o dia, os bombardeios se concentraram sobretudo nas zonas de combate, informou o correspondente da AFP no lado rebelde.

"Mais perigosa" que a Guerra Fria
Em alusão à tensão cada vez mais palpável entre Estados Unidos e Rússia, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, disse em uma entrevista publicada neste sábado que o período atual é "mais perigoso" que a Guerra Fria.

"É uma ilusão pensar que se trata da antiga Guerra Fria. A época atual é diferente, mais perigosa", declarou o ministro alemão. "O risco de um confronto militar é considerável", acrescentou.

Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, denunciaram em Washington que o regime sírio cometeu "crimes de guerra" em Aleppo ao bombardear hospitais e escolas.

No antigo pulmão econômico da Síria, há 250.000 habitantes sitiados há quase dois meses. Kerry denunciou "uma estratégia organizada para aterrorizar os civis e matar qualquer um que esteja no caminho de seus objetivos militares".

O regime sírio está confirmando "com uma brutalidade sem precedentes eu objetivo (...) que não tem nada a ver com a luta contra o terrorismo. O objetivo é a capitulação de Aleppo", disse Ayrault.

"Todos temos na memória Guernica, Srebrenica, Grozny. O que está ocorrendo em Aleppo é a repetição desta tragédia", acrescentou. O embaixador russo, Vitali Churkin, defendeu seu texto e destacou que no conflito sírio é preciso "avançar de forma paralela e sem condições prévias".

O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, tinha advertido que se os ataques contra Aleppo prosseguissem, a cidade será á "completamente destruída antes de janeiro". De Mistura propôs que os combatentes da organização extremista Frente Fateh al-Cham (ex-Al Nusra, braço sírio da Al Qaeda) deixem os bairros do leste de Aleppo e que o governo sírio e seu aliado russo suspendam os bombardeios.

Moscou se disse disposta a "apoiar" a iniciativa se os extremistas deixarem efetivamente a cidade.

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