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Confrontos marcam manifestação opositora em Caracas

Os confrontos começaram quando uma manifestação, que juntou 5.000 pessoas, mudou de rota para se dirigir até o centro da cidade e foi impedida de avançar por uma barreira montada pelos militares

Agência France-Presse
postado em 06/04/2017 17:14

Manifestantes opositores se enfrentavam nesta quinta-feira com agentes da Guarda Nacional no leste de Caracas, durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, constataram jornalistas da AFP no local.

[SAIBAMAIS]Os confrontos começaram quando uma manifestação, que juntou 5.000 pessoas, mudou de rota para se dirigir até o centro da cidade e foi impedida de avançar por uma barreira montada pelos militares.

Os opositores se concentraram em uma estrada na altura do bairro de Altamira, segundo o plano original, mas dirigentes como o ex-candidato à presidência Henrique Capriles pediram que se mobilizassem até a Defensoria do Povo, localizada em uma área histórica.

"Capriles está procurando por mortos para incendiar o país", denunciou o dirigente oficialista Freddy Bernal.

No setor de El Recreo, a militarizada Guarda Nacional colocou grandes caminhões com os quais formou uma barreira, bloqueando a estrada de oito pistas.

Também lançaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos de águas para dispersar a multidão, mas os manifestantes, muitos deles com os rostos cobertos, responderam com pedras.

Na manifestação encontram-se vários deputados da maioria opositora no Parlamento.

"Vamos ficar aqui até conseguir passar", expressou a parlamentarista Gaby Arellano, enquanto choviam balas de borracha.

O governo costuma impedir qualquer mobilização opositora até o centro, que o chavismo considera seu reduto e onde se concentram as sedes dos poderes públicos.

Nessa área, próximo à Assembleia Nacional, milhares de oficialistas se manifestavam nesta quinta-feira em apoio a Maduro.

"Não temos medo"


Os opositores protestam contra as sentenças do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) com as quais assumiu brevemente, na semana passada, os poderes do Parlamento e retirou a imunidade dos deputados.

"Queremos tirar Maduro, estamos cansados desta ditadura, não temos medo", disse à AFP Yoleidy Rodríguez, estudante universitário de 22 anos.

As sentenças, anuladas parcialmente no sábado após a forte pressão internacional, impulsionaram os críticos do governo a tentar reconquistar as ruas.

Os oficialistas protestam contra o "golpe parlamentar" que, segundo alegam, a Assembleia quer dar em sua disputa contra o TSJ.

Maduro acusa os dirigentes opositores de querer "encher as ruas de sangue" para derrubá-lo, com a ajuda da Organização dos Estados Americanos (OEA), que nesta semana declarou uma "grave" alteração da ordem constitucional na Venezuela.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, recebeu nesta quinta-feira em Washington o presidente do Legislativo, o opositor Julio Borges.

"Vamos enfrentar o imperialismo, os grupos econômicos que querem derrubar o governo revolucionário", disse à AFP Vismar Cifuentes, funcionário público, durante um protesto que incluiu canções e palavras de um cover do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013).

Destituição improvável


Como ocorreu durante o protesto opositor de terça-feira, que deixou vários feridos e presos, nesta quinta-feira havia forte presença militar e policial, várias estações de metrô foram fechadas e nos acessos da cidade havia pontos de controle.

O foco da manifestação opositora é apoiar um processo iniciado na quarta-feira na Câmara para destituir os magistrados do TSJ.

Mas antes que o Parlamento possa atuar, o chamado Poder Moral deve certificar que os juízes cometeram uma "falta grave", algo improvável segundo analistas, pois seus integrantes - a Procuradoria, a Controladoria e a Defensoria do Povo - são próximos ao governo.

Quando a procuradora-geral, Luisa Ortega, declarou na semana passada que os ditames supunham uma "ruptura da ordem constitucional", criando um racha no oficialismo, ainda faltava um voto para qualificar a falta como grave.

De todas as formas, "Maduro não pode dizer agora que está certo do apoio que tem, incluindo o das Forças Armadas", declarou à AFP o cientista político Luis Salamanca.

Por isso, o presidente "não tem interesse" em eleições neste ano, como exige a oposição, acrescentou.

As eleições dos governadores deveriam ser realizadas em dezembro de 2016, mas foram suspensas e ainda não têm data. As de prefeitos estão marcadas para este ano e as presidenciais para dezembro de 2018.

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