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Na OEA, Washington rejeita acusação de promover golpe na Venezuela

O representante interino dos Estados Unidos disse que são "infundadas e irracionais" as acusações de "apoio americano a um golpe na Venezuela, assim como apoio a manifestações violentas"

Agência France-Presse
postado em 19/04/2017 18:46
Os Estados Unidos rejeitaram, nesta quarta-feira (19), na Organização dos Estados Americanos, as acusações de que Washington estaria promovendo um "golpe de Estado" na Venezuela, denunciando-as como "infundadas e irracionais" por parte do governo de Caracas.

Em uma sessão do Conselho Permanente da OEA, o vice-chanceler venezuelano, Samuel Moncada, acusou Washington de orquestrar "um golpe de Estado" contra o país, articulando protestos contra o governo, além de iniciativas diplomáticas para isolar o país sul-americano.

O representante interino dos Estados Unidos, Kevin Sullivan, disse que são "infundadas e irracionais" as acusações de "apoio americano a um golpe na Venezuela, assim como apoio a manifestações violentas".

"Nada pode estar mais longe do caso", acrescentou o diplomata.

Ainda segundo Moncada, a OEA serve de "sala de comando" para incitar a violência na Venezuela. Ele também denunciou que o secretário-geral da organização, Luis Almagro, está convocando a população à "guerra civil".

"Este lugar está sendo usaddo como sala de comando para estimular a violência na Venezuela", declarou Samuel Moncada em entrevista coletiva na OEA.

"O secretário-geral e todos esses países que promoveram essa fraude são, precisamente, parte desse complô", insistiu, ao comentar a resolução da Casa sobre a ruptura constitucional na Venezuela, assim como a promoção de iniciativas diplomáticas para restaurar a "ordem democrática".

Para Caracas, nada disso tem validade legal.

O representante venezuelano acusou Almagro de redigir "manifestos insurrecionais, convocando a violência e a guerra civil" na Venezuela - em uma alusão a dois relatórios críticos elaborados pelo ex-chanceler uruguaio sobre a crise política e social na Venezuela.

Ontem, o presidente Nicolás Maduro já havia afirmado que os Estados Unidos deram "sinal verde" para um golpe de Estado, depois de Washington ter divulgado um comunicado com uma advertência contra a repressão violenta e ilegal durante os protestos da oposição desse quarta-feira em várias cidades do país.

Nessa linha, Moncada disse que os Estados Unidos "estão dirigindo e financiando" um golpe na Venezuela e na OEA, em referência a Almagro.

"O governo dos Estados Unidos é quem dirige o golpe de Estado neste momento", continuou.

Violência continua

Nesta quarta, milhares de simpatizantes e membros da oposição e do governo medem forças nas ruas de Caracas.

Assim como ocorreu nos outros dias de protesto, policiais do Batalhão de Choque bloquearam, com gás lacrimogêneo, diferentes pontos do trajeto da marcha opositora. Em aberto confronto, manifestantes reagiam com pedras e coquetéis molotov.

Segundo informações preliminares, duas pessoas teriam morrido até agora durante as manifestações.

Atingido por disparos no protesto em San Bernardino, no noroeste de Caracas, um adolescente de 17 anos não resistiu e faleceu em um hospital, de acordo com relatos de testemunhas e de uma autoridade médica.

Já na cidade fronteiriça de San Cristóbal (oeste) uma jovem de 23 anos morreu com um tiro na cabeça, também durante protestos, informou a Procuradoria e a ONG de direitos humanos Provea.

A oposição garante que os protestos são pacíficos, mas que, ainda assim, terminam reprimidos pelas forças de segurança.

Hoje, na sessão do Conselho Permanente da OEA, Moncada relatou que, embora "comecem pacificamente", as manifestações são depois tomadas por "grupos de choque profissionais", responsáveis pelos episódios violentos.

"É uma violência estimulada no exterior para estimular os elementos mais violentos, terroristas, criminosos na Venezuela, como desculpa para a intervenção política", completou Moncada.

"É uma cadeia de transmissão, se retroalimenta: um, no terreno, na Venezuela; e outro, aqui na sala de comando e na tomada de decisões", apontou.

Hoje, o presidente Nicolás Maduro anunciou a detenção de 30 pessoas que estariam planejando cometer atos de violência na marcha da oposição em Caracas.

"Foram detidos mais de 30 encapuzados, violentos, terroristas, identificados plenamente", denunciou Maduro, em um discurso ovacionado por seus seguidores na Avenida Bolívar.

Ele relacionou as detenções a lideranças da oposições, como o deputado Richard Blanco. Um dos detidos, identificado por Maduro como "El Jefferson", teria sido capturado com "armas e explosivos", financiado por Blanco

EUA monitoram situação

Em declarações hoje, o secretário de Estado, Rex Tillerson, disse que os EUA acompanham "de perto" e observam com "preocupação" a situação na Venezuela.

De acordo com Tillerson, o governo Maduro "não deixa que se ouça a voz da oposição" e, por isso, a Casa Branca sente "preocupação com a situação".

"Estamos observando de perto" o que acontece nesse país, garantiu o secretário de Estado.

Para Tillerson, os Estados Unidos também estão preocupados porque "o governo de Maduro está violando sua própria constituição" e não permite que a oposição "se organize de forma que sua voz seja ouvida".

Ontem, o Departamento de Estado americano já havia feito uma advertência às forças da ordem e a funcionários do Poder Judiciário na Venezuela para que autorizassem as manifestações da oposição. Caso contrário, ameaçava, o governo venezuelano sofreria as consequências dentro e fora do país.

"Aqueles responsáveis pela repressão criminosa das atividades pacíficas e democráticas, por minar as instituições e práticas democráticas, e pela flagrante violação de direitos humanos deverão prestar contas individualmente", disse o porta-voz Mark Toner em um comunicado.

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