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Sob tensão, Venezuela inicia trégua em frágil diálogo governo-oposição

Oposição considera que uma mudança de governo é a única forma de resolver a crise que atinge o país petroleiro, com um grave desabastecimento de alimentos e de remédios

Agência France-Presse
postado em 02/11/2016 20:56
A oposição venezuelana deu uma trégua de dez dias ao presidente Nicolás Maduro, em sua aposta por negociar uma mudança de governo mediante o diálogo, apesar do risco de perder o apoio de uma população atingida pela crise e que clama por saídas rápidas.

"Em apenas alguns dias, o mundo vai ver quem cumpre e quem não. Em 11 de novembro, voltaremos à mesa, e este é o momento para avaliar se os supostos gestos vão acontecer", advertiu nesta quarta-feira (2/11) o secretário-executivo da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba.

Desconcertando seus seguidores, na terça-feira (1;/11), a MUD suspendeu um julgamento sobre a responsabilidade de Maduro na crise, assim como uma marcha até o Palácio presidencial de Miraflores, à espera de gestos de reciprocidade em um diálogo iniciado no domingo com o apoio do Vaticano e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

"Se, de agora até 11 de novembro, não houver sinal claro sobre a libertação dos presos políticos e sobre o caminho eleitoral (...) será dito ao país ;senhores, fizemos tudo o que podíamos;, e acabará o diálogo", destacou o ex-candidato presidencial e um dos líderes da oposição Henrique Capriles.

Eleições antecipadas?

A oposição considera que uma mudança de governo é a única forma de resolver a crise que atinge o país petroleiro, com um grave desabastecimento de alimentos e de remédios e uma inflação que o FMI prevê de 475% para este ano.
Há duas semanas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) suspendeu o processo de referendo revogatório, com o qual a oposição pretende tirar Maduro do poder. A escalada do conflito chegou a um ponto em que o papa Francisco teve de intervir.

Na mesa de diálogo, a oposição pediu um "cronograma eleitoral", a liberdade "dos presos políticos", a devolução dos poderes ao Parlamento - de maioria opositora -, a substituição de autoridades eleitorais e medidas para solucionar a escassez.

Mas o objetivo central se mantém. Capriles, assim como outros líderes opositores, afirmou que as eleições gerais são um cenário "viável" para acelerar a saída de Maduro, cujo mandato termina em janeiro de 2019.

"O que está em jogo não são apenas alguns gestos para que o povo se acalme. Não se trata de dar um paliativo para essa catástrofe. O tema dos presos políticos é chave, mas a via eleitoral é vital", manifestou Torrealba.

O analista Benigno Alarcón acredita que o governo está apenas "ganhando tempo".

"Acho pouco provável que tendo feito tudo contra o referendo, aceite agora uma antecipação das eleições", disse à AFP.

A desconfiança não é para menos. Pouco depois de a MUD ter cedido, Maduro chamou de "terrorista" a Vontade Popular, partido fundado pelo preso Leopoldo López. A VP não se somou ao diálogo, assim como outros 15 agrupamentos da coalizão.

"Com sua agressão, a Vontade Popular e sua tentativa de dividir os democratas venezuelanos estão dando uma patada na mesa e estão tirando sarro do papa Francisco", criticou Torrealba.

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