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Macron assume Presidência e promete devolver a confiança aos franceses

Centrista de 39 anos sucede o socialista François Hollande uma semana depois de ter derrotado nas urnas a líder da extrema-direita Marine Le Pen

Agência France-Presse
postado em 14/05/2017 11:18
Centrista de 39 anos sucede o socialista François Hollande uma semana depois de ter derrotado nas urnas a líder da extrema-direita Marine Le Pen
O novo presidente da França, Emmanuel Macron, prometeu neste domingo "devolver a confiança" aos seus compatriotas e relançar a União Europeia, em seu discurso de posse no palácio do Eliseu.
Macron, um centrista pró-europeu de 39 anos, sucede o socialista François Hollande uma semana depois de ter derrotado no segundo turno das eleições a líder da extrema-direita Marine Le Pen.

O ex-banqueiro, que nunca antes havia se submetido ao veredicto das urnas, foi proclamado chefe de Estado por Laurent Fabius, presidente do Conselho Constitucional.

"Para ser o homem de seu país, é preciso ser o homem de seu tempo", disse Fabius, fugindo da tradição para citar o escritor Chateaubriand. "Sem dúvida, você é um homem de nosso tempo, por suas decisões, por sua formação, por sua carreira e até por seu estado civil", disse.

"E pela eleição soberana do povo, agora é, sobretudo (...) o homem de nosso país", acrescentou diante de uma centena de convidados.

Em seu primeiro discurso como presidente, Macron afirmou que os franceses elegeram "a esperança e o espírito de conquista".

Este homem que há três anos era praticamente um desconhecido também prometeu que a União Europeia, atingida pela saída iminente do Reino Unido, será reformada e relançada durante seu mandato.

"O mundo e a Europa precisam da França agora mais do que nunca e precisam de uma França forte com um senso de seu próprio destino", declarou.

Brigitte Macron, de 64 anos, que foi sua professora e mais fiel aliada em sua conquista do poder, ouviu emocionada o discurso de pouco mais de 10 minutos de seu marido.

A agora primeira-dama vestia um conjunto azul da Louis Vuitton, de um tom muito similar ao utilizado por Melania Trump na posse de seu marido em janeiro.

No fim da cerimônia, 21 salvas de canhão foram disparadas em homenagem ao novo presidente a partir do Palácio dos Inválidos, na outra margem do rio Sena.

Macron se dirigiu posteriormente à Champs Élysées. Sob uma chuva fina, percorreu esta famosa avenida parisiense em um veículo militar descoberto até o Arco do Triunfo, onde depositou flores no Túmulo do Soldado Desconhecido.

Durante a tarde, irá à prefeitura de Paris, uma parada tradicional para todos os líderes franceses que saúdam a cidade anfitriã.

Cerca de 1.500 policiais foram mobilizados para a ocasião perto do palácio presidencial. As ruas próximas estavam bloqueadas.

;Boa sorte;

O presidente em fim de mandato, François Hollande, que se reuniu com Macron por mais de uma hora para a transferência de poderes oficial, saiu do Eliseu sob os aplausos dos funcionários e do novo presidente, que o acompanhou até seu carro.

"Boa sorte", disse Hollande a Macron, que foi seu ex-conselheiro e ex-ministro da Economia, ao se despedir.

O socialista, de 62 anos, terminou seu mandato de cinco anos como um dos chefes de Estado mais impopulares da França, deixando para trás um cenário político complexo.

Seu índice de reprovação sem precedentes o levou a desistir de concorrer à reeleição, algo inédito desde 1958.

"Deixo a França em um estado muito melhor do que o que encontrei", tuitou neste domingo o já ex-presidente, ressaltando as provas terríveis que precisou enfrentar.

Desde janeiro de 2015, uma onda de atentados reivindicados ou inspirados em grupos extremistas deixaram 239 mortos na França.

Hollande entregou as chaves do Eliseu mas, diferentemente de seu antecessor Nicolás Sarkozy, não anunciou sua retirada da vida política. "Na vida nunca se deve dizer nunca", afirmou.

Quem será o primeiro-ministro?

O novo chefe de Estado, que deve ainda enfrentar as urnas nas difíceis eleições legislativas nas quais seu movimento político buscará a maioria absoluta para poder aplicar sua ambiciosa agenda de reformas, prometeu também "unir" os franceses, cada vez mais céticos com a globalização e com a Europa.

"As francesas e os franceses que se sentem esquecidos por esse grande movimento do mundo deverão sentir-se mais protegidos", disse ele, que ganhou com folga as eleições presidenciais apesar do resultado histórico da líder da extrema direita Marine Le Pen.

O ex-banqueiro, que nunca antes havia se submetido ao veredito das urnas e que conquistou o poder com um programa "nem de direitas nem de esquerdas" sem um partido político estruturado, prometeu reformar "profundamente a vida política" em um país muito dividido, com um desemprego endêmico (10%) e ainda sob o estado de emergência devido às ameaças terroristas.

Na segunda-feira, prevê-se que Macron nomeie o novo chefe de governo, que dirigirá a batalha das legislativas de junho pelo movimento presidencial "A República em marcha", no que será um teste sobre seu desejo de recompor a política.

Emmanuel Macron guardou segredo em sua eleição, mas o nome mais cogitado é o de Edouard Philippe, um representante da direita moderada próximo ao ex-primeiro-ministro conservador Alain Juppé.

