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Testemunhas de atentado em Londres relatam momentos de horror ao Correio

Terrorista atropela, mata três pedestres e fere 40 sobre a Ponte de Westminster. Depois, desce do carro com uma faca e assassina policial antes de ser morto a tiros. Polícia suspeita de extremismo islâmico

Rodrigo Craveiro
postado em 23/03/2017 06:00

Ferido recebe os primeiros socorros (D), ao lado do carro utilizado pelo terrorista: até o fechamento desta edição, ninguém tinha reivindicado o ataque


O ativista James West, 34 anos, estava em uma sala de reuniões da Portcullis House, prédio que abriga escritórios de 213 parlamentares, em Londres. Por volta das 14h40 (11h40 em Brasília), ele olhou pela janela e se deparou com um Hyundai i40 4x4 de cor cinza batido na calçada. ;Eu pensei que fosse um acidente. Foi quando vi um homem sair do carro, com uma grande faca na mão, e correr em direção ao prédio do Parlamento. Ele passou pelos portões. Também vi quando um policial tropeçou e foi esfaqueado várias vezes, mas pareceu ter escapado;, contou ao Correio. Segundo West, o agressor se dirigiu até a entrada do Westminster Hall, o principal edifício do Parlamento do Reino Unido, onde foi morto a tiros, após assassinar o policial Keith Palmer, 48, membro do Serviço de Proteção Diplomática. Antes, atropelou várias pessoas, incluindo três policiais, sobre a Ponte de Westminster. Para escapar do impacto, uma mulher se jogou no Rio Tâmisa e foi resgatada gravemente ferida.


O terror voltava a golpear o coração da capital britânica. O ataque deixou cinco mortos, incluindo o extremista, e 40 feridos, alguns dos quais em estado crítico. Entre as vítimas, estão três estudantes franceses. O parlamentar Tobias Ellwood foi considerado um herói, ao correr em direção a Palmer e fazer massagem cardíaca. Médicos descreveram os ferimentos como ;catastróficos;.

O neurocirurgião carioca Renato Lincoln Corrêa Patrício, 52, caminhava com a mulher, Conceição Viguera Patrício, pela Parliament St., em direção ao prédio do parlamento, onde pretendiam tirar fotos. ;Quando estávamos perto da esquina, escutamos três tiros intercalados. Andamos mais um pouco e observamos que, atrás do parlamento, havia um carro batido na parede. Do lado do carro, tinha uma pessoa caída no chão, mas não vi sangue;, relatou ao Correio, por telefone.

De acordo com ele, a polícia chegou ao local rapidamente e isolou a área, obrigando-os a se afastar. ;Fomos empurrados até o prédio da Suprema Corte. Depois de toda a movimentação dos policiais, imaginei que se tratava de um atentado. As pessoas estavam atordoadas e não entendiam o que ocorria;, acrescentou o médico, que chegou a Londres anteontem, depois de uma estada de quatro dias em Paris.

O londrino Matt Haikin, 44, pedalava por Westminster no momento do atentado. ;Eu vi o carro colidindo e ouvi os tiros. Até então, pensei que tivesse sido uma batida. Estranhamente, eu me senti mais curioso do que qualquer coisa. Somente mais tarde comecei a ficar com medo;, disse à reportagem. O mais surpreendente, de acordo com ele, foi a falta de pânico no momento. ;Havia curiosidade, não havia tantos gritos. Muito estranho!”

;Doentio;

Até o fechamento desta edição, nenhum grupo tinha reivindicado a autoria do atentado, que ocorre em um momento sensível para o Reino Unido ; em seis dias, a primeira-ministra britânica, Theresa May, deve oficializar a saída da União Europeia. A mídia londrina chegou a apontar o pregador islâmico Abu Izadeen, 41 anos, como autor, mas voltou atrás, ante a informação de que ele estaria preso. ;Não vou fazer comentários sobre a identidade do agressor (;), mas privilegiamos a pista do terrorismo islâmico. Assumimos que é um terrorista islâmico;, admitiu Mark Rowley, comandante da unidade antiterrorista da Polícia Metropolitana de Londres.

Simpatizantes do Estado Islâmico comemoraram o ataque nas redes sociais e afirmaram que o ;Reino Unido está pagando sangue com sangue;. May reuniu o gabinete de crise e descartou elevar o nível de ameaça terrorista, atualmente na escala de ;severo;, o segundo mais alto. ;O local desse ataque não foi acidental. O terrorista escolheu atacar o coração de nossa capital, onde pessoas de todas as nacionalidades, religiões e culturas se unem para celebrar os valores da liberdade, da democracia e da liberdade de expressão;, afirmou a chefe de governo, ao classificar o atentado de ;doentio; e ;depravado;.

A premiê enviou um recado ao extremismo islâmico. ;Deixem-me ser bem clara hoje. Qualquer tentativa de derrotar esses valores, por meio da violência, está condenada ao fracasso. Amanhã de manhã, o parlamento vai se reunir, como de praxe. Os londrinos vão se levantar e enfrentar o seu dia, como de praxe. Eles caminharão pelas ruas, viverão suas vidas, jamais se rendendo ao terror e nunca permitindo que as vozes do ódio e do mal nos separem.; O prefeito de Londres, o muçulmano Sadiq Khan, fez o mesmo: ;A mensagem àqueles que querem nos prejudicar e destruir nosso modo de vida é: vocês não terão sucesso, vocês não nos dividirão;.

Ex-agente do serviço secreto francês DSGE, Yves Trotignon disse ao Correio que o incidente em Londres é ;quase certamente um ataque jihadista;. ;Foi uma tentativa real de matar pessoas, do lado de fora e dentro do parlamento, com um modus operandi clássico, visto em Berlim e em Nice;, comentou, ao citar atentados em que foram usados caminhões. O atentado coincide com o reforço de segurança nos aeroportos, depois de EUA e Reino Unido proibirem laptops e tablets nos aviões.

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