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Desnutrição: 1,4 milhão de crianças enfrentam risco de morte iminente

Unicef alerta que 1,4 milhão de menores enfrentam risco iminente ante grave desnutrição na Nigéria, na Somália, no Sudão do Sul e no Iêmen. Conflitos, miséria e seca potencializam tragédia

Rodrigo Craveiro
postado em 22/02/2017 06:00
Kore Jide, 25 anos, segura o filho Baba Gana Bodou, de 11 meses, ao ser atendido por médicos do Unicef em Borno, no nordeste da Nigéria

Enquanto você lê este texto, cerca de 1,4 milhão de crianças enfrentam o risco de morte iminente, vítimas de grave desnutrição ; produto da fome que assola Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Iêmen. O alerta foi feito ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que cobrou celeridade da comunidade internacional para evitar a consumação da tragédia. ;O tempo está se esgotando para mais de 1 milhão de crianças. Nós ainda podemos salvar muitas vidas. A desnutrição severa e a fome iminente são produzidas pelo homem. Nossa humanidade demanda uma ação mais rápida. Nós não devemos repetir a tragédia da fome que atingiu o ;Chifre da África; em 2011;, afirmou Anthony Lake, diretor executivo do Unicef.

Especialista em comunicação de crise para oeste e centro da África, Patrick Rose acaba de retornar do nordeste da Nigéria, onde ficou por mais de um mês. Por telefone, do Senegal, ele disse ao Correio que a situação na Nigéria é ;extremamente grave; e ;chocante;. ;O Boko Haram (um grupo terrorista islâmico) expulsou os moradores de cidades e vilarejos em direção a campos de deslocados internos. As pessoas perderam a habilidade de cultivar, de vender alimentos e de ter uma agricultura de subsistência;, explicou. Segundo Patrick, uma seca de longa duração agravou a crise alimentar. ;Quando você começa a conversar com habitantes da cidade de Maiduguri, em dois minutos, eles começam a indicar, como em uma linguagem universal: ;Por favor, me deem comida, estou com fome;. E socam o próprio abdome;, relatou.

Somália

Até o fim do ano, o Unicef estima que a desnutrição severa afete 450 mil crianças nigerianas nos estados de Adamawa, Borno e Yobi. ;O Fews Net, sistema de alerta que monitora a insegurança alimentar, afirmou no ano passado que a fome ocorreu em áreas inacessíveis de Borno. A situação continua e prosseguirá em outras áreas que permanecem além do alcance humano;, declarou ao Correio a tunisiana Najwa Mekki, porta-voz do Unicef em Nova York. Ela acrescenta que, na Somália, a estiagem ameaça uma população fragilizada por décadas de conflitos. Cerca de metade dos somalis, ou 6,2 milhões de pessoas, estão enfrentando insegurança alimentar aguda e precisam de assistência humanitária. Pelo menos 185 mil crianças devem sofrer de grave desnutrição neste ano, ainda que este número possa chegar a 270 mil nos próximos meses.

No Sudão do Sul, a guerra, a miséria e a insegurança contribuíram para que 270 mil crianças desenvolvessem a desnutrição severa. Partes do estado de Unity, no centro-norte do país, foram oficialmente declaradas pelas autoridades de ;áreas da fome;. Até 5,5 milhões de pessoas devem ficar sem alimentos até julho, se nada for feito pela comunidade internacional. No Iêmen, por sua vez, o conflito que se arrasta há dois anos deixou 462 mil crianças desnutridas ; um aumento de 200% desde 2014. ;Esses desastres são produzidos pelo homem. A fome não ocorre da noite para o dia. Ela pode ser evitada, se agirmos rapidamente;, lembrou Mekki. Patrick Rose acredita que o mundo pode reverter esse quadro. ;O mundo é repleto de pessoas generosas e gentis. As organizações internacionais podem dispender os esforços para ajudar as crianças.;

Mekki afirma que, na maioria desses países, ;é urgentemente necessário o acesso humanitário incondicional e sustentável a todos aqueles que enfrentam a fome ou o risco de fome;. ;A ajuda humanitária fornecida auxiliou a prevenir a fome e a salvar vidas no condado Mayendit, no Sudão do Sul, e em algumas partes do estado de Borno, na Nigéria. Nós temos a habilidade e sabemos como continuar esse trabalho de salvar vidas, se tivemos acesso irrestrito e imediato às crianças que precisam de nossa ajuda;, atesta a tunisiana. O Unicef tem trabalhado com parceiros para levar tratamento médico a 220 mil crianças gravemente desnutridas na Nigéria, 400 mil no Sudão do Sul e na Somália e 320 mil no Iêmen.

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