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Atentado contra refugiados deixa mais de 120 mortos na Síria

Suicida detonou um carro-bomba perto da cidade síria de Aleppo contra o comboio de ônibus que transportavam civis

Agência France-Presse
postado em 16/04/2017 09:00
Suicida detonou um carro-bomba perto da cidade síria de Aleppo contra o comboio de ônibus que transportavam civis
Ao menos 125 sírios, incluindo 68 crianças, que estavam sendo evacuados das localidades sitiadas e leais ao regime morreram e centenas ficaram feridos no atentado com uma caminhonete-bomba realizado no sábado contra um comboio de ônibus, um dos ataques mais violentos em mais de seis anos de guerra.

Um suicida explodiu sua caminhonete-bomba contra um comboio de ônibus que transportavam os habitantes retirados de Fua e Kafraya, localidades leais ao regime assediadas pelos rebeldes na província de Idlib (noroeste), segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Em seu tradicional "Urbi et Orbi" de Domingo de Páscoa, o papa Francisco denunciou um "vil ataque" e implorou a paz na Síria, país "martirizado" e vítima de uma guerra "que não para de semear horror e morte".

O ataque, que ainda não foi reivindicado, aconteceu em Al Rashidin, periferia rebelde a oeste de Aleppo (norte), onde o comboio foi bloqueado durante várias horas por desacordos entre as partes em conflito.

Foi junto aos 75 ônibus parados em Al Rashidin que o suicida fez o carro-bomba explodir.

Havia pelo menos 68 crianças entre as 126 vítimas fatais do atentado, informou neste domingo o OSDH, alertando que o balanço não para de aumentar, pela quantidade de feridos em estado grave.

A maioria dos mortos são habitantes de Fua e Kafraya. O restante são ajudantes e rebeldes que cuidavam dos ônibus.

O correspondente da AFP no local viu muitos cadáveres, alguns carbonizados, incluindo de crianças, e membros espalhados pelo chão, assim como muitos feridos.

"A morte te surpreende"

Os ônibus atacados estavam carbonizados e, ao lado de uma cratera, uma caminhonete, provavelmente a utilizada no ataque, estava completamente destruída.

"Houve uma enorme explosão", conta Mayssa al Aswad, de 30 anos, que estava sentada em um ônibus com seu bebê de seis meses e sua filha de dez anos no momento do atentado.

"Ouvi gritos e choros (...) meu bebê Hadi chorava muito, minha filha Narjes me olhava, completamente paralisada", conta à AFP, que a contactou por telefone de Damasco. "A morte pode te surpreender em alguns minutos", acrescentou.

Poucas horas depois do ataque, os comboios de pessoas retiradas retomaram o caminho para chegar a seu destino final.

O regime sírio acusou pelo atentado os "grupos terroristas", termo utilizado pelo governo para designar rebeldes e extremistas. Mas o influente grupo rebelde Ahrar al Sham negou qualquer envolvimento com o atentado.

O secretário-geral adjunto de assuntos humanitários e coordenador dos serviços de emergência da ONU, Stephen O;Brien, disse estar "horrorizado" por este ataque "monstruoso e covarde". Seus autores "demostraram uma descarada indiferença pela vida humana", ressaltou.


Retirada continua?

A operação de retirada, que também abarca milhares de habitantes das localidades rebeldes de Madaya e Zabadani, perto de Damasco, começou na sexta-feira em virtude de um acordo alcançado entre o Catar, apoiador dos rebeldes, e o Irán, aliado do governo.

Mais de 7.000 pessoas foram retiradas na sexta-feira e no sábado das quatro localidades. Cerca de 5.000 pessoas de Fua e Kafraya -civis e combatentes- chegaram a Aleppo (norte), onde escolherão seu destino final. Os 2.200 evacuados de Madaya e Zabadani chegaram a Idlib, controlada em sua maioria pelos rebeldes.

Não estava claro se a operação de retirada que deveria destinar-se a milhares de pessoas continuará de forma imediata.

Nos últimos anos, e depois de meses de tentativas, o governo propôs acordos de retirada similares, que a oposição denuncia como "transferências forçadas", consideradas "crimes contra a humanidade".

Em outras áreas do país em guerra, o grupo extremista Estado Islâmico (EI) tentava neste domingo frear uma ofensiva de combatentes curdos e árabes apoiados pelos Estados Unidos, que buscavam apoderar-se de Tabqa no norte.

Tabqa é um passo-chave no caminho para Raqa, capital autoproclamada do grupo EI na Síria e verdadeiro objetivo das Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança de combatentes curdos e árabes.

Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão das manifestações que pediam reformas, o conflito sírio já deixou mais de 320.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados, e foi complicado com a entrada em cena de atores internacionais e grupos extremistas.

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