No domingo pela manhã, durante uma cerimônia muito protocolar, o novo presidente assumiu suas funções no Eliseu, na presença de sua esposa Brigitte Macron, de 64 anos, que vestia um conjunto azul da Louis Vuitton, de um tom muito similar ao utilizado por Melania Trump na posse de seu marido em janeiro.

Visita aos soldados

Após 21 salvas de canhão, disparadas em homenagem ao novo presidente a partir do Palácio dos Inválidos, Macron se dirigiu posteriormente à Champs Élysées.

Sob uma chuva fina, percorreu a famosa avenida parisiense em um veículo militar descoberto até o Arco do Triunfo, onde depositou flores no Túmulo do Soldado Desconhecido, na presença de chefes militares e depois visitou os soldados franceses feridos nas operações.

Para o jovem presidente que não fez serviço militar é importante colocar-se rapidamente no comando do exército, muito mobilizado contra os grupos extremistas do Sahel ao Oriente Médio. Macron deverá visitar os soldados destinados para operações até o final da semana.

Após essas primeiras atividades, à tarde Macron se dirigiu ao Hôtel de Ville de Paris, a prefeitura, que é considerada uma parada tradicional para todos os líderes franceses que saúdam a cidade anfitriã.

Depois de um mandato marcado por uma impopularidade recorde, François Hollande, de 62 anos, disse neste domingo que deixa "a França em um estado muito melhor do que o que encontrei", após a saída de seu antecessor Nicolás Sarkozy, em 2012.

Primeira parada: Berlim

A primeira semana de Macron na presidência da França será movimentada.

Na segunda-feira, deve revelar o nome de seu primeiro-ministro, antes de voar a Berlim para se reunir com a chanceler alemã, Angela Merkel.

Macron, um fervoroso europeísta, quer impulsionar uma cooperação mais estreita com a primeira economia da zona do euro para ajudar o bloco a superar a saída iminente do Reino Unido, outro de seus membros mais poderosos.

Também quer propor aos seus sócios a criação de um Parlamento e um orçamento para a eurozona.

Depois, Macron planeja realizar uma visita às tropas francesas, possivelmente na África.

Em junho, enfrenta difíceis eleições legislativas, nas quais seu movimento político buscará a maioria absoluta para poder aplicar sua ambiciosa agenda de reformas.

Seu movimento, A República em Marcha, apresentou uma lista paritária de 428 candidatos, na qual a metade são novatos na política.

Macron venceu uma das eleições francesas mais imprevisíveis da história moderna do país, marcadas por escândalos, múltiplos sobressaltos e um ataque informático em massa contra a sua campanha.

Herda um país profundamente dividido, com grandes desafios pela frente, como a luta contra o desemprego e o terrorismo.

Primeiras medidas

A transparência na vida política após os escândalos da campanha presidencial, a reforma trabalhista ou a luta antiterrorista são algumas das primeiras medidas que o novo presidente francês, Emmanuel Macron, deseja aplicar.

Transparência da vida política
Um dia depois de assumir o cargo, Macron anunciará o nome de seu primeiro-ministro e a composição do resto de seu gabinete de 15 ministros.

Um de seus projetos é uma lei de moralização da vida política, que entre outras coisas proíba que os deputados contratem como assessores membros de sua família. Durante a campanha eleitoral, o candidato de direita François Fillon foi envolvido em um escândalo de empregos supostamente fantasmas de sua esposa.

Leis e ordenanças
- Nos próximos meses, Macron quer pedir ao Parlamento, em uma sessão extraordinária, para poder legislar mediante ordenanças, um procedimento acelerado para aplicar algumas reformas sem a necessidade de debatê-las nas duas câmaras do Parlamento (Assembleia Nacional e Senado).

- Também quer introduzir mais proporcionalidade na lei eleitoral para que todos os partidos estejam representados na Assembleia Nacional. Ao mesmo tempo, quer reduzir um terço do número de parlamentares, uma reforma que será instaurada nas legislativas de 2022.

Projetos e reformas
- Simplificação da legislação trabalhista mediante ordenanças, especialmente em questões como a jornada de trabalho ou as indenizações por demissão.

- Instauração mediante ordenança de um "direito ao erro" ante a administração, especialmente em matéria fiscal, para que os que se esquecerem de fazer alguma declaração não sejam sistematicamente sancionados.

- Limitar a 12 o número de alunos nas salas de aula do primário (7-8 anos) nas chamadas "zonas de educação prioritária".

- Retorno às aulas bilíngues, suprimidas parcialmente na reforma anterior, nas escolas de ensino médio, para que os estudantes possam aprender as línguas estrangeiras.

Política europeia
- Mapa do caminho de cinco anos para que a zona do euro tenha um "verdadeiro orçamento".

- "Convenções democráticas" na União Europeia no fim de 2017 para refletir sobre "o conteúdo das ações da União" e suas prioridades.

Luta contra o terrorismo
- Debate no Parlamento para prolongar o estado de emergência, prorrogado cinco vezes desde os atentados de Paris de novembro de 2015.

- Criação de um Estado-Maior permanente para operações de segurança interior, inteligência e luta contra o terrorismo, assim como de uma célula especial dedicada ao grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Finanças
- Auditoria sobre as finanças públicas do país, para "poder dispor em meados de junho de resultados".

- Auditoria sobre a reforma em andamento para que os impostos sejam coletados diretamente do salário.

- Nova lei de finanças públicas.

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